.
Na Sagrada Escritura, está: Eis que uma virgem conceberá.
.
.
Devemos confessar, absolutamente, que a Mãe de Cristo concebeu virgem.
O contrário constituiu a heresia dos Elionitas e de Cerinto, que consideravam Cristo como puro homem e o tinham como nascido da união dos dois sexos.
Ora, o ser Cristo concebido de uma virgem foi conveniente por quatro razões.
— Primeiro, para conservar a dignidade do Pai, que o enviou.
Pois, sendo Cristo, natural e verdadeiramente, Filho de Deus, não era conveniente tivesse outro pai, que Deus, a fim de não se transferir para outro a dignidade de Deus.
— Segundo, tal convinha à propriedade do Filho mesmo, que é enviado. O qual é o Verbo de Deus.
Ora, o Verbo é concebido sem nenhuma corrupção da mente; ao contrário, a corrupção da mente não se coaduna com a concepção do verbo perfeito.
Sendo, pois, a carne assumida pelo Verbo de Deus para ser a sua carne, era conveniente fosse também ela concebida sem a corrupção da mãe.
— Em terceiro lugar tal convinha à dignidade humana de Cristo, na qual não devia haver lugar para o pecado, pois devia tirar o pecado do mundo, segundo aquilo do Evangelho:
Eis o Cordeiro de Deus, isto é, o inocente, que tira o pecado do mundo.
Ora, na natureza já corrupta pelo concúbito, a carne não podia deixar de ficar contaminada pelo pecado original.
Por isso, diz Santo Agostinho:
No matrimônio de Maria e de José não houve o concúbito nupcial; pois, na carne do pecado este não pode ter lugar sem a concupiscência resultante do pecado; ora, Deus quis que fosse concebido sem ela aquele que devia ser sem pecado.
– Quarto, por causa do fim mesmo da encarnação de Cristo, que foi fazer os homens renascerem filhos de Deus, não da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus, isto é, pelo poder de Deus.
E exemplo disso devia ser a concepção mesma de Cristo.
Por isso diz Santo Agostinho:
Devia o nosso chefe, por um insigne milagre, nascer, segundo o corpo, de uma virgem, para significar que os seus membros deviam nascer, segundo o espírito, da Igreja virgem.
.
Fonte: São Tomás de Aquino – Suma Teológica – IIIa. Parte, Questão 28, Artigo 1
.
.
* * *