Luís Dufaur/Alejandro Ezcurra
(Traduzido de:tradicionyaccion.org.pe )
O que ninguém esperava:
Emerge na França uma nova geração de católicos cada vez mais conservadores e comprometidos com a renovação moral do país, que com um notável sentido de militância dá as costas ao clero progressista e aos decrépitos “valores republicanos” do laicismo.
O fato não se restringe à França, mas é onde ele se manifesta como a faceta mais saliente de um fenômeno que se tornou mundial (1): uma nova leva de católicos comprometidos com a defesa da instituição familiar e a vigência da moral na sociedade.
Pastores que se distanciam do rebanho
Por suas características, essa juventude causou consternação à própria Conferência Episcopal Francesa. É o que afirma na revista “Figaro Magazine” o vaticanista Jean-Marie Guénois, para quem o episcopado francês está com “má consciência”, por ter cortejado durante décadas o socialismo e o comunismo sob o pretexto de “conquistar a classe operária”.
Mas, após “modernizar-se” a ponto de diluir a identidade eclesiástica tornando-a quase irreconhecível, em fins do século XX a Conferência Episcopal deu-se conta de que com isso havia perdido sua influência sobre uma classe trabalhadora cada vez mais conservadora e refratária à pregação revolucionária.
O órgão episcopal mudou então de estratégia, procurando apresentar uma nova imagem de “Igreja jovem”, dessacralizada e igualitária.
Qual foi o resultado?
“Hoje – diz Guénois – ele pode ter perdido a própria juventude”, ou seja, o setor católico juvenil, inclusive boa parte do clero jovem.
Ele acrescenta que muitos bispos, jactando-se embora de sua argúcia em ler os “sinais dos tempos”, demonstraram uma inexplicável “cegueira” ao ignorar a imensa transformação ocorrida no espírito desses jovens, cada vez mais orientados para os valores familiares e tradicionais.
Podemos mencionar um fato característico, que acompanhamos de perto: enquanto no ano de 2013 centenas de milhares de católicos, em sua grande maioria jovens, tomavam as ruas na França para protestar contra o projeto de lei socialista de “casamento” homossexual, o Conselho Família e Sociedade, do Episcopado francês, movia-se em sentido exatamente oposto.
E em vez de recusar de modo categórico tais uniões antinaturais, exortava a valorizar a “riqueza” contida na amizade homossexual e propunha conceder aos casais do mesmo sexo uma “união
civil melhorada”…
O que significa aí “melhorada”? Para o católico, diante de uma situação de pecado, a única forma possível de “melhorá-la” é abandoná-la, tal como mandou Nosso Senhor: “Não peques mais” (Juan, 5, 14 e 8, 11).
Mas, para o órgão episcopal francês, “melhorar” essas uniões pecaminosas e antinaturais parece ser favorecê-las, dotando-as de um benefício legal.
Saem à luz dissensões entre bispos
Guénois observa que por certo houve bispos que se pronunciaram a favor das maciças mobilizações populares em defesa da moral familiar.
Mas a maioria resistiu a participar das mesmas, e vários continuam cooperando com o governo socialista.
Finalmente, os desacordos sobre o tema acabaram dividindo os bispos. Na sessão plenária anual da Conferência Episcopal, realizada em Lourdes em abril de 2014, os resistentes à linha progressista se desafogaram, como nunca haviam feito antes.
A gota que transbordou a taça foi o convite feito pela Conferência Episcopal à líder feminista
radical Fabienne Brugère para discursar numa jornada nacional de responsáveis pela pastoral
familiar diocesana.
Guénois explica que essa ativista revolucionária é “discípula de Judith Butler, a ‘papisa’ norte-americana da ideologia de gênero”, que chega a considerar as diferenças entre os sexos como inexistentes, uma pura “ficção social”.
Por isso o insólito convite “foi visto, a justo título, como uma verdadeira provocação por vários bispos e delegados diocesanos”. E gerou um terremoto de reações de tal monta, que o evento foi cancelado.
Cifras que retratam uma realidade profunda
Essa juventude conservadora não é um fenômeno surgido do nada, ou das maciças manifestações contra o “casamento” homossexual. Sua origem é mais remota e mais profunda.
Trata-se de uma geração formada num ambiente de renovado apreço pela vida familiar. Ela quer a interioridade, a oração e a cultura – explica Guénois. Por isso não entende a desordem e a vulgaridade que se apoderaram do clero e do culto em muitas paróquias católicas.
Não nasceu dos movimentos eclesiais e não se interessa pelas disputas da época pós-conciliar. Pelo contrário, quer mostrar-se ufana de sua catolicidade.
Segundo duas pesquisas mencionadas por “Figaro Magazine”, 90% dos jovens participantes das gigantescas mobilizações denominadas La Manif pour tous (“A Manifestação para todos”), são católicos praticantes entre 16 e 30 anos.
Seis por cento deles vão à Missa todos os dias.
Para 77%, a devoção eucarística ocupa um papel “essencial” ou “muito importante” na vida. Eles querem entender a Sagrada Eucaristia num sentido genuinamente católico, e não com as distorções modernistas.
Dessa geração, 72% preferem o nome de “católico” em lugar de “cristão”, ao contrário do que sucedia nos anos 70. E 58% se sentem cômodos com o ensinamento moral da Igreja, sobretudo no tocante à moral conjugal.
“Espiritual e cultivada, esta nova geração, que se afirma católica sem complexos, perturba uma parte dos bispos”, diz Guénois, porque ela atua livremente, segura de seus objetivos e desvinculada de um clero que abandonou a dimensão histórica da Cristandade e da cultura católica.
E dos que a compõem, 99% receberam sua formação católica no seio da família, e não em movimentos ligados à Igreja.
Um novo sentido de militância católica
A presença dessa corrente sinaliza o despertar na França de um catolicismo novamente militante, insubmisso aos clichês desgastados da modernidade e desinteressado dos partidos políticos, que a procuram em vão.
Esse desinteresse político-partidário atinge todos os cidadãos de todas as idades e revela-se claramente numa pesquisa do IFOP, dada a conhecer em 11 de maio de 2015.
Segundo ela, dois terços dos franceses (65%) já “não são mais sensíveis aos termos ‘república’ e ‘valores republicanos’”, os quais “não lhes dizem verdadeiramente nada porque … perderam seu valor e significado”.
A “geração inédita” está surpreendendo os próximos e os estranhos. Na raiz desse desinteresse existe sobretudo ceticismo diante “da falta de credibilidade da palavra ‘política’.
Os eleitores se tornaram muito desconfiados. E espera-se que se tornarão ainda mais céticos quando os responsáveis políticos invocarem grandes princípios”, diz Vincent Tournier, do Instituto de Estudos Políticos de Grenoble.
Decepcionada de um lado com os pastores coniventes com uma revolução cultural que agride a fé e a família, e de outro com os políticos exponenciais de uma democracia fraudulenta e esgotada, filha de um laicismo que só gera corrupção, essa juventude católica configura uma “geração inédita”, inesperada, que está surpreendendo os próximos e os estranhos.
Ela se mostra, diz Guénois, como “um sinal precursor de um possível despertar do catolicismo na França. Cobiçada, surpreendente, inspirada, esta geração de insubmissos é um viveiro de talentos que ainda não disse a sua última palavra”.
O que auspicia, em prazo médio, um renascer religioso e cultural a partir do qual a França possa recuperar sua identidade histórica essencial, de “filha primogênita da Igreja”.
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Fontes:
1. JEAN-MARIE GUÉNOIS, ’Cathos’ et rebelles (“Católicos e rebeldes”), “Le Figaro”, 18-4-2014 http://www.lefigaro.fr/actualite-france/2014/04/18/01016-20140418ARTFIG00074-cathos-et-rebelles.php
2. Les Français lassés par les “valeurs républicaines” (“Os franceses fartos dos ’valores republicanos’”), “Le Salon Beige”, 11-05-2015http://lesalonbeige.blogs.com/my_weblog/2015/05/les-fran%C3%A7ais-lass%C3%A9s-par-les-valeurs-r%C3%A9publicaines.html
3. LUIS DUFAUR, Jovens franceses acham ‘fora da moda’ bispos e políticos modernizados, “Instituto Plinio Corrêa de Oliveira”, 27-06-2014http://ipco.org.br/ipco/noticias/jovens-catolicos-franceses-acham-demodes-bispos-e-politicos-modernizados
4. AVENIR DE LA CULTURE, Comunicado de 17-01-2013, «Um fraco rei torna fraca a forte gente», http://www.avenirdelaculture.fr/article/avenir-de-la-culture/communique-%C2%AB-un-roi-faible-affaiblit-le-peuple-le-plus-fort-%C2%BB
[1] Estados Unidos: os jovens e o “grande despertar católico”, Tradición y Acción por un Perú mayor ( http://www.tradicionyaccion.org.pe/spip.php?article226).
2 Comentários
Estou gostando muito désta geração de jovens que não aceitão as doutrinas progressistas, que aceitão casamento ou uniões homoscexuas , ou estão querendo aceitá-las ! Eu creio que é Jesus suscitando nos jovens a verdadeira igreja de Jesus Cristo. Apóio.
Acho bem que os jovens se insurjam contra o progressismo na Igreja mas a Igreja precisa de acompanhar os tempos do futuro e não falo de abortos e casamentos homossexuais, falo de uma Nova Doutrina com os Padres mais próximos dos paroquianos, falando como Jesus falava às multidões que o seguiam! O Papa Francisco está a tentar mudar algumas coisas obsoletas na Igreja, aqueles Cardeais com ideias duma era que não existe! Jesus Ouve os jovens que clamam por Ti!