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No vocabulário de expressões modernas surgiu mais uma novidade: o jogo da “Baleia Azul”.
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Ao contrário do que seu nome sugere, não há inocência por detrás de tal brincadeira. Ela pode até levar um jovem ao suicídio, caso a vítima aceite os desafios propostos por um desconhecido online, controlador do jogo.
No mês de maio último, a polícia encontrou alguns adolescentes à beira de uma rodovia no Distrito Federal.[1]
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Chorando de desespero, eles procuravam cumprir a última etapa da “baleia azul”: atirar-se na frente de um ônibus em alta velocidade!
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Em outros casos, não houve tempo de salvar a vítima.
A onda do macabro jogo é provavelmente passageira e parece que vai saindo “de moda”. Mas um assunto de maior vulto relaciona-se diretamente com ele. Por que adolescentes suicidam-se cada vez mais?
CALCULANDO A DIMENSÃO DO PROBLEMA
Segundo recente artigo da “BBC Brasil”,[2] um estudo baseado em dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, revela dados preocupantes.
A primeira informação: considerando toda a população brasileira, entre 1980 e 2014, houve um aumento de 60% na taxa de suicídios.
Quanto aos dados relativos à população jovem, o mesmo artigo reproduz o que diz o estudo: “Em 1980, a taxa de suicídios na faixa etária de 15 a 29 anos era de 4,4 por 100 mil habitantes; chegou a 4,1 em 1990 e a 4,5 em 2000”.
Já no período entre 2002 e 2014, a taxa subiu de 5,1 para 5,6 por 100 mil habitantes. O estudo conclui: “Assim, entre 1980 a 2014, houve um crescimento de 27,2%” na taxa de suicídios, considerando a mesma faixa de idade.
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Para se ter uma ideia mais concreta do que tais números representam, a mesma pesquisa mostra que em 2014, houve, somente no Brasil, 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos.
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Insisto, pois a questão se impõe: por que tantos jovens acabam com a própria vida?
É importante fazer notar, antes de tudo, que o artigo citado tenta fornecer algumas respostas à pergunta acima, usando declarações de diversos sociólogos e psicólogos.
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Segundo esses especialistas, “o problema é normalmente associado a fatores como depressão, abuso de drogas e álcool, além das chamadas questões interpessoais, violência sexual, abusos, violência doméstica e bullying”.
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De fato, podemos encontrar tais causas por detrás dos suicídios. Contudo, o que impele um jovem a usar drogas, por exemplo, ou o que ocasiona sua depressão? Qual é a raiz da violência doméstica?
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A FALTA DA NOÇÃO DO SOFRIMENTO NA VIDA
O mais fundo do problema reside, sem dúvida, na decadência moral generalizada do mundo contemporâneo. Essa decadência afeta diretamente a constituição da família.
Se a família se desfaz, é inevitável a propensão do jovem para as drogas e a violência, de um lado; e sua menor capacidade, por outro lado, de suportar as dificuldades quotidianas, cujo desfecho pode ser a depressão.
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Há mais um fator, ignorado pelo artigo da BBC: o mundo contemporâneo oferece sem cessar múltiplos divertimentos e prazeres.
Sendo a juventude o grupo que mais deveria se “beneficiar” deles, a lógica conclui que, quanto mais jovem, maior o desejo de aproveitar a vida e, portanto, mais afastada a hipótese de suicídio.
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Contudo, não é o que ocorre na prática. E aqui fica desmascarada uma grande ilusão de nossos dias: quanto mais gozo da vida, mais felicidade. Se assim fosse, deveria haver menos suicídios, sobretudo entre os jovens.
Volto ao jogo da “Baleia Azul”. Supostamente, jovens conectados à internet têm diante de si possibilidades ilimitadas de entretenimento.
Diversões fáceis e constantes, sempre mais almejadas. No banquete frenético de diversões aparece outra: um jogo de desafios cada vez mais ousados. O último deles termina em suicídio.
Assim, a saturação dos prazeres leva à frustração, a qual, por sua vez, provoca a busca intensa de novidades e entretenimento. Diversões, festas e jogos em demasia… decepção, desespero, suicídio!
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E não adianta dizer que os suicídios atingem jovens das classes baixas ou com menos oportunidades na vida.
O artigo mencionado demonstra que jovens considerados de elite, como estudantes de medicina, pertencem também às estatísticas de suicídio.
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E não nos esqueçamos do grande número de viciados em drogas entre a juventude das classes mais altas.
Revela-se aqui uma das maiores causas do suicídio juvenil: a hipertrofia dos prazeres — incentivada pela grande mídia e pela pedagogia moderna, como o ensino da chamada Ideologia de Gênero —, que além de rejeitarem e negarem a ideia do sofrimento e;
Por conseguinte, do pecado, criam um circuito de ilusões na mente dos jovens. O pecado leva a outro pecado, e como consequência surge o fantasma dos problemas de consciência, sofrimento interior… suicídio!
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A ADMIRÁVEL LIÇÃO DE SANTA TERESINHA
O que fazer diante dessa constatação? Talvez uma rápida lição de santidade deite um pouco de luz nessas sombras.
Abro a famosa História de uma Alma, autobiografia de Santa Teresinha do Menino Jesus, e leio o seguinte trecho sobre sua juventude:
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“Tudo, ao redor de mim, era alegria e felicidade; eu era festejada, acariciada, admirada, numa palavra, […] minha vida foi semeada só de flores… Confesso que esta vida tinha encantos para mim”.[3]
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A “pequena santa” [na foto, aos 8 anos de idade] de Lisieux reconhece os atrativos e os prazeres da juventude. Mas logo adiante — algo negado à juventude moderna — vem a reflexão serena e coerente:
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“Aos dez anos o coração deixa-se facilmente fascinar, por isso considero uma grande graça não ter ficado em Alençon; os amigos que tínhamos aí eram muito mundanos, […]
Não pensavam bastante na morte e, no entanto, a morte veio visitar um grande número de pessoas jovens, ricas e felizes, que conheci!!!”.
Eis aí uma lição a ser ensinada aos jovens de hoje. Os momentos de felicidade são transitórios e muitas vezes ilusórios. A vida não se constitui só de prazeres.
E estes devem ser moderados e regulados segundo a moral. É necessário ter diante de si as dificuldades e os sofrimentos de todos os dias.
Saber enfrentá-los reverte-se em eficaz remédio contra a frustração, o desespero, e, por fim, o suicídio.
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Notas:
(*) Fonte: Revista Catolicismo, nº 799, julho/2017. Para se fazer assinatura da revista envie e-mail para: catolicismo@terra.com.br
1. http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/pmdf-impede-suicidio-de-quatro-adolescentes-que-participavam-do-baleia-azul/
2. http://www.bbc.com/portuguese/brasil-39672513
3. Manuscritos autobiográficos, 2ª edição, Cotia – SP, 1960, p. 100.
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Fonte: http://blogdafamiliacatolica.blogspot.com.br
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