Pouco após a meia-noite, a Confraria de Nosso Senhor na sua Sentença e Maria Santíssima das Penas inicia o cortejo desde a igreja de Santa Teresa. No andor, o Bom Jesus ouve a iníqua decisão de Pilatos. Os confrades vestem-se de preto, com capirote e cíngulo vermelhos.
“O povo judaico gemia porque o Messias não vinha. Mas quando veio, se pôs a persegui-Lo. Ele praticou milagres, entusiasmou o povo.
A classe sacerdotal, a classe alta política, teve medo: ‘Quem é este homem que leva atrás de Si as multidões? O que restará do nosso poder? Ele é perigoso para nós!’.
A perseguição começou à maneira muito moderna: por uma guerra de calúnias e perguntas retorcidas, cheias de ciladas, montadas nos laboratórios da insinceridade. A resposta divina era simples, direta, luminosa e pulverizadora!
Pôncio Pilatos só O condenou devido a uma jogada política dos sacerdotes. Disseram eles: ‘Se tu não condenares Cristo à morte, tu não és amigo de César!’ (Jo 19,12).
E Pilatos, mole e de maneira vil, diante da idéia de perder o cargo de governador da Judéia, mandou matá-Lo.
Pilatos começou parlamentando com a populaça, e propôs: ‘Quem desejais que seja solto: Jesus ou Barrabás?’ (Mt 27,17). Barrabás era o chefe de um bando sedicioso.
Era o pináculo da infâmia e do malfazejo. Jesus era símbolo da dignidade do povo judeu. Ele era o descendente de David, a figura mais eminente do Antigo Testamento.
Só tinha passado pela Terra fazendo o bem. Pilatos, sempre centrista, achou que os judeus não seriam tão maus que chegassem a preferir Barrabás a Jesus.
Ele não compreendia que, quando os homens não seguem a Jesus, escolhem quase necessariamente Barrabás.
A primeira e a maior revolução de todos os tempos explodiu na Semana Santa. A revolução é, por definição, uma revolta dos que devem estar em baixo, e devem amar e obedecer aqueles que estão acima.
Nosso Senhor possuía todos os graus possíveis de superioridade sobre todo o gênero humano. A missão dos judeus era reconhecê-Lo como Homem-Deus e submeter-se a seu doce império.
Fizeram o contrário. Não O reconheceram e não Lhe tributaram nem admiração nem obediência, por maldade, por inveja.
Não quiseram a sua Lei, porque eram corrompidos e Nosso Senhor ensinava a austeridade. Revoltaram-se e mataram-No.
Foi a maior das revoluções, porque nunca se praticará tanta infâmia contra uma tão alta autoridade.
A revolução protestante, a Revolução Francesa, a revolução comunista têm seu padrão arquetípico na revolta contra Nosso Senhor, o Rei dos reis.
Que a consideração de nosso Rei enxovalhado encha-nos de adoração e compaixão para com Ele e de indignação para com a revolução que O crucificou”.
Às 12:30h a Irmandade do Santíssimo Cristo da Expiração e Maria Santíssima das Dores desce às ruas.
A túnica e a capa são brancas, com bordas negras, o capirote é preto. No andor principal, encravado no Madeiro, Nosso Senhor entrega sua alma.
No andor seguinte Nossa Senhora, toda em preto e ouro e rendas brancas, apresenta uma espada afundada no coração.
“Nossa Senhora das Dores tem uma chaga no coração. Nunca a alma de uma mãe carregou ferida igual.
Ela é feita de todas as chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Coração Imaculado de Maria, traspassado pela espada, é a porta por onde nós chegamos às chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo.A Confraria de Nossa Senhora das Angústias desdobra magnífico cerimonial de exaltação de Nossa Senhora da Piedade. As vestimentas são brancas com galões e cruzes pretas nas costas. Três meninas vestidas de hebréias portam os atributos da Paixão.
“Nosso Senhor exânime está no colo de sua Mãe virginal. Nossa Senhora é a ‘dona’ daquele cadáver e de todos os méritos infinitos d’Ele. Ela é a dispensadora de todas as graças da Redenção.
Nossa Senhora das Dores apela aos transeuntes de todos os séculos e países: ‘Ó vós todos, que passais pelo caminho, parai e vede se há dor igual à minha’.
Hoje é a Igreja que nos diz: ‘Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há uma dor igual à minha dor’. A Semana Santa é o momento de parar, de suspender a absorvente preocupação conosco, com nossa vidinha, e ver se há uma dor igual à dor da Igreja Católica”.
Tudo passa por meio d’Ela, e por mais extraordinário que seja o valor das divinas chagas, se não for por meio d’Ela, não obtemos nada.
A pungente cena fala-nos da grande pena que Ela teve de seu Divino Filho. Considerando a insondável tristeza de Nossa Senhora segurando o Corpo sem vida de Nosso Senhor, peçamos a graça do senso da Paixão de Jesus Cristo.
Muitos meditam sobre a Paixão com indiferença: ‘O que eu tenho a ver com isso?’. Minha Mãe, fazei que as dores de Cristo sejam as minhas, e dai-me a graça de ter constantemente diante de meus olhos a paixão tremenda que atravessa hoje a Santa Igreja Católica”.
A Confraria de Nossa Senhora da Soledade e Maria Madalena, entoando o Stabat Mater, sai em procissão ao escurecer, revestida de grande luto. Só o peito e a faixa são brancos.
A grande cruz processional é de prata, o estandarte de ouro. Nossa Senhora, toda em preto e ouro, só encontra o consolo de São João Evangelista.
“O Corpo de Nosso Senhor está lívido no sepulcro, completamente isolado. Fato tremendo e admirável é a solidão de Nossa Senhora. Quase sem amigos, Ela está sozinha e na angústia.
Há ocasiões também em que a Santa Igreja pode parecer morta. Mas Ela não morre nunca, e ressurge de todas as suas derrotas e humilhações.
Por mais conspurcada que pareça estar hoje, Ela ressurgirá, e depois do reinado da Revolução virá o Reino de Maria.
Presenciando as alterações, as falsificações e as imposturas que desfiguram a Santa Igreja aos olhos dos homens, compreendemos que Ela segue as pegadas de Jesus Cristo.
Quem entra em certas igrejas e vê, por exemplo, um pastor protestante oficiando junto com um padre católico, a imoralidade dos trajes, a impureza da doutrina, a extravagância das inovações arbitrárias, pode dizer: ‘Nossa Igreja está irreconhecível’.
Na hora em que a causa católica encontra-se como que em estado cadavérico no sepulcro, peçamos que Nossa Senhora nos infunda uma confiança inabalável de que veremos o triunfo do Reino d’Ela”.
No fim da Sexta-feira Santa, tem lugar a Procissão Geral da Semana Santa. Todas as confrarias, com seus andores, estandartes, cortejos, trombetas e tambores, saem desde a igreja de Santa Maria de los Reales Alcázares.
A pompa e o esplendor — trágico e grandioso, sublime e cheio de Fé — dominam as ruas da cidade, num clima de compunção e piedade.
No alvorecer da Sexta-Feira Santa, a Muito Antiga e Ilustre Confraria de Nosso Pai Jesus Nazareno põe-se em movimento. A túnica, capirote, escapulário e cíngulo são roxos, as luvas e sapatos pretos.
À frente, o andor do Nazareno, com o Madeiro às costas. Atrás, Nossa Senhora caminha a seu encontro. Num outro andor, chegam a Verônica e São João Evangelista.
“Nosso Senhor subia, seguindo sua Via Sacra, quando encontrou Nossa Senhora. Ele foi o mais amoroso dos filhos e Ela foi a mais perfeita das mães.
Como Ela há de ter chorado, vendo-O nessa deplorável situação! Como Ele há de ter chorado, vendo-A presenciar o seu infortúnio tremendo!
Cada um de nós tem uma cruz a carregar. Cada um desejaria ser algo que não é, ter algo que não tem, poder algo que não pode, fazer algo que não faz.
É preciso nossa renúncia, para sermos e fazermos o que não queremos, mas que está no sentido da nossa vocação.
Que Nosso Senhor nos dê o amor à nossa cruz, como o que Ele teve à sua Cruz. Em vez de tomar o Santo Lenho com horror, o Redentor abraçou-o e beijou-o, porque com ele cumpriria a sua missão na Terra.
Nossa cruz consiste em cumprirmos nossa missão. Abracemo-la com muitas lágrimas e carinho, dizendo: ‘À força de rezar e de pedir, eu levarei esta minha cruz até o alto de meu calvário!’.
Nossa Senhora acompanhar-me-á, como acompanhou Nosso Senhor, abençoando o meu martírio interior, porque Ela deseja que todos os seus filhos passem por onde passou o seu Filho adorável”.
A Irmandade de Nosso Pai Jesus da Queda e Maria Santíssima da Amargura inicia o seu desfile às 10:30h. A túnica é branca; capirote, capa e cinto roxos. No primeiro andor, Jesus cai sob o peso da Cruz. No segundo, Nossa Senhora estremece de dor.
“Nosso Senhor assumiu todas as formas e graus de dor como um rei que vai para a coroação. Com passo digno, sereno, firme, sem hesitação!
Com uma probidade e uma integridade que lembram o ‘Ecce Ancilla Domini, fiat mihi secundum verbum tuum’ [Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra], a frase pronunciada por Nossa Senhora.
Nada Lhe foi poupado, quer física, quer espiritualmente. Ele ingressou no abismo mais profundo do sofrimento com passo de herói, e apresentou-Se resplandecente de dor ante a justiça do Padre Eterno. Assim salvou o gênero humano.
Como isto é útil para vencer a minha moleza! No caminho oposto àquilo para o que eu tendo, encontra-se toda a sublimidade, beleza e santidade de Nosso Senhor Jesus Cristo!
Em cada passo, aconteceu-Lhe o pior possível. Ele aceitou isso por inteiro, sem um minuto de adiamento. Jamais pediu que tivessem pena d’Ele, ou que adiassem algo.
Caiu debaixo da Cruz, porque suas forças não suportaram o sofrimento. Mas, logo que pôde, levantou-Se e continuou”.
Fonte: Catolicismo
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