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Chegada a Belém. Maria Santíssima e São José não encontram pousada
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Maria Santíssima e São José chegaram à cidade de Belém, no quinto dia de viagem desde de Nazaré. Eram quatro horas da tarde, sábado, num dia inverno, quando àquela hora já se põe o sol e se aproxima a noite..
Entraram na cidade procurando pousada. Percorreram muitas ruas em busca não só de hotéis, mas também de casas de conhecidos e de parentes mais próximos. Ninguém os recebeu, e por muitos foram despedidos com grosseria e desprezo..
Prosseguiram a honestíssima Rainha e seu Esposo, batendo de casa em casa e de porta em porta, entre o tumulto da multidão..
Não ignorava a Senhora que os corações e as casas dos homens estariam fechados para eles. Não obstante, para obedecer a São José, quis sofrer aquele vexame. Para seu recato, estado e idade, o sacrifício daquela andança foi mais penoso do que não encontrar hospedagem..
Passando pela casa do registro público inscreveram-se, pagaram o imposto e a contribuição do tributo real, e assim ficaram livres desta preocupação e de precisar voltar ao registro..
Prosseguiram em busca de pouso. Havendo procurado em mais de cinquenta casas, em nenhuma foram acolhidos. Admiravam-se os espíritos angélicos dos altíssimos mistérios do Senhor, da paciência e da mansidão de sua virgem Mãe, e da insensível dureza dos homens..
Nesta admiração bendiziam ao Altíssimo em suas obras e ocultos desígnios que, desde aquele dia, exaltava a tanta glória a humildade e pobreza desprezadas pelos mortais..
Dirigem-se para a Gruta.
Eram nove da noite quando o fidelíssimo José, cheio de amargura e íntima dor, voltou-se para sua prudentíssima esposa, e lhe disse:.
“Minha dulcíssima Senhora, meu coração desfalece de dor vendo que não vos posso acomodar não só como Vós mereceis e meu afeto deseja, mas nem com o abrigo e descanso que, raras vezes ou nunca se recusa ainda ao mais pobre e desprezado do mundo.
“Sem dúvida há mistério nesta permissão do Céu, que não se movam os corações dos homens para nos receberem em suas casas.
Lembro-me, Senhora, que fora dos muros da cidade existe uma gruta que costuma servir de albergue aos pastores e seu gado. Vamos até lá, e se, por felicidade, estiver desocupada, tereis algum amparo do céu quando nos falta o da terra.”.
Respondeu-lhe a prudentíssima Virgem:.
“Meu esposo e Senhor, não se aflija vosso coração por não se realizarem os ardentes desejos de vosso afeto pelo Senhor. Já que o tenho em minhas entranhas, suplico-vos, por seu amor, que lhe agradeçamos suas disposições. O lugar de que me falais será muito de acordo com meu desejo.
“Mudem-se vossas lágrimas em alegria pelo amor e posse da pobreza, que é o rico e inestimável tesouro de meu Filho santíssimo.
Ele vem dos céus procurá-lo, preparemo-lo com júbilo da alma, pois a minha não tem outro consolo, e o mesmo possa eu receber de vós. Vamos contentes onde o Senhor nos conduz.”.
Os anjos encaminharam os divinos Esposos para lá, servindo-lhes de luminosas tochas, e chegando à gruta encontraram-na desocupada..
Cheios de celestial consolo, louvaram ao Senhor por este benefício..
Fonte: “Mística Cidade de Deus”, Soror Maria de Ágreda, Tomo II – Mosteiro Portaceli – Ano 2001
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