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Que seja Jesus Cristo único Mediador de justiça, a reconciliar-nos com Deus, pelos seus merecimentos, quem o nega? Não obstante isto, compraz-se Deus em conceder-nos Suas graças pela intercessão dos santos e especialmente de Maria, Sua Mãe, a quem tanto deseja Jesus ver amada e honrada.
Seria impiedade negar semelhante verdade. Quem ignora que a honra prestada às mães redunda em glória para os filhos? Os pais são as glórias dos filhos. Quem muito enaltece a mãe, não precisa ter receio de obscurecer a glória do filho. Pois quanto mais se honra a Mãe, tanto mais se louva o Filho, diz São Bernardo. E observa Santo Afonso:
É tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se presta à Mãe e à Rainha. Ao mesmo tempo está fora de dúvida que pelos merecimentos de Jesus Cristo foi concedida a Maria a grande autoridade de ser medianeira da nossa salvação, não de justiça, mas de graça e de intercessão, como bem lhe chamou Conrado de Saxônia com o título de “fidelíssima medianeira de nossa salvação”.
E São Lourenço Justiniano pergunta:
“Como não ser toda cheia de graça, aquela que se tornou a escada do paraíso, a porta do céu e a verdadeira medianeira entre Deus e os homens?”
Portanto, bem adverte Suarez:
“Quando suplicamos à Santíssima Virgem nos obtenha as graças, não é que desconfiemos da misericórdia divina, mas é muito antes porque desconfiamos da nossa própria indignidade. Recomendamo-nos, por isso, a Maria, para que supra sua dignidade a nossa miséria”
Que o recorrer, pois, à intercessão de Maria Santíssima seja coisa utilíssima e santa, só podem duvidar os que são faltos de fé.
O que, porém, temos em vista provar é que esta intercessão é também necessária à nossa salvação. Necessária, sim, não absoluta, mas moralmente falando, como deve ser.
A origem desta necessidade está na própria vontade de Deus, o qual pelas mãos de Maria quer que passem todas as graças que nos dispensa.
Tal é a doutrina de São Bernardino, doutrina atualmente comum a todos os teólogos e doutores, conforme assevera o autor do Reino de Maria.
Segue esta doutrina Vega, Mendoza, Pacciucchelli, Segneri, Poiré, Crasset e inúmeros outros autores. Até Alexandre Natal, aliás, tão reservado em suas proposições, diz ser vontade de Deus que pela intercessão de Maria esperemos todas as graças. Em seu apoio cita a célebre passagem de São Bernardo:
“Esta é a vontade de Deus, que recebamos tudo por meio de Maria”
Da mesma opinião é também Contenson, como se vê do seu comentário às palavras de Jesus, dirigidas a São João, do alto da cruz.
A necessidade da intercessão de Maria provém da sua cooperação na Redenção. Uma sentença de São Bernardo diz:
“Cooperaram para nossa ruína um homem e uma mulher. Convinha, pois, que outro homem e outra mulher cooperassem para nossa reparação. E estes foram Jesus e Maria, sua Mãe”
Não há dúvida, diz o Santo, Jesus Cristo, só, foi suficientíssimo para remir-nos. Mais conveniente era, entretanto, que para nossa reparação servissem ambos os sexos, assim como havia cooperado ambos para nossa ruína. Pelo que Santo Alberto chamou a Maria cooperadora da redenção.
A própria Virgem revelou a Santa Brígida que assim como Adão e Eva por um pouco venderam o mundo, assim também ela e seu Filho com um coração o resgataram. Do nada pôde Deus criar o mundo, observa Santo Anselmo, mas não quis repará-lo sem a cooperação de Maria.
Nessa convicção confirmam-nos muitos teólogos e Santos Padres. Injustiça fôra afirmar que eles, como diz o sobredito autor, exaltando Maria tenham caído em hipérbole e exagerações desmedidas. Tanto uma como outra saem dos limites do verdadeiro. Não podemos, pois, atribuí-las aos santos que falaram inspirados por Deus, que é espírito de verdade.
Permitam-me fazer aqui uma breve digressão, para externar o que sinto. Quando uma sentença de qualquer modo honrosa para a Santíssima Virgem tem algum fundamento e não repugna à verdade, deixar de adotá-la e combatê-la, porque a sentença contrária pode também ser verdadeira, é indício de pouca devoção à Mãe de Deus.
Não quero estar, nem desejo ver meus leitores entre esses pouco devotos de Maria. Desejo pelo contrário vê-los entre os que creem plena e firmemente tudo quanto sem erro podem crer das grandezas de Maria, segundo as palavras do abade Roberto, que conta semelhante fé entre um dos obséquios mais agradáveis a Maria.
Quando não houvesse outro a nos livrar do temor de ser excessivo nos louvores de Maria, bastava Pseudo-Agostinho para fazê-lo. Conforme suas palavras, tudo quanto pudermos dizer em louvor de Maria, é pouco em relação ao que merece por sua dignidade de Mãe de Deus. Confirma isto a Santa Igreja, a qual faz ler na Missa da Santa Virgem as seguintes palavras:
“Bem-aventurada és tu, Santa Virgem Maria, e mui digna de todo louvor”
Voltemos, porém, ao nosso assunto e vejamos o que dizem os Santos Padres sobre a sentença proposta. Segundo São Bernardo, Deus encheu Maria com todas as graças para que por seu intermédio recebam os homens todos os bens que lhes são concedidos. Faz aqui o Santo uma profunda reflexão, acrescentando:
“Antes do nascimento da Santíssima Virgem, não existia para todos essa torrente de graça, porque não havia ainda esse desejado aqueduto: Maria foi dada ao mundo — continua ele — a fim de que por seu intermédio, como por um canal, até nós corresse sem cessar a torrente das graças divinas”
Diz Ricardo de São Lourenço, nas mãos dela está nossa salvação, e, com mais direito que os egípcios a José, podemos nós, cristãos, dizer à Santíssima Virgem: Nossa Salvação está em tuas mãos! O mesmo
escreve o abade de Celes:
“Em tuas mãos foi colocada nossa salvação”
Em termos mais enérgicos acentua-o Pseudo-Cassiano, quando diz sem ambages que a salvação depende dos favores e da proteção de Maria. Quem é protegido por ela, se salva; perde-se quem o não é. Isto leva São Bernardino de Sena a exclamar:
“Ó Senhora, porque sois a dispensadora de todas as graças, e só de vossas mãos nos há de vir a salvação, de vós também depende nossa salvação”
E por isso, razão tinha Ricardo ao escrever:
“Assim como a pedra cai logo que é tirada a terra que a sustém, assim uma alma, tirado o socorro de Maria, cairá primeiramente no pecado e depois no inferno”
Deus não nos há de salvar sem a intercessão de Maria, assevera São Boaventura; pois, assim como uma criancinha não pode viver sem a ama, da mesma forma ninguém se pode salvar sem a proteção de Maria. Tenha por conseguinte a tua alma, exorta o Santo, uma verdadeira sede de devoção a Maria; conserva-a sempre, não a deixes até que vás receber no céu a maternal benção de Maria.
Ó Virgem Santíssima, exclamava São Germano, ninguém pode chegar ao conhecimento de Deus senão por vós, ó Mãe de Deus, Virgem Mãe, ó cheia de graça!
E de novo:
“Se não nos abrísseis o caminho, ninguém escaparia às solicitações da carne e do pecado”
Como só por meio de Jesus Cristo temos acesso junto ao Pai Eterno, igualmente, observa São Bernardo, só por meio de Maria temos acesso junto a Jesus Cristo. E a tal resolução de Deus, isto é, que sejamos salvos por intermédio de Maria, dá o Santo este belo motivo:
“Por meio de Maria receba-nos aquele Salvador, que por meio dela nos foi dado! Dá-lhe, por isso, o nome de Mãe da graça e da nossa salvação”
Que seria, pois, de nós, indaga São Germano, que esperança nos restaria de salvação, se nos abandonásseis, ó Maria, ó vida dos cristãos?
Fonte: Rumo à Santidade
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Ela é a nossa salvação, mas, devemos entregar a nossa devoção a Ela e obedecê-la sempre.
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