“Sabendo Jesus que era chegada a hora de passar deste mundo ao Pai, como tinha amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. (Jo. 13, 1)
Um pai amoroso nunca patenteia melhor a sua ternura e o seu afeto para com o filhos do que no fim de
sua vida,
Quando os vê em torno do seu leito, aflitos e com os olhos em pranto, e pensa que em breve deve abandoná-los.
Tira do seu coração e põe sobre seus lábios o resto da sua vida prestes a extinguir-se, abraça aqueles penhores queridos de seu amor, exorta-os a serem sempre bons, imprime-lhes no rosto os mais ternos beijos, e misturando as lágrimas com as dos filhos, lança-lhes a sua bênção.
Depois manda trazer o que mais precioso possui e dando a cada um uma última lembrança: Tomai, diz, e lembrai-vos sempre do amor que vos tenho dedicado.
Foi exatamente assim que quis fazer conosco Jesus Cristo, verdadeiro Pai de nossa alma e Pai tão amante, que na terra não tem havido, nem jamais haverá outro igual.
Embora em todo o curso de sua vida mortal nos tivesse amado com amor ardente, e nos tivesse dado mil provas de seu amor infinito, todavia, quando chegou ao termo dos seus dias, quis dar-nos a prova mais patente, pela instituição do Santíssimo Sacramento.
E por isso, na mesma noite em que devia ser traído, reuniu os seus discípulos ao redor de si, instituiu a Santa Eucaristia, e disse-lhes para os consolar de sua próxima partida:
Filhos meus, vou morrer por vós, para vos mostrar o amor que vos tenho. Posto que, escondido debaixo das espécies sacramentais, deixo-vos o meu corpo, a minha alma, a minha divindade, a mim mesmo todo.
Numa palavra, não quero nunca estar separado de vós, enquanto estiverdes na terra: “Eis que estou convosco, até a consumação dos séculos”.
– Meu irmão, que tal te parece esta extrema fineza de Jesus Cristo? Não tinha razão Santa Maria Magdalena de Pazzi de chamar Quinta Feira Santa o dia
do amor?
Receber Nosso Senhor
Jesus Cristo não satisfez o seu amor, fazendo-se nosso constante companheiro; quis ainda fazer-se nosso sustento, afim de se unir intimamente à nossa alma, e santificá-la com a sua presença.
E nesta manhã, qual amante apaixonado, que deseja ser correspondido, de dentro da Hóstia consagrada, onde nos observa sem ser visto, está espreitando todos os que se preparam para alimentar-se com a sua carne divina, observa em que pensam, o que amam, o que desejam, e as ofertas que irão apresentar-lhe.
Irmão meu, prepara-te para recebê-lo com as devidas disposições.
Aviva a tua fé na presença real de Jesus Cristo neste inefável mistério; dilata o teu coração pela confiança, lembrando-te de que pode fazer todo o bem, muito te ama e vem a ti exatamente para te enriquecer com as suas graças.
Humilha-te profundamente diante da sua divina majestade, e lembrando-te que no passado, em vez de amares um Deus tão bom, o tens magoado, voltando-lhe as costas e desprezando a sua amizade, pede-lhe perdão e toma a resolução de que para o futuro antes quererás morrer antes de tornar a ofende-lo.
– Mas prepara-te sobretudo para receber Jesus Cristo com amor, e convida-o pelo desejo.
Vinde, ó meu Jesus, vinde depressa e não tardeis. Ó meu único e infinito Bem, meu tesouro, minha vida, meu paraíso, meu amor, meu tudo, quisera receber-Vos com aquele amor com que Vos receberam as almas mais santas e mais amantes, com que Vos recebeu Maria Santíssima.
Uno a minha comunhão de hoje com as suas. – Santíssima Virgem e minha Mãe Maria, eis que vou receber o vosso Filho.
Quisera ter o vosso coração e o amor com que recebíeis a santa comunhão. Dai-me hoje o vosso Jesus, assim como o destes aos pastores e aos santos Magos. Desejo recebê-lo de vossas
mãos puríssimas.
Dizei-lhe que sou vosso servo devoto, porque assim me olhará com o olhar mais amoroso e me apartará mais estreitamente contra o seu Coração, quando vir a mim.
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Fonte: retirado do livro “Meditações para todos os dias e festas do ano” de Santo Afonso de Ligório.