Fisionomia igual não conheço. Tenho-a bem diante de mim, e, movido pelo hábito de tudo observar e explicar para meu próprio uso, fito-a com atenção. E de repente percebo que entro dentro dela.
Sim, essa fisionomia única como que deflui da face e especialmente dos olhos. Envolve-me no ambiente que ela cria. Ao mesmo tempo, convida-me a entrar fundo no seu olhar.
Inscreva suas intenções na Santa Missa em louvor a Nossa Senhora, ligue: 0800 773 1119.
— Que olhar! Nenhum é tão límpido, tão franco, tão puro, tão acolhedor. Em nenhum se penetra com tal facilidade. Contudo, nenhum também apresenta profundidades que se perdem em tão longínquo horizonte. Quanto mais dentro desse olhar se caminha, tanto mais ele atrai para um indescritível ápice interior e profundo. […]
Pode alguém passar a vida inteira caminhando dentro desse olhar, sem jamais tocar nesse vértice. — Caminhada inútil? — Não. Dentro desse olhar não se anda; voa-se. Não se passeia; faz-se peregrinação.
Ao longo desta peregrinação da alma, o olhar, no qual voa, já não o envolve apenas. Mas penetra nele. Quando o peregrino cerra os olhos, julga vê-lo à maneira de luz no mais profundo de si mesmo. Tenho impressão de que, se durante toda a vida ele for fiel nesse vôo, quando cerrar definitivamente os olhos esta luz brilhará no fundo de sua alma por toda a eternidade.
O olhar é a alma da fisionomia — Que fisionomia essa, que tenho diante de mim! A um observador destro ela manifesta uma plenitude de alma maior do que a História, porque toca na eternidade. Maior do que o universo, porque espelha o infinito.
A fronte parece conter cogitações que, a partir de um Presepe e a terminar em uma Cruz, abarcam todo o acontecer humano.
A face toda, o nariz — cuja linha possui um “charme, mais belo do que a beleza”, segundo diz o Poeta — os lábios silenciosos, mas que dizem tudo a todo momento, parecem louvar a Deus em cada criatura, segundo as características de cada uma; e pedir a Deus por toda miséria, como se estivesse a condoer-se das peculiaridades de cada uma delas. Estes lábios têm uma eloquência perto da qual a de Demóstenes ou a de Cícero não seriam senão barulheira. O que dizer da cútis? nívea? O qualificativo diz tudo e não diz nada. Pois para descrevê-la seria preciso imaginar um níveo que deixasse reluzir em sua profundidade, com discrição infinita, todos os matizes do arco-íris, e com isso mesmo inspirasse na alma de quem a contempla todos os encantos da pureza.
Demonstre seu amor a Nossa Senhora, inscreva-se na Missa em louvor a Ela: 0800 773 1119
Sim, peregrinei neste olhar tão cheio de surpresas. E, inesperadamente, percebo que o olhar peregrina ao mesmo tempo dentro de mim. Pobre e misericordiosa peregrinação, não de esplendor a esplendor, mas de carência a carência, de miséria a miséria. É só abrir-me a ele que, para cada defeito ele me oferece um remédio, para cada obstáculo uma ajuda, para cada aflição uma esperança. […]
Leitor. Se crês na descrição que fiz, convido-te a que faças por tua vez esta magnífica peregrinação dentro do olhar da Virgem. Se não crês, vem ver: melhor convite eu não poderia te fazer.
Reza então por ti. Reza pela Santa Igreja, conturbada e atormentada como nunca. E por esse enorme Brasil de Maria.
Fonte: Plínio Corrêa de Oliveira – “Folha de S. Paulo”, 12-11-1976
1 Comentário
Simplesmente um texto que n