O jornal madrilense de orientação socialista El País, a cujo correspondente em Roma foi negado visto para cobrir a viagem de Bento XVI a Cuba, estampou na sua edição online de ontem, 26-03-2012, o artigo abaixo, que julgo oportuno reproduzir na íntegra, responsabilizando-me pela tradução do mesmo.
A presença do Papa Bento XVI representa uma oportunidade única para que o povo cubano se manifeste e exerça pressão sobre a tirania
OSCAR ELÍAS BISCET, “El País”, Madrid, 26 de março de 2012
O Papa Bento XVI foi a Cuba. Trata-se da primeira visita papal a meu país em mais de uma década. Nestes dias Sua Santidade se reunirá com os dois irmãos Castro e seus subordinados, além de trazer uma mensagem espiritual ao povo cubano.
Muitos são os fatores que entrarão em jogo. É uma oportunidade única para que o líder da Igreja Católica use seu prestígio e influência em apoio dos oprimidos e ajude o povo cubano a conquistar sua liberdade e estabelecer a democracia.
Meu país continua estando manejado por um regime brutal que oprime o povo e viola sistematicamente suas liberdades básicas. A ditadura é uma relíquia da Guerra Fria, mas sem uma pressão internacional forte há poucas esperanças de mudança.
Cuba é um Estado policial, no qual os agentes do Governo perseguem e espionam aqueles que defendem os direitos humanos. Os que procuram uma mudança política pacífica são agredidos, detidos e encarcerados arbitrariamente com base em infrações orwellianas, por exemplo, por “falta de respeito para com os símbolos pátrios” ou por “insultar os símbolos da pátria”.
A segurança do Estado vigia de perto a vida diária dos cidadãos e intervém na correspondência, nas ligações telefônicas e nos correios eletrônicos. Não há imprensa livre e o único jornal é o da ditadura. Os jornalistas independentes que desafiam a propaganda estatal são ameaçados e presos.
Nossas reivindicações são simples: respeito à liberdade de expressão, de associação e de reunião, e eleições multipartidárias onde o voto de cada cidadão permita aos cubanos decidir seu futuro.
Os cárceres cubanos são verdadeiros infernos onde existem diariamente violações flagrantes da dignidade humana. Passei 12 anos na prisão. Na última vez fui acusado do que eles chamam de “delitos contra a segurança do Estado”. Meu único “delito” consistiu em solicitar ao Estado cubano que respeitasse os direitos humanos fundamentais de todo cidadão cubano.
O sistema penitenciário de Cuba viola os requisitos mínimos de cuidado dos prisioneiros estabelecidos pelas Nações Unidas. Durante meus anos na prisão, presenciei prisioneiros que eram mantidos até 12 horas e às vezes mais de 24 horas com as mãos algemadas nas costas e os pés acorrentados; prisioneiros nus, sem qualquer respeito ao pudor humano, eram mantidos durante meses em celas sem ventilação, luz natural, água potável ou instalações sanitárias, além do uso de pistolas Taser para torturas físicas e psicológicas. Como forma de retaliação se lhes negava atenção médica.
No meu caso particular, três prisioneiros tentaram assassinar-me em diferentes ocasiões. Dois deles foram contratados por oficiais militares. A perseguição começou na década de 90. Em 1998, numa ocasião em que eu fazia uma apresentação sobre o direito á vida num hospital, uma turba do partido comunista expulsou-me violentamente do recinto. Desde então me foi negado praticar minha profissão de médico. Minha esposa e meu filho foram ameaçados para que me abandonassem e fomos desalojados de nossa casa.
Milhares de cubanos valentes, indiferentes à ameaça da tortura e da morte, fazem frente aos irmãos Castro e exigem seus direitos fundamentais. Suas filas continuam crescendo e eu não estou só nesta luta, mas necessitamos da ajuda da comunidade internacional.
A Primavera Árabe é a demonstração de que é possível a mudança democrática impulsionada pelo povo. Vimos o êxito de movimentos democráticos pacíficos no resto da América Latina e no antigo bloco soviético. Na maioria desses lugares, seu advento teve como resultado a liberdade, a reconciliação nacional e a prosperidade. Podemos obter os mesmos resultados em Cuba e assim o faremos: uma Cuba onde sejamos livres e soberanos. A comunidade internacional tem o dever de ajudar na qualidade de sócia, proporcionando os recursos diplomáticos que nós não podemos reunir a partir de minha pátria.
A visita do Papa é importante porque a Igreja Católica exerceu um papel crucial na expansão e proteção das liberdades cubanas no passado. Minha própria libertação da prisão e a de outros opositores foi negociada principalmente por ela.
Para os que anelamos uma Cuba livre, nossas reivindicações são simples: o respeito à liberdade de expressão, de associação e de reunião, e eleições multipartidárias onde o voto de cada cubano lhe permita decidir sobre seu futuro, num país no qual nenhum cubano seja exilado por suas crenças políticas.
Estes são os blocos de construção de uma Cuba verdadeiramente livre e próspera. A presença do Papa Bento XVI representa uma oportunidade única para que o povo cubano se manifeste e exerça pressão sobre a tirania, para que se realizem eleições livres e multipartidárias e Cuba se una aos países livres e democráticos do mundo. Peço ao Papa Bento XVI que se centre nesta ideia para que ocorra uma mudança rápida em meu país e que possamos viver em liberdade.
Fonte: Blog Sou conservador sim, e daí?
2 Comentários
E pensar que em pleno século xxi,ainda assistimos a tudo isso!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! iInacreditável!E nós cristãos, oque fazemos?Cruzamos os braços,porque,afinal de contas, não é no Brasil que isso acontece, esquecendo que somos corresponsáveis quando fechamos os olhos para o sofrimento do nosso irmão .
Ó Mãe Santíssima e Poderosa coloque sua Mão Santa e Generosa sobre este País,cujos filhos ,cansados de de tantas arbitrariedade se seu gov erno clama por justiça e liberdade.É um país onde as pessoas tem os seus direitos humanos negados,a ameaça de tortura e morte. Suas vozes clamando por liberdade são caladas,pois ao governo está alheio às suas reivindicações humanas.Como é possivel num tempo onde os conhecimentos estão tão avançados,o povo deste país,vive nestas condições hostis e desumanas.Que a Visita do Nosso Querido Papa Bento XVI,leve a nação um pouco de esperança e de consolo na busca de dias melhores ,onde sejam tratados como pessoas humanas e tenham seus princípios acolhidos sem ameaças,atenuando seus sofrimentos. Com a ajuda de Nossa Mãezinha,peçamos as bençãos do Senhor ,para este povo que tanto sofre e implora o apoio dos órgãos internacionais,para superar seus sofrimentos.