Pe. David Fracisquini
As Sagradas Escrituras apresentam muitos casos de possessão diabólica, quando um ou mais demônios se apoderam das pessoas.
No Novo Testamento, o evangelista São Mateus cita o mandado de Jesus Cristo: “Curai os enfermos, limpai os leprosos, ressuscitai os mortos, expulsai os demônios” (Mt 10,8).
Para São Boaventura, a argúcia e a espiritualidade dos demônios os levam a penetrar nos corpos e neles se fixarem; por sua força angélica, eles podem atormentá-los, a menos que o impeça um agente superior, ou seja, um padre exorcista. Adolphe Tanquerey, teólogo francês, assim explica a ação do demônio sobre os homens:
“Cioso de imitar a ação divina na alma dos santos, esforça-se o demônio por exercer também o seu império, ou antes, a sua tirania sobre os homens.
Às vezes […] instala-se no corpo e move-o a seu talante, como se fosse senhor dele, a fim de lançar a perturbação na alma”. A este fenômeno se chama possessão.
O possuído às vezes se contorce, fala palavrões, movimenta-se como se fosse uma serpente, debate-se, quebra tudo ao seu redor, seus olhos se movimentam de modo desordenado, entende com perfeição a língua latina, exerce uma ação demasiadamente grande, faz uso de uma força de que o ser humano é incapaz, impõe a desordem e o desequilíbrio na residência onde vive.
A sua atuação, na cidade ou na região, é como se fosse uma cabeça de ponte para as influências malignas, em oposição à ação benfazeja da Eucaristia no sacrário. Ele exerce sem dúvida uma ação diametralmente oposta à influência sacralizante da Igreja na sociedade.
Isso explica por que as tendências, os humores, os pendores e as inclinações das pessoas da região onde vive o possesso fiquem mais vulneráveis às tentações e às infestações, bem como à aceitação de certas ideias, de chavões, mentiras, boatos e pecados.
Trata-se de uma ação sobre a opinião pública, criando um clima psicológico favorável a atuação dos maus.
O Ritual Romano – livro oficial do cerimonial eclesiástico – explica os sinais pelos quais se conhece
a possessão.
O antídoto eficiente para combatê-la é o exorcismo, feito em nome de Deus e da Igreja. O exorcismo não apenas põe em fuga o demônio, devolvendo a paz à alma, mas abala todo o
edifício satânico.
A doutrina da “comunhão dos santos” ensina que há comunicação espiritual entre os membros da Igreja. Por que não haveria a “comunhão dos condenados”?
Uma figura adequada para retratar esta realidade é a dos vasos comunicantes.
Na comunhão dos santos, uma alma que faça um ato de virtude potencializa todas as virtudes dos fiéis e dos santos.
Na “comunhão dos demônios”, um demônio que se apodera de um corpo comunica a sua perfídia a todos os seus congêneres da Terra, dos ares e
do Inferno.
A possessão de um corpo equivale, portanto, a uma torre de comando através da qual os demônios exercem a sua ação malfazeja para destruir a sociedade. Só o exorcista tem o poder de quebrar esta comunicação entre os demônios e os homens, pois não basta uma simples pregação, um conselho ou uma admoestação. Isto ajuda, mas não basta.
Pela “comunhão dos santos”, o exorcista enxota o demônio com essas palavras:
“Conjuro-te diante de Deus e pela autoridade a mim concedida pela Igreja, retira-te espírito maligno desta pobre criatura, em nome de Deus Pai, em nome de Deus Filho, em nome de Deus Espírito Santo, em nome da Santíssima Virgem e de todos os anjos e santos da Corte Celestial, retira-te, espírito maligno, e não o apoderes mais”.
Esta ação do sacerdote, investido do poder divino e agindo em nome da Igreja, obriga o demônio a se retirar. Aparentemente ignorada, tal ação repercute na Corte celeste, na luta dos bons contra os maus.
Pois se ao vicejar um vício todos os demais vícios ficam motivados e abalam as virtudes que se lhes são opostas, assim também se passa com a virtude: quando uma boa ação é praticada, todas as demais se revigoram.
Com efeito, nenhuma ação do homem é indiferente. Ao deixar o possuído, o demônio se contorce, estertora, lança-se de um lado para outro; a estrutura dos demônios fica abalada pelas consequências daquela derrota. Em contrapartida, os fiéis se sentem fortalecidos nas suas virtudes, e Deus, Nossa Senhora e a Santa Igreja são glorificados.
Fonte: http://www.abim.inf.br/