Bento XVI reafirma atualidade da mensagem de Fátima
Atilio Faoro – Enviado especial
Fátima (Portugal) – “Eu vim como peregrino a Fátima, a esta casa que Maria escolheu para nos falar nos tempos modernos”, disse o Papa Bento XVI dirigindo-se a meio milhão de peregrinos que, no dia 13 de maio, enchiam por completo o recinto do Santuário de Fátima, para assistir a Missa celebrada pelo Santo Padre, no lugar exato das aparições ocorridas entre 13 de maio e 13 de outubro de 1917.
Na homilia, ponto alto da sua primeira visita de quatro dias a Portugal, de 11 a 14 de maio, assegurou o Santo Padre que a “missão profética” de Fátima não acabou. Falando de modo sereno, mostrando boa forma e um rosto sorridente, disse: “Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída. Na Sagrada Escritura, é frequente aparecer Deus à procura de justos para salvar a cidade humana e o mesmo faz aqui, em Fátima, quando Nossa Senhora pergunta: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em acto de reparação pelos pecados com que Ele mesmo é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?».
Depois de dizer que “a linhagem que o Senhor abençoou és tu, amada diocese de Leiria-Fátima” Bento XVI evocou as palavras do Magnificat de que “a sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que O temem” e declarou que a ”prova disto mesmo é este lugar bendito”.
E concluiu: “Mais sete anos e voltareis aqui para celebrar o centenário da primeira visita feita pela Senhora vinda do Céu. Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima.”
Estas últimas palavras foram interpretados pela imprensa portuguesa como uma forma de dizer que o Papa não compartilha da idéia um tanto generalizada de que o triunfo do Imaculado Coração de Maria já se teria realizado com a queda do comunismo e do Muro de Berlin em 1989.
Fátima se impôs à Igreja
No discurso de chegada, no aeroporto de Lisboa, Bento XVI lembrou que o Céu se abriu “precisamente sobre Portugal – como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta”. E explicando porque a Igreja assumiu as aparições de Fátima lembrou que se tratava de “um amoroso desígnio de Deus” que “não dependeu do Papa nem de qualquer outra autoridade eclesial”. “Não foi a Igreja que impôs Fátima – diria o Cardeal Manuel Cerejeira, de veneranda memória –, mas Fátima que se impôs à Igreja”.
E reafirmando que as verdades da mensagem de Fátima são as do Evangelho, acrescentou: “Veio do Céu a Virgem Maria para nos recordar verdades do Evangelho que são para a humanidade, fria de amor e desesperada de salvação, fonte de esperança”.
O Papa denuncia a crise da Igreja
Com coragem o Papa referiu-se a crise atual da Igreja, apontando os inimigos internos como piores do que os externos. “Os ataques ao Papa e à Igreja vêm não só de fora, mas os sofrimentos da Igreja vêm justamente do interior da Igreja, do pecado que existe na Igreja. Também isso sempre foi sabido, mas hoje o vemos de um modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja”.
Como solução o Pontífice insistiu nos apelos da Virgem Maria à penitência e à conversão, tema que foi muitas vezes referido por ele durante as homilias, saudações e discursos proferidos durante a visita. “Em uma palavra, devemos re-aprender precisamente estas coisas essenciais: a conversão, a oração, a penitência e as virtudes teologais. E Nossa Senhora é para nós a garantia visível, materna, da bondade de Deus, que é sempre a última palavra na história”.
E numa resposta direta a campanha mediática atual contra a Igreja e ao Papa a propósito dos abusos de menores, atos de pedofilia e homosexualidade de homens da Igreja, na sua homilia na Missa do Terreiro do Passo em Lisboa, disse o Papa: “Sabemos que não lhe faltam [à Igreja] filhos insubmissos e até rebeldes, mas é nos Santos que a Igreja reconhece os seus traços característicos e, precisamente neles, saboreia a sua alegria mais profunda”.
Quem vencerá esta batalha? A resposta deu o Santo Padre na mesma ocasião: “Queridos Irmãos e jovens amigos, Cristo está sempre connosco e caminha sempre com a sua Igreja, acompanha-a e guarda-a, como Ele nos disse: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Nunca duvideis da sua presença! Procurai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, comungai-O. Buscai diariamente a protecção de Maria, a Mãe do Senhor e espelho de toda a santidade. Ela, a Toda Santa, ajudar-vos-á a ser fiéis discípulos do seu Filho Jesus Cristo”.