Enquanto a luz dos olhos demonstra sanidade física, a luz da inteligência — a nossa fé — significa saúde espiritual.
Jesus Cristo, o mistério do Verbo encarnado, transmitiu o que muitos profetas e reis desejaram ouvir e não ouviram, fez maravilhas que eles cobiçaram ver e não viram, mas coube ao velho Simeão tê-Lo nos braços, e, adorando-O, exclamar cheio de gáudio: “Agora, Senhor, deixai ir em paz o Vosso servo”.
E quantos homens santos de Israel almejaram a dita sublime de ver concretizada aquela promessa de séculos antes de ser colhidos pela morte da carne.
Poder contemplar o Messias entrando em Jerusalém e frequentar o Templo. O que os movia era a mesma graça que o velho Simeão — cheio do Espírito Santo — recebeu ao vê-Lo transpor os umbrais do Santuário.
Simeão olha enlevado para aquele Menino e O recebe de sua Mãe nos seus braços! Com aquele gesto assinalava que a justiça das obras — segundo a Lei antiga — figurada pelas mãos e pelos braços, deveria ser substituída pela graça da humildade e da sublimidade do Evangelho. Mostrava ainda a decrepitude do mundo de então que cederia lugar à infância e à inocência da vida cristã consubstanciada na pessoa daquele Menino.
Simeão disse a Maria: “Este Menino será um sinal de ruína e ressurreição para muitos de Israel. Será alvo de contradição, e uma espada transpassará tua alma para que se descubram os pensamentos de muitos corações”.
E Maria, cuja missão era unida à do Redentor, quando aceitou a maternidade divina conheceu os indizíveis sofrimentos pelos quais o seu Filho passaria.
Com efeito, a Mãe de Deus não foi ferida em seu corpo, mas na alma. Ao dizer que uma espada penetraria o seu espírito, Simeão se utilizou de metáfora para indicar a dor que feriria o Filho de Deus, a ponto de Ele ter se transformado em verme detestado, abandonado e triturado.
Se a carne de Cristo é a carne de Maria, tal espada penetraria igualmente o coração de Maria, e, assim Ela pudesse revelar o segredo do coração de muitos.
Jesus veio para a ruína e ressurreição de muitos. Assim como a luz que irrita os olhos não deixa de ser luz, o Salvador continuará sendo Ele, ainda que muitos se condenem. A salvação é para aqueles que creem. A ruína será para aqueles que não querem mudar de vida e acatar a luz que brilhou nas trevas.
Em nenhum lugar está escrito que a Santa Mãe de Deus foi ferida por uma espada verdadeira, porquanto a espada simboliza a dor moral que atingiria a alma da Virgem ao conhecer o mistério da Paixão e Morte de Seu filho.
A palavra de Deus é tão viva e eficaz que se torna mais penetrante que a espada de dois gumes que trespassou aquele coração materno, causando uma ferida de tristeza, e, ali se estabeleceu como um trono de sofrimento.
A Quaresma é o período próprio para meditarmos a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. A dor no coração de Maria se tornou tão reluzente que A tomou por inteiro, revelando o segredo dos corações e dos pensamentos de muitos aos pés da Cruz. Para uns Jesus era o Filho de Deus; para outros Ele não merecia senão desprezo e ódio.
O autor é sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria – Cardoso Moreira (RJ).