.
Plinio Corrêa de Oliveira – líder católico do século XX.
.
Pediram-me para comentar a Ladainha do Imaculado Coração de Maria.
Esta Ladainha é quase toda ela uma transposição ao Imaculado Coração de Maria do que se diz na Ladainha do Sagrado Coração de Jesus sobre Ele; transposição adequada, porque Nossa Senhora é a perfeita semelhança de Nosso Senhor.
E nessas condições, mutatis mutandis (fazendo as devidas adaptações), dEla se pode dizer muito daquilo que de Nosso Senhor se diz.
Agora, como são muitas as invocações fica impossível, numa só reunião, fazer um comentário de todas, senão tomar apenas uma e analisá-la aqui.
Vamos tomar esta: Coração de Maria, no qual o Sangue de Jesus, preço de nossa redenção, foi formado.
É uma consideração muito bonita e adequada sobretudo para as nossas comunhões. Em geral, pelas leis comuns da reprodução da espécie, é sempre assim, o homem traz consigo algo do sangue de seu pai e algo do sangue de sua mãe.
Mas o preciosíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo foi todo ele exclusivamente formado de Nossa Senhora, como também a carne sacratíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo foi toda formada de Nossa Senhora, porque como se tratou da concepção e do parto de uma virgem, não interveio obra de homem.
E por causa disso se pode dizer muito apropriadamente, com Santo Agostinho: Caro Christi, caro Mariae, a carne de Cristo é de algum modo a própria carne de Maria.
De maneira que em Nosso Senhor Jesus Cristo não havia senão a carne e o sangue de Maria dados para Ele.
Nós compreendemos melhor aí o que pode ter sido o período que Nosso Senhor estava em gestação no corpo de Maria, período em que Ela ia dando todos os elementos vitais para a constituição do corpo do Homem-Deus e em que a união hipostática já existia.
Nós não devemos imaginar que a união hipostática se deu apenas quando Nosso Senhor nasceu, no momento de Nosso Senhor nascer: a partir do momento em que Ele foi concebido, deu-se a união hipostática e a natureza divina se associou à natureza humana e começou a se desenvolver em Nossa Senhora.
Agora, tudo indica – pela lei das reciprocidades e pela lei das analogias – que à medida que Nossa Senhora ia dando seu corpo a Nosso Senhor, por uma reversão, Nosso Senhor ia dando, por assim dizer, Seu espírito a Ela.
E que Ela crescendo numa união com Ele, fabulosamente, de um modo insondável, de um modo que nós nem podemos imaginar como é, mas é positivo que Nossa Senhora era capaz de progresso na virtude e que Ela não cessou de progredir até o último momento de sua vida.
E que, portanto, durante todo esse tempo da gestação Ela teve progressos insondáveis, maravilhosos, que eram como que uma espécie de símile da gestação que se dava nEla.
À medida que Ela dava a carne e o sangue para formar a humanidade santíssima do Filho de Deus, nessa medida também Deus se dava à alma dEla. E por assim dizer ia “divinizando” a alma dEla.
De maneira que quando a obra puríssima das entranhas dEla esteva pronta para nascer na noite de Natal, a união dEla com Ele tinha atingido um ápice insondável. E Ela estava pronta para ser, em todos os sentidos da palavra, a Mãe do Redentor.
De maneira que se pode dizer, de um certo modo, que Ela como mãe gerava o Filho, mas de outro modo se pode dizer que Ele como Filho preparava nEla a mãe perfeita e que, por assim dizer, por um paradoxo, o Filho “gerava” a alma que Ela precisava ter para ser a Mãe Santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esta alma chegou a toda sua perfeição para o papel de Mãe de Deus, exatamente no momento em que Ela teve o Filho de Deus.
.
Foi neste momento que a Virgem deu à luz o Verbo
Compreende-se, portanto, que provavelmente o momento em que se deu o nascimento virginal de Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite de Natal, foi o momento em que houve um êxtase enorme, em que Nossa Senhora foi elevada a uma intimidade superlativa com a Santíssima Trindade.
E foi, naturalmente, nesse momento, que virginalmente ela deu à luz o Verbo.
Nós não devemos imaginar Nossa Senhora como às vezes umas iluminuras apresentam-na – não inadequadamente, porque a pintura não pode representar tudo: Nossa Senhora deitada, meio dormindo, com o filho recém-nascido ao lado.
Não é incorreto representar isso, mas a realidade espiritual que está por detrás disso não fica na representação e a representação é um êxtase, um arroubo, como não houve na vida de nenhum santo e como nem a gente pode conceber que tenha havido, durante o qual a alma dEla chegou a uma espécie de plenitude, à qual se deveriam suceder outras plenitudes;
Porque Ela caminhava de plenitude em plenitude, e aqui sim, num sentido santíssimo da palavra,
de requinte em requinte, para a integridade da santidade que Ela recebeu no último instante de
sua vida.
Foi no momento dessa plenitude que das entranhas puríssimas dEla, virginalmente, até durante o próprio parto, nasceu o filho de Deus.
De maneira que se houvesse um super Fra Angélico, ele deveria saber pintar o quadro de maneira a dar a ideia de um êxtase fabuloso e durante esse êxtase, o nascimento do Filho de Deus.
Aliás, coisa impintável o nascimento propriamente dito, porque não se pode ter ideia de como é que o nascimento virginal ocorreu. O que nós sabemos apenas pela fé é que Nossa Senhora foi virgem antes do parto, durante o parto e depois do parto.
Com essas considerações compreendemos ainda melhor a forma de união entre Nosso Senhor e Nossa Senhora: é uma forma de união estritamente insondável para a mente humana. Não se pode imaginar completamente como era.
E, aproximando-nos de Nossa Senhora, nós nos preparamos melhor para nos aproximarmos de Nosso Senhor Jesus Cristo; nós compreendemos ainda melhor o papel de Nossa Senhora como Medianeira, o papel dEla como intercessora;
Nós percebemos melhor como nos aproximando dEla nós nos aproximamos de alguém de quem Deus está sumamente próximo, tão próximo quanto Deus possa estar de uma criatura; e por isso nós nos preparamos para fazer uma meditação segundo o espírito de São Luís Grignion de Montfort.
Quer dizer, não é considerar apenas a imagem de Nossa Senhora como uma nota histórica, mas ver além da nota histórica a nota sobrenatural e mística: Ela é a porta do céu, Ela é a arca
da aliança.
E assim, como aquele Menino veio a nós por meio dEla, nós podemos chegar àquele Menino só por meio dEla também.
E os nossos pensamentos devem fixar-se sobre Nosso Senhor Jesus Cristo através dEla, com os olhos da mente, como quem, em Maria, considera Jesus. Compreendendo que Jesus é a fonte, e Nossa Senhora é o canal.
.
E perto dos dois está São José.
Qual é o papel de São José? Por mais poderosa que seja a intercessão de Nossa Senhora, quis a Providência que nós tivéssemos intercessores secundários. E entre esses intercessores secundários, São José.
São José, como narram os Evangelhos, passou por uma provação tremenda com a sua perplexidade. Não seria a única provação de sua vida. Nós conhecemos duas. Ele deve ter tido muitas outras. A provação que ele teve com a perda do Menino Jesus no templo também foi uma provação terrível.
E assim como ia havendo uma preparação de Nossa Senhora para Ela ser verdadeiramente a Mãe de Deus, devia ir havendo também uma preparação
de São José para ele tomar inteiramente a situação de pai adotivo do
Menino Jesus.
De pai adotivo que era muito mais do que um pai adotivo, no sentido comum da palavra, porque no sentido comum da palavra há qualquer coisa de contratual.
O pai adota um filho; o filho, se está em idade de razão, concorda com a adoção. Se não é o filho é, pelo menos, os pais do filho que entregam ao outro pai. Mas há qualquer coisa de contratual. Não há mais do que isso. Não há um vínculo de caráter natural.
Ora, se bem que São José não tenha sido o pai natural do Menino Jesus, ele, como esposo de Nossa Senhora, tinha direito verdadeiro ao fruto das entranhas dEla.
Não era uma paternidade convencional, não era uma paternidade estipulada, mas era uma paternidade que, de algum modo, resultava da ordem natural das coisas.
Não porque ele fosse pai natural do Menino, mas porque ele tinha um direito efetivo sobre o fruto do ventre sacratíssimo de Sua esposa. Esse era seu direito de esposo. De maneira que é claro que a alma dele também foi sendo preparada para isso.
E nós devemos admitir que, durante a noite de Natal, também São José recebeu graças extraordinárias.
Podemos compreender isso pensando nos pastores. Quem é que não admite que os pastores, chamados para a primeira adoração, receberam graças extraordinárias?
Ora, se os simples pastores que estavam ali por perto receberam essas graças, como não admitir que a fortiori São José as recebeu muito maiores, pela sua união com Nossa Senhora, pela sua relação com o Menino Jesus?
Então, nós devemos ver nele um intercessor secundário junto a Nossa Senhora, mas grandíssimo entre os intercessores secundários.
Ele é secundário com relação a Nossa Senhora, não em relação aos outros intercessores, em relação aos quais ele ocupa um lugar eminente e talvez o maior dos lugares. Talvez ele tenha sido maior do que São João Batista, do que São João Evangelista, do que todos os outros santos.
Com essa impostação de alma nós devemos comemorar o dia da festa do Imaculado Coração de Maria. Nesse dia devemos fazer com que nos sintamos mais do que nunca filhos de Jesus, filhos de Maria, filhos de São José, filhos adotivos da Sagrada Família.
Portanto, irmãos uns dos outros.
E, portanto, desejosos de termos um acréscimo do afeto recíproco e ao perdão recíproco, que nos levem à generosidade e a renovar toda a nossa boa vontade para com os outros, talvez um pouco cansada pelos desgastes dos dias e
dos anos.
Que Nossa Senhora a todos conceda isso para ficarmos mais unidos e ligados a Ela.
Esse é o voto que a Associação Devotos de Fátima faz a todos os seus associados, cooperadores e simpatizantes por ocasião da festa do Imaculado Coração de Maria.
* * *
.
Fonte: Excertos da exposição do Prof. Plínio Corrêa de Oliveira, feita em 23.12.1968, comentando a Ladainha do Imaculado Coração de Maria.
.
2 Comentários
Jesus e Nossa Senhora são o meu Norte por toda a minha Vida!
Ao Imaculado Coração de Maria, Paz para o Mundo inteiro, paz no coração dos homens de boa vontade! Paz para todos Maria