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Nicholas Carr, autor do livro A geração superficial: o que a internet está fazendo com os nossos cérebros (Editora Agir), afirma em matéria publicada no “The Wall
Street Journal”:
“A inteligência artificial chegou. Os computadores são hoje perspicazes e precisos.
Deslumbrados com nossas máquinas, nós damos a elas todo tipo de tarefas sofisticadas que antes costumávamos fazer sozinhos”.
A consequência, irrefutável e terrível, se encontra claramente expressa no título desse artigo:
“A automação excessiva emburrece”.
Em outras palavras, nossas habilidades só melhoram através da prática, quando as usamos regularmente para superar diferentes tipos de desafios difíceis.
O homem de hoje já foi pitorescamente comparado a “um bípede com a boca aberta” e também — já que estamos neste gênero de comparações — apresenta afinidades com o avestruz que, segundo se diz, quando se aproxima algum perigo, enfia a cabeça dentro da areia para não vê-lo:
“O avestruz continuará com a cabeça metida na areia […] levando sua vidinha, e recitando o seu credo:
Creio num só Deus, o dinheiro onipotente, criador da fartura e da tranquilidade etc.” (Plinio Corrêa de Oliveira, in “Folha de S. Paulo”, 31-1-71).
Sim, faça como o avestruz.
Meta a cabeça dentro da televisão, dentro de uma vitrine ou dentro da tela do computador… E fuja, dessa maneira, da “cruel” realidade objetiva.
Nicholas Carr historia o desenvolvimento dessa espécie de processo:
“A primeira leva de automação aconteceu nos EUA depois da II Guerra Mundial.
Entretanto, nos anos 50, James Bright, professor da faculdade de administração da Universidade Harvard, estudou os efeitos reais da automação e descobriu que as novas máquinas estavam deixando os trabalhadores com funções mais monótonas e menos exigentes.
Uma máquina de tecelagem, por exemplo, não transformava o trabalhador em artesão criativo, mas em um apertador de botões”.
A solução seria fugir da monotonia e partir para a criatividade. Foi o que aconteceu?
O autor citado constata:
“Hoje, estamos aprendendo essa lição em escala mais ampla.
À medida que programas de computador se tornam capazes de analisar e tomar decisões, a automação saiu das fábricas para o mundo executivo.
Os computadores estão assumindo tipos de trabalho intelectual considerados um privilégio de profissionais bem educados e treinados:
Pilotos dependem de computadores para operar um avião;
Médicos consultam computadores para diagnosticar doenças;
Arquitetos os usam para projetar prédios.
A nova onda da automação está atingindo todo mundo.”
Cabe uma comparação com o já referido episódio da automação industrial?
“Evidências mostram que o mesmo efeito negativo que reduziu os talentos nas fábricas no século passado está começando a atingir as habilidades dos profissionais, mesmo os mais especializados.
Os operadores de máquinas de ontem são os operadores de computadores de hoje.”
Horrorizado, o autor comenta o resultado dessa burrificação, em dois terrenos sensíveis: a medicina e a aviação. E no quotidiano?
Em artigo publicado na revista “Diagnosis”, três pesquisadores médicos examinaram o erro de diagnose de Thomas Eric Duncan, a primeira pessoa a morrer de ebola nos EUA. Logo o quê!
Algo análogo, descreve o autor, está ocorrendo com a excessiva automação da aviação.
Enfim, é mais um fato, e o fato é fato.
Apliquemos nossa capacidade mental, para tirar consequências, lembrando-nos de que quem usa, cuida.
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