Servo de Deus Rev. Pe. Júlio Maria de Lombaerde

O decreto, que, desde a eternidade destinava
Maria Santíssima à incomparável honra da
Maternidade Divina,

Encerrava virtualmente um outro desígnio não menos glorioso à esta augusta Mãe, sobre o qual devemos fixar também nossa atenção.

Com efeito, se é certo dizer que a Santíssima Virgem, pela mesma razão de sua vocação, foi elevada a um grau tão elevado de grandeza que nenhuma criatura jamais alcançará, não é menos evidente que desde toda a eternidade Deus lhe destinara um cabedal imenso de graças proporcionadas à sublimidade de suas esplêndidas funções.

É evidentemente isto que se deve concluir da doutrina de São Paulo, ao falar de predestinação: “Aqueles que, diz ele, Deus conheceu em sua presciência infinita, predestinou para serem conformes à imagem de seu divino Filho… Aqueles que Ele predestinou, chamou, e aqueles que Ele chamou justificou” (Rom 8, 29-30).

São Bernardino de Sena, tratando dos grandiosos destinos de São José, amplia assim o pensamento do apóstolo:

“Há uma regra, diz ele, que se deve considerar como geral, ao tratar-se das graças especiais outorgadas a certas criaturas privilegiadas: é que, quando a divina bondade destina alguém para uma missão particular ou a um destino eminente, afora das disposições que este estado exige, lhe confere, ao mesmo tempo, grandiosas prerrogativas para o exercer dignamente”.

Ora, a quem poderemos nós aplicar melhor estas palavras do que à Virgem Maria, que foi predestinada a uma grandeza, a uma missão e a uma dignidade que sobrepuja imensamente o destino de todos os anjos e de todos os
homens juntos?

Devemos, pois, dizer com São Germano de Constantinopla: “Eleita e predestinada, antes da criação do mundo, pelo autor de todos os dons, a bem-aventurada Virgem Maria, por um ato da Bondade infinita, foi elevada à mais alta perfeição.”

Todas as graças reservadas a Maria deviam, portanto, estar em relação com a sua triplica vocação de Mãe de Deus, de co-redentora, de rainha do universo – três títulos que ultrapassam em magnificência e em grandeza tudo que nos podemos representar.

Como Mãe de Deus, Maria receberá todas as graças próprias a torná-la digna de seu sublime destino.

À Mãe de Deus, a plenitude da graça

“Deus devia conceder a sua Mãe a plenitude da graça”, escreveu São Cipriano.

Santo Tomás exprime-se da mesma maneira: “A Santíssima Virgem, diz ele, era a criatura mais intimamente unida a Jesus Cristo, pois que é dela que Ele recebeu a natureza humana; por conseguinte, ela deve ter obtido, de preferência a todas as criaturas, uma plenitude mais completa da graça”.

E já antes dele, Santo Agostinho havia dito: “Nós sabemos que a Santíssima Virgem, em previsão de sua maternidade divina, foi elevada ao auge da graça”.

Tal é também o sentimento dos outros padres da Igreja.

São Bernardino de Sena, entre outras palavras, diz, depois de São Jerônimo, que “todas as graças que foram derramadas, em parte, sobre os outros santos, foram acumulados sobre a pessoa de Maria Santíssima, na medida mais plena e mais abundante”.

“Deus outorgou à Santíssima Virgem, diz o mesmo Bernardino de Sena, tantas graças que mais é impossível conceder a uma criatura, exceto Jesus Cristo”.

Depois disto, ficaríamos espantados de ouvir São Boaventura assegurar que “Deus podia ter criado um mundo mais vasto, um céu mais belo, mas que não podia fazer uma mãe maior do que a mãe de Deus”.

Há ainda um outro título, que merece igualmente todas as nossas homenagens, o qual atrai sobre Maria a plenitude da divina graça.

Destinada, na qualidade de co-redentora, a expiar com o Homem-Deus os pecados do gênero humano, era preciso que Ela, pela sua eminente santidade, ficasse afastada, não somente de todo e qualquer erro, mas ainda da aparência de toda a imperfeição.

Tal é o pensamento que São Bernardino de Sena exprime em seu tratado sobre a Imaculada Conceição da Santíssima Virgem.

Desde que graças especiais são reservadas para a auxiliar no desempenho da penosa missão que Ela aceitou por amor, do mesmo modo seu coração maternal será dotado de uma sensibilidade rara, de uma extrema delicadeza, para mais vivamente sentir todos os sofrimentos do divino Redentor, partilhar suas amarguras e expiar com Ele o pecado da primeira mulher.

Por conseguinte, segundo o pensamento de São Gregório de Nissa, os corações de Jesus e Maria assemelham-se a duas harpas afinadas, vibrando de comum acordo, e das quais uma, apenas é tocada, faz entrar em vibração as cordas da outra.

Todas as dores com que o Homem-Deus será um dia assaltado, serão padecidas por sua divina Mãe, e isto em grau que ultrapassa toda concepção.

Sua alma, exposta aos ardores da caridade infinita, inflamar-se-á pelos filhos de Eva, que geme sob as desgraças e padecimentos, aos quais poder algum humano poderá subtraí-los. Ela terá para com eles uma compaixão tão grande, que chegará a identificar-se com os mesmos, apropriando-se de todas as suas misérias.

Um Céu especial em Maria

Rainha do universo, Maria entrará, um dia, triunfante na glória e na beatutide do Rei eterno, seu divino Filho.

Rainha gloriosa, Maria ocupará no céu, onde todos os eleitos se assentarão sobre tronos, um trono muito mais elevado e mais brilhante que todos eles. Aí ela terá como servidores os anjos e santos.

E para poder ocupar este lugar sublime, de maneira verdadeiramente digna, será de antemão ornada de todas as perfeições que este lugar exige, pois não convinha que esta soberana única fosse ultrapassada ou sequer igualada, sob qualquer respeito, por algum súdito seu.

Rainha feliz, sua felicidade não terá igual, pois ultrapassa aquela que os próprios anjos e santos podem conceber.

Rainha poderosa, Maria governará este imenso universo, de acordo com o Pai imortal dos séculos, e haurirá, à vontade, nos inigualáveis tesouros da
infinita bondade.

Rainha bondosa e misericordiosa, por excelência, esta gloriosa Virgem nada mais terá a fazer, que distribuir as mãos cheias seus benefícios a todos aqueles que nela depositarem inteira confiança.

E todas essas prerrogativas e favores sem número, que aprouve a Deus prodigalizar à Mulher bendita entre todas as mulheres, tem por fim preparar para si mesmo uma morada digna de
sua majestade:

“Deus preparou para si um céu especial em Maria”, diz São Bernardo. E, ainda mais, fez tudo isso para propô-la à admiração e ao amor dos homens.

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Fonte: extraído do livro “Por que amo Maria” do Rev. Pe. Júlio Maria de Lombaerde