Luis Dufaur
O Sudário de Oviedo é uma das relíquias mais importantes da Igreja Católica.
Atualmente está guardado na Câmara Santa da Catedral de Oviedo (Espanha).
Segundo a tradição, o Sudário de Oviedo é a tela marcada por manchas de sangue de um rosto masculino que correspondem ao relato da Paixão de Jesus Cristo.
Este pano envolveu apenas a cabeça do Messias no momento de sua sepultura, de acordo com as práticas hebraicas tradicionais da época, enquanto o Santo Sudário venerado em Turim cobriu a totalidade de seu corpo.
O Sudário de Oviedo não apresenta uma imagem como o de Turim, mas a primeira vista apenas está manchado de sangue e exibe algumas queimaduras de velas.
De forma retangular, ele é um dos objetos fúnebres que envolveram o Senhor, descritos por São João no Evangelho.
Esta preciosíssima peça e o Sudário de Turim teriam sido recolhidos pelo apóstolo São João, que junto com São Pedro constatou que o sepulcro de Jesus estava vazio.
Agora, estudando amostras do Sudário de Oviedo, o grupo de investigação da Universidade Católica de Murcia – UCAM, Espanha, descobriu um grão de pólen que, segundo a palinóloga Marzia Boi, é compatível com a espécie botânica Helicrysum Sp., identificada no Santo Sudário de Turim.
A descoberta foi relatada com luxo de pormenores técnicos pela própria Universidade.
Ficou descartado que o pólen fosse posterior ao enterro, pois se encontra colado ao sangue. Portanto, a flor foi depositada na relíquia num momento em que o sangue ainda estava fresco, e não acrescentada em algum momento posterior da história do Sudário.
O dado permite demonstrar a autenticidade do Sudário de Oviedo, e desmentir a suposição de um falso.
A investigação usou um microscópio de varredura eletrônica de última geração, adquirido pela UCAM para analisar a relíquia em profundidade.
O achado não estava na linha original da investigação, que visava pesquisar o material biológico humano. Foi uma surpresa.
Segundo o Dr. Alfonso Sánchez Hermosilla, chefe da Seção de Histopatologia Forense do Instituto de Medicina Legal de Murcia e diretor da Equipe de Investigação do Centro Espanhol de Sindonologia (EDICES), é mais uma concordância de primeira linha que deve ser somada a uma crescente lista de outras no mesmo sentido verificadas durante o estudo científico de ambas as relíquias da Paixão de Jesus de Nazaré.
Investigações anteriores constataram diversas coincidências.
Por exemplo, as manchas de sangue humano são do mesmo grupo AB no Sudário de Oviedo e no Santo Sudário de Turim, como pôde constatar o estudo de Pierluigi Baima Bollone, professor de Medicina Legal na Universidade de Turim.
Além do mais, as manchas de sangue estão distribuídas de modo matematicamente igual nas duas relíquias, o que só pode ser explicado pelo fato de os dois lenços terem coberto o mesmo rosto num mesmo momento.
O Helicrysum é utilizado como cosmético no Oriente Médio há milhares de anos. No primeiro século da era cristã usavam-no os judeus nos ungüentos para envolver os cadáveres, não espantando sua presença na mortalha do cadáver do Homem do Sudário.
O Dr. Alfonso Sánchez Hermosillo, diretor do EDICES, explicou à agência ACI que “este tipo de pólen tinha um preço mais alto que o ouro e demonstra que o cadáver recebeu o trato conferido a uma pessoa muito influente e poderosa.
Segundo os Evangelhos, utilizou-se uma quantidade importante e custosa de mirra e óleos para envolver o corpo de Jesus Cristo”.
O Santo Sudário exibe impresso o rosto e o corpo maltratados de um homem que coincide com a descrição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Segundo a História da Igreja, os primeiros cristãos levaram consigo o Santo Sudário a fim de preservá-lo da perseguição em Terra Santa.
De Jerusalém, o Sudário de Turim passou através dos séculos por Edessa, Constantinopla, Atenas, Lirey, Chambéry, sendo finalmente levado para Turim, onde se encontra até hoje e onde foi objeto de exigentes investigações.
A análise da procedência dos 57 tipos de pólen identificados no Santo Sudário confirma esse trajeto descrito pela História da Igreja.
Segundo Marzia Boi, a Helichrysum abunda no Sudário de Turim (representa 29,1% do pólen encontrado). Em segundo lugar vem a Cistaceae com 8,2%, e sucessivamente a Apiaceae com 4,2% e a Pistacia com 0,6%, informou o site Vatican insider.
“Todas as plantas mencionadas são de polinização entomófila: seu pólen se desloca com a ajuda de insetos, e não do ar; isso mostra que deve ter havido um contato direto com as plantas ou com os produtos de uso funerário.
Os polens reconhecidos deixaram evidente que o tecido foi provavelmente tratado com óleos e ungüentos, assim como o corpo envolvido”.
Segundo a pesquisadora, “são ingredientes dos ungüentos e óleos mais caros da época, que foram extraordinariamente guardados no tecido”.
O Sudário se encontra em Oviedo desde o ano 812, ou 842, mede 84 + 54 centímetros e sua estrutura têxtil é a mesma do Sudário de Turim.
“Tem a mesma composição, concretamente linho, idêntica espessura das fibras, tecidas a mão” mas “tecidas de modo diferente: em espiga para o Sudário de Turim, e com trama octogonal (tafetá) para o Sudário” de Oviedo, explicou o Dr. Sánchez Hermosilla, citado por Vatican insider.
No Sudário de Oviedo não há nenhuma imagem como no caso de Turim, mas somente manchas de sangue e fluidos corpóreos.
Mas “o estudo morfológico das manchas presentes nos dois panos manifestam uma evidente semelhança”, disse Sánchez Hermosilla.
Segundo ele, o Sudário de Oviedo “envolveu a face do cadáver” antes que todo o corpo fosse envolvido pelo Sudário de Turim.
“Do ponto de vista da Medicina forense, aparece um elevado número de concordâncias entre as lesões que se registram na imagem de Turim e as que podem ser observadas no estudo criminalístico do Sudário de Oviedo.
“Além do mais, todas essas lesões concordam com as descobertas feitas pelo STURP usando o computador analógico VP8”, acrescentou.
Duas relíquias, um único Homem
Para o especialista espanhol, entre as evidências mais importantes se destacam as manchas de sangue provocadas pelos espinhos da coroa, que “aparecem em ambas as relíquias com grande semelhança nas distâncias entre uma e outra”.
Também a superfície “ocupada pelo nariz é muito similar em ambos os lençóis. Nos dois sudários verifica-se ainda, no lado direito do nariz uma zona inflamada com uma superfície de 100 mm² no Sudário de Oviedo, e de 90 mm² no Sudário de Turim”.
Acrescente-se que uma mancha na relíquia de Oviedo “parece compatível com alguma das feridas causadas pelo ‘Flagrum Taxilatum’ [o flagelo usado para torturar o Homem do Sudário] na parte direita do pescoço, e também concorda com algumas marcas do Sudário de Turim na mesma região.
“Na região occipital aparecem manchas de sangue vital, quer dizer, derramadas quando o condenado ainda estava vivo, as quais se assemelham muito nas duas mortalhas e parecem se relacionar com as lesões do couro cabeludo, e além do mais resultam estar de acordo com as lesões que produziria uma coroa de espinhos.
“Na altura da 7ª vértebra cervical, ou vertebra prominens, no Sudário de Oviedo há uma mancha com forma de borboleta e que pode ter sido causada pelos cabelos do cadáver molhado de sangue ainda fresco. Em ambos os lados dessa mancha aparecem outras, causadas por fluidos cadavéricos, que são semelhantes nos dois Sudários.”
Sánchez afirmou que no Sudário de Oviedo há uma mancha que poderia ter sido resultado do orifício de saída da lancetada e que tem seu equivalente no Santo Sudário de Turim, mas que teria passado despercebida pela sua semelhança morfológica com as manchas da flagelação.
Também há sinais indiretos da lancetada, assim como abundantes coágulos de fibrina.
As reconstruções tridimensionais do rosto do Homem do Sudário de Turim concordam com as manchas na relíquia de Oviedo.
“Depois de termos conhecido as proporções cranianas em ambas as relíquias, e depois de feita a comparação, depreende-se que concordam.
“O fato permitiu ao escultor Juan Manuel Miñarro López realizar uma reconstrução do rosto do Homem do Sudário de Turim.
“Essa reconstrução é totalmente compatível com a face do Homem do Sudário de Oviedo, não só pelas proporções antropométricas, mas também pelas lesões traumáticas que as duas apresentam.
“De fato, ficou também verificada a compatibilidade do rosto uma vez esculpido, pois foi colorido nas regiões anatômicas manchadas de sangue no Sudário de Oviedo, e sobre elas foi posto um tecido tomando muito cuidado de modo a descobri-lo logo a seguir para verificar o resultado: as manchas resultantes apareceram muito similares às do pano de Oviedo”, concluiu.
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