Tal vez ninguém esteja melhor posicionado para falar dos milagres de Lourdes do ponto de vista estritamente clínico que o próprio médico, até pouco, responsável do Bureau Médico de Lourdes, Dr. Patrick Theillier.
Formado pela Faculdade de Lille, no norte da França, especialista do aparelho digestivo, trabalhou na Cooperação Militar no Marrocos como Médico Responsável do Hospital de Targuist. Foi professor de cursos de Homeopatia na Universidade de Lille e é detentor de diplomas de Medicina do Trabalho Agrícola, Acupuntura e Homeopatia.
Desde abril de 1998 é o médico permanente do Santuário de Lourdes, Presidente da Association Médical International de Lourdes (AMIL) e redator-chefe do Boletim da AMIL (trimestral de 10.000 assinantes, divulgado em cinco línguas).
Autor de dois livros: Une nouvelle approche biomédicale des maladies chroniques: l’endothérapie multivalente (juntamente com o Doutor Michel Geffard), publicado em 2000 por F-X de Guilbert; e Et si on parlait des miracles…, editado em 2001 por Presses de la Renaissance, Paris, traduzido em Portugal com o título E se falássemos sobre… Milagres? pela editora Sopa de Letras.
O Dr. Theillier recebeu ao enviado especial da revista de cultura católica CATOLICISMO, Sr. Miguel da Costa Carvalho Vidigal, no próprio Consultório Médico de Lourdes. Nessa entrevista, que acrescentamos aqui na íntegra, há dados inéditos que interessarão profundamente a nossos leitores.
Dr. Patrick Theillier — Inicialmente, o trabalho consiste em receber os peregrinos, os doentes, que supõem ter sido beneficiados por uma graça de cura por intercessão de Nossa Senhora de Lourdes. São eles próprios que o dizem e vêm testemunhar esse fato. Eu anoto e procuro investigar se existe a possibilidade de que essa cura seja reconhecida como milagrosa. É a primeira etapa.
A segunda, nos casos que me parecem mais probatórios, inicio uma pesquisa médica, recolhendo todos os documentos anteriores à cura, que é o mais importante e o mais complicado; e os posteriores, para estar bem seguro de que ela realmente existiu. Devo estudar, com todos os médicos que passam por Lourdes, uma causa dessa cura que possa ser natural ou terapêutica. No total, devo dar a volta em torno da questão, para depois propor tal cura à Igreja, a fim de que Ela reconheça o milagre.
O trabalho em meu consultório, que coincide com o tempo entre a declaração voluntária e espontânea daquele que foi curado e o reconhecimento da Igreja, é ao mesmo tempo médico e científico.
Dr. Patrick Theillier — Eu sou o único médico de plantão, mas todos os médicos que passam por Lourdes podem participar desse trabalho. Eu edito uma pequena revista, “Boletim da AMIL”, que é enviada a todos os médicos profissionais da saúde que desejam e aos inscritos nessa associação. Ela tem a tiragem de 10 mil exemplares, em cinco línguas, e é enviada a 75 países.
Dr. Patrick Theillier — Qualquer médico pode entrar na associação, desde que esteja interessado e que não tenha mau espírito. Não pergunto a religião deles. Muitos médicos vêm aqui, evidentemente a grande maioria é católica, mas não obrigatoriamente praticantes. Eles vêm igualmente para fazer pesquisas ou simplesmente com uma finalidade humanitária para ajudar os doentes.
Dr. Patrick Theillier — O Consultório Médico de Lourdes existe desde os anos 1880, há mais de 120 anos! Passaram por aqui 12 médicos responsáveis. Eu sou o décimo segundo. Mas a história da medicina em Lourdes data das aparições. Foi o médico de Santa Bernadete, o Doutor Dozous, que assistiu a várias aparições e também a examinou, juntamente com outros médicos, para ver se ela era sã de corpo e espírito. Este consultório começou realmente nessa época, mas logo ocorreram algumas curas, já durante a época das aparições.
O bispo da época, Dom Laurence, logo após o final das aparições, havia estabelecido uma primeira comissão médica, sob a égide do Dr. Vergès, professor de medicina termal em Montpellier, para fazer as primeiras constatações e o primeiro trabalho de reconhecimento.
Deste modo, o Dr. Vergès estudou todos os primeiros casos durante os três primeiros anos. Isso levou Dom Laurence a reconhecer, em 18 de fevereiro de 1862, as aparições de Lourdes, baseando-se evidentemente no testemunho de Santa Bernadete, que era fundamental, mas também nas curas ocorridas desde então e já reconhecidas pela medicina.
Foram estudados e transmitidos a Dom Laurence mais ou menos 40 casos. Ele reteve sete, que foram assim os primeiros sete milagres de Lourdes.
Continua no próximo post
Fonte: Lourdes