A principal causa da paganização do Natal consiste na atração sempre maior,que as diversões sensuais e pagãs exercem sobre a índole lasciva e desregrada do homem contemporâneo.
A massa das pessoas que assim profanam o Natal não ignora, a respeito dessa data litúrgica, o essencial. Com efeito, quem ignorará que no dia 25 de Dezembro se festeja o nascimento do Salvador, do Homem-Deus que veio remir a humanidade?
Se há tanta profanação do Natal, não se suponha pois que isto acontece porque uma série de pessoas muito boas, mas ignorantes, se esquecem das lições do Catecismo sobre o Natal, mais ou menos como um menino esqueceria uma lição de Geografia. A paganização do Natal não é um “equívoco”: é um pecado.
Entretanto, não deixa de ser verdadeiro que se se insistisse devidamente sobre o exato significado do Natal, quer do ponto de vista estritamente teológico, quer do ponto de vista histórico e social, muito menos campo para suas devastações encontraria no ânimo dos fiéis a paganização contemporânea.
Antes de tudo, é, pois, indispensável que todos tenham bem em mente o que significa precisamente a Encarnação, o papel que ela tem na economia de nossa salvação, a inapreciável honra que conferiu ao gênero humano, e a infinita bondade que Deus manifestou por meio dela.
Muita literatura se tem procurado fazer sobre este assunto em certos jornais e revistas católicos. É muito louvável que se procure comover por esta forma a sensibilidade dos fiéis. Mas é sobretudo importante não esquecer que as emoções duráveis e eficazes resultam muito mais de conhecimentos precisos e claros, de convicções sólidas e substanciosas, do que dos artifícios da literatura ou da retórica.
Fala-se muito hoje em dia de civilização cristã, e esta augusta expressão, de que se tem usado e abusado nos discursos dos chefes de Estado contemporâneos, passou a ser para muitas pessoas uma fórmula absolutamente oca.
A imensa diferença, e, mais do que isso, o radical e insanável antagonismo que existe entre a Cidade de Deus, isto é a civilização católica, e a cidade do demônio, isto é toda e qualquer civilização acatólica, quem a compreende hoje em dia, na massa geral?
Quem compreende que a festa de Natal é, em larga parte, a festa desta civilização que nasce em Belém, na própria gruta em que nasceu o Menino Deus?
Noções esquecidas, noções ignoradas, ou às vezes noções vistas com miopia, que bem confirmam a exclamação da Escritura: “Diminutae sunt veritates a fillis hominum”.
É toda a restauração de uma longa série de conceitos fundamentais que a despaganização das festas de Natal supõe, e é para este trabalho que convocamos o zelo de nossos leitores.