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Num dia muito especial, a festa de Santo Antônio, aconteceu a segunda visita da Virgem Maria em Fátima.
Neste momento, a primeira aparição já havia se espalhado por Portugal e muitas pessoas procuravam os pastorinhos para pedirem orações, esclarecimentos e até mesmo ouvir previsões.
Outros, no entanto, não acreditavam nas crianças, incluindo a mãe e as irmãs de Lúcia, que juntamente com os céticos, hostilizavam a pequena pastorinha.
Thomas Walsh, em seu célebre livro Nossa Senhora de Fátima, baseado nos próprios relatos de Lúcia, em 1947, trata fatos interessantes sobre a vida das pequenas crianças fora das aparições.
Esse é o relato dos momentos que antecederam a segunda aparição de Maria Santíssima, no dia 13/06/1917:
“Festa de Santo Antônio. Os pastorinhos de Aljustrel levaram o rebanho para o pasto muito mais cedo do que costumavam.
Lá pelas 9 horas estariam de volta, a fim de chegarem a tempo para a missa cantada das dez.
Antes mesmo que o sol começasse a tingir o céu lá pelo lado do poente, já as ovelhinhas estavam para fora do aprisco.
Lúcia tinha já, talvez, atingido a charneca, mordiscando o pão preto – os pastorinhos de manhã comiam assim, sem se sentarem a mesa – quando seu irmão Antônio lhe corre no encalço.
Havia gente em casa à procura dela.
Confiou o rebanho ao irmão e apressou-se em voltar.
Encontrou a casa cheia de gente, homens e mulheres, procedentes de diversos lugares […] a história da aparição de maio já correra pelas montanhas.
Muitos acreditavam nela. Outros eram apenas curiosos.
Um bom número levantara-se cedo para acompanhar as crianças, montanha acima, até a Cova da Iria. Lúcia estava contrariada.
Disse, entretanto, aos visitantes que, se quisessem acompanhá-la, teriam de esperar a sua volta da Missa.
E partiu para Fátima. Esperaram, pacientes, mais de duas horas junto à figueira, perto da casa.
Naturalmente, a presença de toda essa gente desagradou Maria Rosa (mãe de Lúcia) e as filhas mais velhas.
Comentários mordazes e palavras ásperas foram lançados como invectivas contra esse povo em geral e contra essa folia das crianças, em particular. Os peregrinos não desanimaram.
Esperaram tranquilamente passeando, rindo e conversando, despreocupados, até Lúcia voltar da Missa.
A caminho do local das ApariçõesSeriam aproximadamente 11 horas quando a menina, finalmente, saiu de casa, ladeada dessa gente estranha.
‘Sentia-me amargurada nesse dia’, recordou Lúcia posteriormente: ‘o desprezo de minha irmã e a animosidade de minha mãe cortavam-me o coração.
Lembrava-me do tempos passados e perguntava a mim mesma onde estava afeição que minha família me devotava, não havia muito tempo.
E agora ser assim, seguida por toda essa gente desconhecida a me assediar de perguntas’.
Começou a chorar ao longo do caminho. Trazia ainda os olhos marejados de lágrimas ao chegar a casa dos Martos (Jacinta e Francisco).
‘Não chores’, disse Jacinta ao percebe-lhe os olhos úmidos e o tremor comovido dos lábios.
‘Certamente são estes os sacrifícios que o Anjo disse que Deus nos mandaria.
É por isso que sofres: em reparação e para converteres os pecadores!’.
Lúcia enxugou as lágrimas.
Seguidos do povo, dirigiram-se apressadamente pela estrada a fora e lá se foram os três, galgando as montanhas, atravessando as campinas, durante cerca de meia hora.
Na Cova da Iria, já outro grupo esperava por eles. Eram curiosos e devotos procedentes das choupanas próximas e de lugares distantes […] cinquenta pessoas ao todo.”
Rezaram um terço juntos quando iam começar a Ladainha de Nossa Senhora os pastorinhas viram um forte relâmpago e correram para debaixo da Azinheira.
Os ali presentes cercaram-lhe e então se deu a segunda aparição de Nossa Senhora de Fátima.