Santo Afonso de Ligório
Uma terceira prova da verdade de nossa fé é a fortaleza dos mártires, prova essa ainda mais brilhante que a dos milagres.
Quinze imperadores romanos empregaram durante muitos anos todas as suas forças para exterminar a religião cristã.
Sob o império de Diocleciano, que declarou a nona perseguição, foram trucidados, em um só mês, 17 mil cristãos, sem contar os milhares e milhares que foram desterrados.
Segundo o cômputo de Genebrardo, o número dos mártires que perderam a vida nas dez grandes perseguições, se eleva a 11 milhões, de modo que, distribuindo-os para cada dia do ano, teremos 30 mil mártires para cada dia.
Apesar de martirizarem a estes confessores de Cristo de toda a maneira imaginável, dilacerando-os com unhas de ferro, queimando-os em grelhas incandescentes, aplicando tochas ardentes a seus corpos, atormentando-os com outros horrores, o número dos que estavam prontos a morrer por sua fé, não diminuía, antes crescia cada vez mais.
Tibério, governador da Palestina escreveu ao imperador Trajano que se ofereciam tantos cristãos ao martírio que era impossível supliciar a todos.
Trajano publicou então um edito que mandava deixar em paz os cristãos.
Agora pergunto:
Se não fosse verdadeira essa fé professada pelos mártires e até hoje pela Santa Igreja, e se Deus não os tivesse assistido como poderiam suportar aqueles horrendos tormentos e submeter-se a uma morte tão cruel?
Os Mártires – provas da autenticidade da Igreja
Que mártires, porém, podem apresentar as seitas separadas da Igreja Católica?
Possuem elas talvez um S. Lourenço que, enquanto era assado na grelha, transbordava de alegria, oferecendo por gracejo ao tirano em pasto seus membros assados pelo fogo?
Possuem talvez um S. Marcos ou Marcelino, cujos pés foram transpassados com cravos e que responderam ao juiz que os aconselhava a renunciarem a fé para verem-se livres de tal tormento:
“Falas em tormento e nós nunca sentimos tão grande alegria como agora que padecemos por Jesus Cristo!”
Possuem talvez um S. Processo ou Martiniano, cujos corpos foram queimados com chapas de ferro em brasa e dilacerados com pentes de ferro e que, apesar disso, cantaram sem interrupção os louvores de Deus e exprimiram um desejo ardente de morrer por Jesus Cristo?
A estes mártires da antiguidade se associaram como gloriosos êmulos inumeráveis homens e mulheres dos últimos tempos, que ofereceram sua vida pela fé, entre os mais horrorosos tormentos que a ferocidade humana podia imaginar.
Quantos não morreram que século XVI, no Japão?
Entre os fatos memoráveis da horrenda perseguição havida nesse país, contam-se os seguintes:
Uma mulher, chamada Mônica, que desejava ardentemente o martírio, exerceu-se de antemão na tolerância de todas as penas que os carrascos lhe poderiam infligir.
Tomou uma vez nas mãos um ferro em brasa e, ao indagar-lhe a irmã: Mônica, que fazes? respondeu:
Preparo-me para o martírio. Já combati contra a fome, e venci; agora experimento o fogo, para que possa suportar os tormentos do mesmo se um dia tiver de sofrer os seus horrores.
Uma outra mulher disse a suas companheiras: Estou firmemente resolvida a dar a minha vida pela santa fé.
Se, porém, me virdes tremer em presença da morte, arrastai-me então a força diante dos carrascos, para que possa participar também da vossa coroa.
Um menino chamado Antônio, respondeu a seus pais, que, com lágrimas, queriam induzi-lo a renunciar a fé:
“Deixai de me atormentar com as vossas palavras e queixas, que estou mesmo resolvido a morrer por amor de Jesus Cristo.”
E, pendente da cruz, a exemplo de seu divino mestre, entoou o salmo: Louvai, meninos, o Senhor, cantando-o até ao Glória Patri, morrendo em seguida, para ir terminá-lo no céu.
Um outro menino disse a seu pai: Prefiro sofrer a morte às mãos do carrasco, e, mesmo por tuas próprias, que faltar com a obediência a Deus; eu não quero lançar-me no inferno para agradar aos homens.
Um criado disse a seu senhor:
Eu sei quanto vale o céu, e já que o martírio é o caminho que mais diretamente a ele conduz, escolho-o com alegria, e faço tão pouco caso de minha vida como do pó que calço aos pés.
Uma mulher chamada Úrsula, tendo visto morrer mártires seu marido e dois de seus filhos, exclamou, com lágrimas nos olhos:
“Agradeço-vos meu Deus, porque julgastes digna de oferecer-vos este sacrifício. Concedei-me também a coroa que orna os meus.
Agora só tenho esta inocente filhinha que trago nos braços; eu vô-la ofereço com minha própria pessoa; recebei benignamente este último sacrifício que vos ofereço.”
Dizendo isto, apertou a filha ao coração e, com um só golpe, caíram as cabeças da mãe e da filha.
Uma outra mãe repetia sem cessar a seu filho, que com ela estava amarrado na cruz: Coragem, meu filho, estamos no caminho do céu. Repete sempre: Jesus! Maria!
Um fidalgo, de nome Simeão, exclamou: Que felicidade a minha de poder morrer por meu salvador! Como mereci eu esta graça!
Uma menina de oito anos, cega apegou-se fortemente às saias de sua mãe, para poder morrer com ela juntamente na fogueira.
Um pequeno de cinco anos foi despertado do sono para ser conduzido à morte.
Sem mostrar a mínima inquietação, vestiu a sua melhor roupinha e foi levado pelos carrascos ao patíbulo.
La chegado, ele mesmo ofereceu seu pescoço ao carrasco.
Este, porém, à vista do menino, ficou tão comovido que não pôde desempenhar seu encargo. Veio um outro, que só depois de vários golpes tirou-lhes o fio da vida.
Estes fatos todos foram comprovados por inimigos declarados da nossa Santa Igreja.
(Continua…)
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Fonte: osegredodorosario.blogspot.com