4º grupo: Noemi, Resfa e a mãe dos Macabeus: “A Virgem Dolorosa”
Nossa Senhora é salientemente a Virgo Dolorosa — a Virgem das Dores. Esta característica teve também suas prefiguras.
X – Noemi (“formosa”) — Mara (“amargurada”)
A história de Noemi é na Sagrada Escritura narrada no Livro de Rute. Noemi residia em Belém. Em decorrência de forte carestia, viu-se obrigada a emigrar, juntamente com seu esposo e dois filhos, para as terras de Moab. Lá Noemi perdeu seu esposo e seus filhos, ficando só na terra.
Após dez anos, viúva e sem filhos, Noemi volta para Belém, acompanhada de uma de suas noras, Rute, sua única consolação. Conseguiu casar Rute com um rico senhor, de nome Booz, parente de seu falecido esposo. Desse matrimônio nasce Obed, pai de Isaí, avô de David.
As desventuras da vida de tal maneira alteraram a fisionomia de Noemi que as pessoas de Belém não a reconheciam e, ao vê-la, perguntavam se era aquela a Noemi. Devido a isso trocou o seu nome de Noemi — que quer dizer “Formosa” — para o de Mara, que significa “Amargurada”: “Ne vocetis Noemi, id est pulchrum, sed vocate me Mara, id est amaram”–– Não me chameis Noemi, isto é, formosa, mas chamai-me Mara, isto é, amargurada (Rt 1, 20).
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XI – Resfa: guarda os cadáveres de seus filhos crucificados
Resfa(13) foi esposa de Saul. Ocorreu que após a morte de Saul houve uma carestia de três anos seguidos. Por revelação, o rei David soube que se tratava de um castigo de Deus pelas iniqüidades cometidas por Saul contra os gaboanitas. Como reparação, os gaboanitas exigiram que lhes fossem entregues os descendentes de Saul, dentre os quais os dois filhos de Resfa.
Estes foram então aprisionados e crucificados pelos gaboanitas. Resfa, porém, estendeu um pano sobre uma pedra e permaneceu perto dos cadáveres de seus filhos durante seis meses. De dia defendia-os das aves do céu, e de noite defendia-os contra as feras da terra. Ela só os abandonou depois que o rei David mandou levá-los para o sepulcro.
Valores a serem particularmente assinalados em Resfa:
•mãe desolada;
•função atroz (guardar os cadáveres dos filhos sob todas as intempéries e contra todos os ataques de animais);
•e amor enérgico (foi até o fim).
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•seus filhos foram, e são, atacados pelos inimigos (mundo, demônio, carne);
•foram atados aos pecados mortais e aos vícios;
•Ela permanece com eles e lhes aplica os frutos da Redenção.
XII – A mãe dos Macabeus: “Mãe, formadora e encorajadora de mártires”
Palavras da mãe dos Macabeus(14) ao seu filho mais novo: “Meu filho, pelo amor que me tens, pois que te trouxe em meu seio, amamentei e nutri até hoje… olha o céu… não temas o carrasco, mostra-te digno de teus irmãos e recebe a morte de bom coração, a fim de que, pela misericórdia de Deus, possa eu tornar a ver-te na glória que esperamos” (2 Mac 7,27-29).
Por fim, ela mesma foi entregue ao martírio.
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Em conferência no dia 1º-8-69, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, referindo-se à epopéia dos Macabeus, comentou: “O episódio, em última análise, é este: os filhos dela foram intimados a praticar atos de idolatria, numa situação em que não deixava de ter alguma coisa de parecido com os dias de hoje. Os meninos se negaram ao ato de idolatria que estava sendo exigido e foram mortos.
“Os Macabeus ficaram como símbolo da fidelidade. Eles ficaram, em relação à impiedade, o símbolo da Cruzada, da luta religiosa, da guerra e da contradição religiosa. De maneira que todos os séculos os veneram.
“Essas crianças foram animadas por mãe admirável para o martírio. E elas são, até certo ponto, a prefigura de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Mártir dos mártires.
“E a mãe deles é uma prefigura de Nossa Senhora. Ela ajudou e apoiou o seu Divino Filho — com o seu carinho, com sua presença — no momento tremendo em que Ele carregava a cruz, em que foi levado para o alto do Calvário.
“Fala-se do Cireneu, que ajudou Nosso Senhor a carregar a cruz. Que linda vocação!
“Quanto mais Nossa Senhora ajudou Nosso Senhor a carregar a cruz, com a presença, com o carinho e com a oração d’Ela! Alguém poderá algum dia dizer: que vantagem incomparável houve para Nosso Senhor, pelo fato de que Nossa Senhora esteve presente. Ela fez com seu Divino Filho — conservadas as distinções necessárias — o que fez a mãe dos Macabeus. Ela O apoiou, para o martírio, até o último momento.
“Nós estamos numa época de luta de idéias e de princípios. Devemos nos lembrar de imitar os Macabeus, símbolos da fidelidade.
“E devemos pedir a Nossa Senhora que Ela seja o nosso apoio. Que Ela faça conosco o que fez a mãe dos Macabeus.
“Mais ainda: devemos pedir a essa mãe heróica, e a essas crianças, que intercedam por nós, para nos dar uma fortaleza que, com ânimo, sem choradeira e sem treme-treme, chegue até o último momento”.
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Notas:1. Gen 17, 16-19; 18, 10-14.2. Gen. 17, 15.3. Gen. 24,1-67.4. São Luís Grignion de Montfort, op. cit., Editora Vozes Ltda, Petrópolis, 2ª ed., 1943, p. 180.5. Idem, ibidem, p. 183.6. Gen. 27, 29.7. Gen. 29,18.8. Êxodo, 11, 1-10.9. Juízes, 4,6 – 5,32.10. Juízes, 5, 27.11. Juízes, 5, 31.12. Noemi, (Rut, 1,1-14; 1,15-22; 4,11-21.13. Resfa – 2 Rs 21,7-14 – “E cumpriram todas as ordens do rei, e, depois disto, Deus aplacou-se com a terra”. 14. Mãe dos Macabeus – 2 Mac. 7,27-29–Figures bibliques de Marie, Mère de Jésus – disposées pour deux mois de Marie –M. Paul Sauceret – Librarie de Poussielgue-Rusand, Lyon, France, 1846.– Gabriel M. Roschini, O.S.M., La Madonna Secondo la Fede e la Teologia – Roma, Ferrari, 1954.– Pe. Júlio Maria, SDN, Por que amo Maria – Edições Paulinas, São Paulo, 1960.– René Laurentin, Breve Tratado de Teologia Mariana – Editora Vozes Ltda, Petrópolis, RJ, 1965.
Fonte: Catolicismo