Faz parte da natureza humana ser profundamente religiosa. Criada por Deus, a alma do homem tem como aspiração fundamental voltar-se para seu Criador, o único capaz de completar suas lacunas, redimir suas faltas e torná-la plenamente feliz.
Esse anseio de felicidade nunca satisfeita que existe no ser humano indica bem que ele foi feito para alcançar sua plenitude em algo ou Alguém que está fora dele.
Daí a busca desenfreada de felicidade a que alguns se entregam de modo errático, seja na sensualidade, na carreira, na saúde, nas drogas, nos divertimentos, e em quanta coisa mais.
Mas só obtêm fogachos de prazer, necessariamente passageiros e incompletos, seguidos de frustração.
Não pretendo desenvolver aqui as provas teóricas da existência de Deus, mas apenas apontar para o fato de que, se a pessoa tira a Deus de seu panorama, nele se instala o vazio, mesmo se inconfessado. E esse vazio é um tormento maior do que todos os sofrimentos a que está sujeito o ser humano.
Por isso o laicismo tem de tomar ares de uma religião do homem, diferente e oposta à religião de Deus, para tentar preencher esse vazio.
Os tão propalados “direitos humanos”, embora possam conter alguma parcela de verdade, constituem, em última análise, uma tentativa de substituir os Dez Mandamentos da Lei de Deus.
* * *
É fato histórico que todas as civilizações que nos precederam, desde a mais remota Antiguidade, creram em alguma divindade.
Foi nossa civilização, dita moderna, que a partir da Revolução Francesa de 1789 (gravura ao lado) inaugurou uma triste exceção com a ferrenha implantação do laicismo dos Estados.
Desde esses infaustos dias, começou também a proliferar, em nível individual, o ateísmo, até que, no século XX, tivemos a espantosa e inaudita experiência de Estados que se proclamavam oficialmente ateus, como é o caso dos regimes comunistas.
O laicismo, como o entendem diversos doutrinadores, não deveria opor-se à existência das religiões.
Apenas o Estado não professaria nenhuma delas, permanecendo indiferente a sua existência, ao mesmo tempo em que lhes daria liberdade de existirem. Os Estados Unidos seriam o modelo ideal.
Acontece que essa definição fixista não corresponde bem à natureza do laicismo. Nascido de uma ojeriza profunda à Religião Católica da parte dos revolucionários de 1789, o movimento laicista inicialmente a colocou no mesmo patamar das demais religiões, mas vai aos poucos e por etapas mostrando sua verdadeira natureza persecutória.
Em outros termos, do laicismo se poderia dizer o que de uma corrente política argentina se disse certa vez: “uma incógnita em constante evolução”.
A aversão do laicismo à Religião Católica — e às outras religiões que, num ponto ou noutro, professem princípios afins — é algo de muito profundo e que só aos poucos veio se explicitando ao longo da História recente, mostrando suas garras à luz do dia.
Nesse sentido, o laicismo é uma verdadeira religião anti-religiosa que nos dias presentes vai expondo cada vez mais claramente seus objetivos, através de uma cristianofobia das mais raivosas, mesmo quando se serve para isso de sentenças e de leis.
* * *
Não se trata aqui da perseguição que animistas ou hinduístas ou muçulmanos ou outros ainda fazem aos cristãos, pois isso, por mais rejeitável que seja, não é um problema novo, ele repete o passado. A nova perseguição do laicismo é feita com luvas de pelica e instrumentos cirúrgicos, em nome de “direitos humanos” entendidos de modo anticristão.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente Obama forçou a aprovação de uma lei sobre os planos de saúde que obriga, sob penas severas, os estabelecimentos católicos e outros a promover o aborto, a contracepção e ainda outros pecados. Ou seja, obriga-os a agir contra seus princípios morais. Perseguição evidente.
Porém, o passo mais avançado está para ser dado na França.
“O governo socialista francês anunciou a criação de um Observatório Nacional de Laicidade, com a deportação de cristãos e membros de outras religiões que sejam considerados portadores de uma ‘patologia religiosa’.
“O presidente François Hollande, que em sua campanha eleitoral prometeu equiparar as uniões homossexuais ao matrimônio, disse em 10 de dezembro que no ano 2013 se estabelecerá o citado Observatório”.
O Ministro do Interior, Manuel Valls, explicou a missão do Observatório:
“O objetivo não é combater as opiniões com a força, mas detectar e compreender quando uma opinião se faz potencialmente violenta e chega ao excesso criminal. O objetivo é identificar quando é bom intervir para lidar com o que se converte numa patologia religiosa.
“Valls — cujo governo permite a pornografia para moças de 18 anos — ressaltou que o Observatório colocará o foco em extremistas de todos os credos”e exemplificou com grupos tradicionalistas cujas ações considerou “nos limites da legalidade”, quando protestaram em mais de una ocasião contra o aborto, a lei de uniões homossexuais etc.
A agência “Reuters” assinala que “a França deportará imãs estrangeiros e radicais, oriundos de grupos religiosos, incluindo os tradicionalistas católicos de linha dura, se uma nova política de segurança revelar que eles sofrem de uma ‘patologia religiosa’e podem tornar-se violentos”.
Valls acrescentou que “os criacionistas nos Estados Unidos e no mundo islâmico, os extremistas muçulmanos, os católicos ultra-tradicionalistas e os judeus ultra-ortodoxos querem viver separadamente do mundo moderno”. Perseguição às minorias? É essa a democracia laicista?
“Com este Observatório, será o governo francês que decidirá quem são os católicos ‘que se portam bem’” (ACI, 20-12-12).
* * *
O laicismo tinha que chegar até a perseguição aos católicos. E ela vai se desenhando com nitidez cada vez maior. É bem o momento de permanecermos firmes na nossa fé e repetirmos confiantes com o Salmista:
“Por que razão se amotinaram as nações e os povos maquinam planos vãos? Os reis da terra sublevam-se e os príncipes coligam-se contra o Senhor e contra o seu Cristo. Quebremos as suas cadeias, disseram eles, e sacudamos de nós os seus laços!
“Aquele que habita nos céus ri-se, o Senhor zomba deles.
“Ele lhes fala então na sua ira, e os aterroriza no seu furor”(PS 2, 1-5).
Fonte: Revista Catolicismo