PRIMEIRO PRINCÍPIO:
“Todo ato bom produz uma graça igual ao próprio ato”.
SEGUNDO PRINCÍPIO:
“Maria agiu sempre segundo sua força e conforme toda a virtude da graça e do hábito que nela estavam; em Maria não se pode supor nem negligência, nem tibieza”.
Se todo ato bom produz uma graça igual ao próprio ato, e se todos os atos de Maria foram feitos com todo o fervor e todo o amor que Deus lhe deu, sem que jamais alguma negligência tenha interrompido seus atos, é necessário admitir que a santidade de Maria foi duplicada por cada um de seus atos.
Por um lado uma graça, que opera segundo toda sua energia, revoca uma graça igual e por conseguinte duplica-se a si mesma; por outro lado a graça de Maria foi sempre ativa, e ativa segundo toda potência; logo, se avaliarmos a graça de Maria, em um dado momento a cem graus, o ato de amor a seguir ajuntará cem graus novos; o segundo ato, produzido por um ato de duzentos valia duzentos outros; o terceiro produzido por quatrocentos graus eleva a soma de santidade a oitocentos graus; o quarto a mil e seiscentos, o quinto a 3 mil e duzentos; etc.
Procedendo deste modo, no trigésimo dia chegareis a um total de 26 bilhões, 442 milhões, 742 mil e seiscentos.
O que seria, se quiséssemos calcular até o centésimo, até o milésimo, etc.? (…) Até o fim de sua vida… Digamos, mesmo depois de um ano este aumento se tornaria inexplicável e incompreensível.
Vinde, pois, matemáticos, contai, suputai, colocai algarismo após algarismo, passai vossa vida a alinhar números, e depressa estará esgotada vossa ciência e não tereis ainda escrito um número capaz de exprimir o grau de graça da Mãe de Deus.
A esse respeito têm-se feito cálculos extravagantes e sublimes. Pe. D’Argentan deu um exemplo disso. Ele supõe que o ponto de partida da santidade de Maria fosse a santidade consumada de um serafim, o mínimo, contrário até à verdade teológica que reconhece em Maria uma santidade inicial superior à dos anjos e dos homens, tomados coletivamente; mas partamos daqui, afim de estarmos fora de todo exagero; este mínimo com mínimo de atos nos dará um total que eu diria assombroso, se não estivéssemos acostumados a encontrar, falando de Maria, a cada passo, abismo que desconcertam toda razão humana.
Logo, supõe-se que Maria em seu primeiro instante estivesse à altura dos Serafins em graça e em amor. Ela produz logo seu primeiro ato de amor como é dever, diz Santo Tomás, de toda criatura que atinge o uso da razão. Eis sua graça duplicada, e duas vezes igual à do mais sublime Serafim. Depois os atos se multiplicaram e só Deus conhece o número que atingiram.
Suponhamos que Maria tenha feito um ato por dia… Um só. Se essa suposição fosse tomada a sério, seria injurioso para a Santíssima Virgem, pois ela teria ficado vinte e quatro horas, sem progredir um só passo, quando a verdade é que ela progredia continuadamente dia e noite.
Mas adotemos ainda este mínimo, é o bastante, para desconcertar toda inteligência criada.
No segundo dia Maria tinha pois duas vezes outro tanto de graças e de amor que o mais ardente Serafim. No terceiro dia, quatro vezes outro tanto; no quarto dia, oito vezes; no oitavo cento e vinte e oito vezes.
No fim de um mês, em trinta dias, ela ultrapassaria o Serafim, sabeis quantas vezes? – 1.642.068.272 vezes!
Depois começa o segundo mês de sua existência. Dois, cinco, dez dias se passam, e a Santíssima Virgem redobrando sempre o seu mérito, se apresenta com o total de: 2.193.477.908.528 vezes a santidade do mais brilhante Serafim.
Ponderai isto. Depois de quarenta dias, a Santíssima Virgem ultrapassa tudo que o céu contem de mais santo depois de Deus, com 2 trilhões, 193 bilhões, 908 mil, 528 vezes.
E o crescimento continua sempre… Continua sem interrupção, sem enfraquecimento como continua a série dos dias. O quadragésimo quinto dia chega com um total de 70.188.693.072.57670 trilhões, 188 bilhões, 693 milhões, 72 mil, 576 graus…
No quinquagésimo, este total já é elevado a: 2.246.022.178.322.438 de graças.
Após cinquenta dias somente, não lhe concedendo senão este mínimo de um ato por dia, a Virgem Imaculada, teria pois ultrapassado o mais ardente Serafim, mais de 2 quatrilhões, duzentos e quarenta e seis trilhões de vezes.
E se em vez de fazer um ato ela fizesse cinquenta por dia, na noite do primeiro dia de sua existência ela teria alcançado este número…
E se, o que se aproxima cada vez mais da verdade, se em vez de um ato de meia em meia hora Ela fizesse cinquenta atos por hora, a Imaculada se apresentaria com este total depois de uma hora de existência.
Ora, notai ainda, o mínimo de partida e o mínimo de atos.
Que seria se começasse o cálculo por onde se devia começar para estar na verdade: a santidade consumada de todos os anjos e todos os santos?
E isto não somente durante 50 dias, mas durante mais de 70 anos!
O cálculo é impossível… Nem pensemos nisso, só a eternidade nos poderá dar uma idéia.
Continuando mesmo o crescimento mínimo indicado, que numero ou, melhor, que volume de números tereis depois de um ano, depois de dez anos?
Os graus de amor e de graça da Mãe de Deus estariam muito acima dos grãos de areia da praia do mar.
Depois de dez anos, acima dos grãos de areia que seriam necessários para encher o espaço desde o centro da terra até o firmamento.
E o que são dez anos quando se pensa que esta progressão imensa não durou menos de 73 anos, pois, seguindo a maior parte dos autores, é esta a idade que alcançou a Mãe de Deus.
A esta vista o nosso espirito não se sente tomado de vertigem?
Não nos sentimos como que esmagados sob o peso do infinito poder de Deus? Após isto compreende-se como Maria pôde dizer: “Fecit minhi magna qui potens est!”
O Todo Poderoso fez em mim grandes coisas… Deus fez de sua Mãe, como o diz Santo Tomás, uma “quase divindade” – “a obra prima de sua onipotência”.
E o que se pode opor a esta doutrina? (…)
Nada, responde Suarez pois isto não é senão um prodigioso crescimento que a muitos parecerá incrível, pois não poderão compreender, nem a sua extensão nem a sua excelência. Mas, que se lembre que Maria é revestida de uma dignidade infinita; que o começo de sua santificação era mais perfeito que a consumação de todas as outras santidades reunidas; e diante destes progressos admiráveis e divinos, o espanto e a estupefação, dos quais se tem o trabalho de precaver, darão lugar à admiração, ao reconhecimento, ao amor.
Concluamos, dizendo que esta imensidade não é o infinito, visto que toda qualidade e todo crescimento mesmo sobrenaturais são necessariamente limitados. Entretanto, em Maria, estas qualidades atingem o grau supremo que uma simples criatura possa atingir.
Esta imensidade é, de fato, a consequência final da maternidade divina, sendo proporcionada a esta maternidade e com esta maternidade é que deve ser medida.
Do mesmo modo que não se concebe para uma criatura uma dignidade maior que a de ser Mãe de Deus, do mesmo modo, com efeito, não poderia haver – conquanto que o contrário seja de absoluta possibilidade – uma graça mais elevada que a graça final, consequência última e suprema da maternidade divina.
Sim, tudo isso merece admiração dos séculos, e é mais doce ainda pensar que o conhecimento de uma santidade tão admirável será uma parte de nossas delicias na mansão eterna.
Fonte: Blog A Grande Guerra