O princípio da constantinização é duplo:
Primeiro, de ordem política. Esse princípio parte do reconhecimento de que a Igreja Católica é a única verdadeira. E é fácil de perceber que Ela é a única Igreja verdadeira; todo homem que pode conhecer a Igreja e não adere, é culpado.
E a Igreja deve do Estado, a proteção e o apoio, o respeito e as honras que se tributam ao que é divino.
A Igreja é uma entidade mais nobre e poderosa do que o Estado na ordem profunda das coisas, porque Ela é divina.
Daí então a famosa comparação de São Gregório VII: a Igreja é como o sol, e o Estado é como a lua.
A lua recebe a sua luz do sol e o Estado recebia todo o seu lume da Igreja.
Segundo, as coisas esplêndidas e magníficas da terra foram feitas sobretudo para o culto de Deus, e não sobretudo para o uso do homem.
De maneira que os incensos mais magníficos, os tecidos mais estupendos, o ouro mais puro, a prata mais refinada, os materiais mais luxuosos devem ser extraídos da terra pelo homem.
Mas, antes de se destinarem ao adorno da vida humana, destinam-se ao serviço de Deus.
Isso está de acordo com o gesto de Santa Maria Madalena, que quebrou o vaso com ungüento sobre os pés de Nosso Senhor e enxugou os pés divinos d’Ele com seu próprio cabelo, em sinal de veneração.
Judas não gostou, porque achou que o dinheiro devia ser dado aos pobres.
Mas todos os espíritos bons, em todos os séculos, gostaram.
E Nosso Senhor justificou, dizendo: “Pobres, vós sempre os tereis convosco”. E depois profetizou que sua morte viria em breve.
Aí temos, por contraste, aquilo que os progressistas extremistas chamam de miserabilismo.
Eles dizem: A Igreja de Cristo é a igreja dos pobres. Ela foi feita para os pobres, e não pode se apresentar no luxo porque afronta os pobres.
Ela deve se apresentar na miséria, mas na miséria miserável.
Os templos devem ser como as casas dos pobres mais pobres, para que esses pobres não se sintam mal lá dentro.
O pretexto seria que Cristo odeia os objetos de luxo. O fausto que os ricos puseram na igreja não deve existir nem na casa deles, nem casa de Deus. Não vamos mais usá-lo porque não vale nada.
A Igreja – eles acrescentam – não deve ser oficial. Ela deve ser humilde e não deve gozar de honras nem de proteção.
E o católico deve se apresentar ‘humilde’ e miserável.
É, ao pé da letra, o pensamento de Judas Iscariotes.
É o igualitarismo mais monstruoso, porque quer estabelecer a igualdade entre os pobres e Deus, quando Deus é infinitamente superior aos próprios ricos.
Esta atitude priva a Igreja de todo o prestígio merecido e representa, no fundo, um aniquilamento.
Ela arranca do povo a fé que leva a tributar à Igreja todas essas honras. E elimina toda espécie de arte e de beleza, não só da Igreja, mas do convívio social.
Desse modo se reduzem o culto e a sociedade temporal a um estado semelhante ao do selvagem.
Porque quem habita em tocas e em antros é selvagem. E se o selvagem procura a toca, a toca produz o selvagem.
Quem age assim desarticula a civilização, renuncia à civilização. E prepara uma forma nova e extrema de decadência.
O verdadeiro católico afina com o espírito constantiniano. Ele deseja e ama o que os progressistas e os teólogos da libertação chamam com menosprezo de Igreja constantiniana, porque esta é deveras a única e verdadeira Igreja de Jesus Cristo.
Os bons católicos têm como lembrança que o Papa que constantinizou a Igreja é um santo canonizado e que está nos altares: São Silvestre; ao passo que se algum Papa haja que desconstantinize a Igreja, eu nem juro que ele seja santo e juro que ele jamais poderá ocupar os altares.
Aí está a grande lição que um Papa santo como São Silvestre dá aos católicos de nossos dias.
Se São Silvestre ressuscitasse e visse essa desconstantinização, o que é que ele faria?
Que maldição, que praga, que furor, que indignação, que terror, não é verdade?
Pois bem, é deste sentimento que devem arder hoje as almas sinceramente católicas face aos atrevidos despojadores da Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana.