Entre os Príncipes da Corte celeste que estão constantemente diante do trono imortal, Deus escolheu o Arcanjo Gabriel. Confiou-lhe a mais importante, a mais gloriosa embaixada de que jamais foi encarregada uma criatura: dava-lhe a missão de anunciar a Maria o augusto mistério da Encarnação.
Na alva casa de Nazaré, sobre a qual se concentrava a atenção dos espíritos bem-aventurados, reinava uma paz profunda. José repousava sem dúvida da dura jornada. Na peça vizinha, a Virgem rezava.
O Anjo apareceu-Lhe sob forma visível. Inclinando-se respeitosamente diante de sua Rainha, o semblante iluminado por um gáudio sobrenatural, disse-Lhe: “Ave, cheia de graça; o Senhor é conVosco. Bendita sois Vós entre todas as mulheres” .
As palavras de São Gabriel não se afastavam em nada da mais restrita verdade. Desde o primeiro instante de sua Conceição a graça divina inundara a alma magnífica de Maria; essa graça não cessara desde então de crescer em proporções que desafiam os cálculos de nossas débeis inteligências. Agora a adorável Trindade queria fazer resplandecer de modo ainda mais fulgurante essa santidade já tão maravilhosa: Nossa Senhora iria abrigar em seu seio o próprio Autor da graça.
Mas à saudação do Arcanjo a Imaculada perturbou-Se. Ela que havia compreendido à luz do alto a imensidade de Deus e o nada da criatura; Ela que em sua humildade prodigiosa Se considerava como a última de todos; Ela Se espantava de ouvir semelhantes louvores. E Se perguntava com perplexidade que sentido misterioso se escondia sob aquelas palavras.
Vendo a mais incomparavelmente perfeita das criaturas ter de Si mesma sentimentos tão humildes, o Embaixador celeste ficou arrebatado de admiração. “Maria – diz ele à Virgem trêmula –, não temais. Vós encontrastes graça diante de Deus” .
Depois, lentamente, majestosamente, ele Lhe transmitiu em nome do Eterno a sublime mensagem:
“Eis que concebereis e dareis à luz um filho, a Quem poreis o nome de Jesus. Ele será grande; será o Filho do Altíssimo. Deus Lhe dará o trono de David seu pai; Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó e seu reino não terá fim” .
Essas palavras eram muito claras para que pudessem deixar a menor dúvida no espírito da Imaculada.
Ela compreendeu logo a honra incomparável que Lhe estava reservada. Parece, aliás, que não experimentou nenhuma hesitação a respeito da própria virgindade, como se tem repetido com tanta frequência.
Seria fazer injúria gratuita às suas luzes supor nEla uma tal ignorância. Ela conhecia a profecia de Isaias; sabia que o Emanuel devia nascer de uma virgem. Quis simplesmente saber como é que Deus, rico em milagres, realizaria esse prodígio. “Como se cumprirão essas coisas?” perguntou ao Anjo. Quomodo fiet istud, quoniam virum non cognosco?
“O Espírito Santo virá sobre Vós – respondeu-Lhe São Gabriel –, e o poder do Altíssimo Vos envolverá com sua sombra. Por isso, o que de Vós há de nascer será santo e será chamado Filho de Deus. Vossa prima Isabel era estéril; e eis que há seis meses concebeu um filho em sua velhice, porque nada é impossível a Deus” 2.
Fez-se então no pequeno quarto de Nazaré um profundo silêncio, um desses silêncios tragicamente emocionantes porque neles se sente pairar os destinos do mundo. O Anjo terminara de falar e Maria Se calava.
Quão numerosos deviam ser os pensamentos que se elevavam em seu espírito!
Ela via a auréola que a maternidade divina ia colocar sobre sua fronte. Mas era profundamente humilde para Se apegar com complacência a essa grandeza única.
Via as alegrias inefáveis que Lhe arrebatariam o coração quando apertasse contra o peito seu tesouro querido, esse Jesus ao mesmo tempo seu Deus e seu Filho. Mas era por demais mortificada para Se deixar guiar apenas pela atração das alegrias, mesmo as mais santas.
Via também o horrível martírio que Lhe haveria de dilacerar a alma. Sabia pelas Escrituras que o Messias seria entregue à morte como tenro cordeiro conduzido ao matadouro. Ouvia de antemão seu doloroso queixume: “Sou um verme e não um homem; sou o opróbrio dos homens e a abjeção da plebe” . Mas era por demais forte para Se deixar abalar pela dor.
Acima de todas essas coisas, via a altíssima, a parternalíssima, a santíssima vontade de Deus. Ela Lhe devia obediência, não hesitou.
A Anunciação e São Gabriel
A Imaculada rompeu enfim seu solene silêncio. Para dar o consentimento que o Anjo esperava em nome do Espírito Santo, teve uma dessas palavras sublimes que só o gênio da humildade pode encontrar. Empregou a mais modesta e a mais simples fórmula, aquela em que mais completamente se eclipsava sua personalidade: “Eis a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a vossa palavra”.
Então se produziu a maior de todas as maravilhas. O Espírito divino formou da própria substancia da Imaculada um pequeno corpo humano; uniu a esse corpo uma alma humana; juntou esse corpo e essa alma à Pessoa do Verbo. Essas três partes de uma mesma operação, que sou obrigado a expor separadamente para explicá-las com mais clareza, foram inteiramente simultâneas. Nem por um segundo esse pequeno corpo e essa alma foram separadas do Verbo. Desde o primeiro instante o Menino formado no seio de Nossa Senhora foi o Verbo feito carne.
Sem deixar de ser Virgem, Maria tornou-Se a Mãe de Deus; e porque Se tornou a Mãe de Jesus, nossa cabeça, tornou-Se também Mãe dos homens, nossa Mãe.
Proponho-me simplesmente, neste capítulo, seguir passo a passo a narração evangélica. Estudaremos mais tarde a dignidade quase infinita, que confere à Imaculada a maternidade divina. Veremos que respeito, que reconhecimento, que confiança sem limites, que amor ternamente filial esse privilégio deve inspirar em nossos corações de cristãos. – Mas terminemos de meditar esse mistério.
Enquanto o Verbo Se aniquilava no seio maternal – porque Ele nos ama com caridade sem limites –, outras maravilhas se realizavam na alma de Maria.
Quando Deus confia uma missão a uma de suas criaturas, torna-a capaz de a cumprir convenientemente. O Altíssimo, que acabara de conceder à Imaculada uma dupla maternidade, deu-Lhe um duplo amor materno; mas nessa operação da graça houve tanto esplendor que jamais a compreenderemos perfeitamente.
Jamais compreenderemos inteiramente com que ardor Maria amou Jesus.
Jamais compreenderemos inteiramente com que misericordiosa bondade Maria nos ama a cada um em particular. Se refletíssemos mais sobre isto, rezaríamos a Ela com mais fervor, A serviríamos com mais zelo e Ela derramaria sobre nós torrentes de graças.
A Anunciação em Arte: Uma comparação impressionante
A Encarnação acabava de se realizar; Nossa Senhora permanecia ainda arrebatada em êxtase. Todos os teólogos admitem que Deus A elevou, nesse minuto três vezes santo, à mais sublime contemplação que possa alcançar sobre a Terra uma pura criatura. Talvez até o Altíssimo tenha concedido a Ela, por alguns instantes, a visão beatífica.
Nesse momento o Arcanjo Gabriel havia cumprido sua missão. Ao chegar ele se inclinara respeitosamente diante da Rainha do Céu; ao partir, prosternou-se com a face em terra. Maria não estava mais só: ao Menino que Ela carregava no seio eram devidas em rigor de justiça as honras da adoração. O Anjo adorou o Deus feito homem e retornou aos Céus.
Precisamos haurir nesse mistério uma devoção mais ardente e mais esclarecida à Santíssima Virgem.
A Igreja, que nos faz prestar um culto excepcional à Imaculada, não pretende colocá-La em pé de igualdade com o Altíssimo. Se Maria reina nos Céus bem acima de todos os Anjos e de todos os Santos, permanece entretanto simples criatura. A esse título uma distância infinita A separa de seu Filho adorável.
Deus entretanto uniu tão estreitamente Jesus e Maria, que não podemos separá-Los. Ao dar consentimento à obra da eterna Bondade, Nossa Senhora tornou-Se a causa moral de nossa salvação. Ela nos é moralmente necessária para ir a Jesus.
Em nossos dias as almas são possantemente atraídas pelo Coração de Jesus. Para penetrar ainda mais no Coração adorável, santuário da Divindade, precisamos passar por Maria.
Peçamos a Nossa Senhora a graça soberana de nos abandonarmos com confiança nos braços de Cristo e de repousarmos em seu Coração no tempo e na eternidade.
Escrito por Pe. Thomas de Saint-Laurent Traduzido do blog America Needs Fatima
1 Comentário
HO VIRGEM SANTA,ROGAI POR ME EPOR TODA MINHA FAMILIA.MAê DE BONDADE INFINITA,UMILDADE PLENA.MAê INTERCESSORA, ROGAI POR TODOS NÓS. AMÉN!!