Quarta-feira de Cinzas: A lembrança da morte e o jejum quaresmal! Saiba mais.
Os insensatos que não crêem na vida futura, estimulam-se com o pensamento da morte a passarem bem a vida. De maneira bem diferente devemos nós proceder, os que sabemos pela fé que a alma sobrevive ao corpo.
Nós, lembrando-nos de que em breve temos de morrer, devemos cuidar da nossa eternidade e por meio de oração e penitência aplacar a divina justiça.
É com este intuito que a Igreja, depois de por as cinzas sobre a cabeça, nos ordena o jejum da Quaresma.
Para compreendermos em toda a sua extensão o sentido destas palavras, imaginemos ver uma pessoa que acaba de exalar o último suspiro.
Ó Deus, a cada um que vê esse corpo, inspira nojo e horror. Não passaram bem vinte e quatro horas depois que aquela pessoa morreu, e já o mau cheiro se faz sentir. É preciso abrir as janelas e queimar bastante incenso, afim de que o fedor não infeccione a casa toda.
Os parentes com pressa mandam levar o defunto para fora da casa e entregar à terra.
Metido que foi o cadáver na sepultura, vai se tornando amarelo e depois preto. Em seguida, aparece em todos os membros uma lanugem branca e repelente, donde sai um pus infecto que corre pela terra e donde se gera uma multidão de vermes.
Os ratos vêm também procurar o pasto nesse cadáver, roendo-o uns por fora, ao passo que outros entram na boca e nas entranhas.
Despegam-se e caem as faces, os lábios, os cabelos; escarnam-se os braços e as pernas apodrecidas, e afinal os vermes, depois de consumidas todas as carnes, consomem-se a si próprios.
E deste corpo só restará um esqueleto fétido, que com o tempo se divide, ficando reduzido a um punhado de pó.
Eis aí o que é o homem, considerado como criatura mortal. Eis aí o estado a que tu também, meu irmão, serás, talvez em breve, reduzido: um punhado de pó fedorento.
Nada importa ser alguém moço ou velho, são ou enfermo: a todos caberá a mesma sorte, o que a Igreja recorda pondo as cinzas bentas indistintamente sobre a cabeça de todos: Memento homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris ― “Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar”.
Os insensatos que não crêem na vida futura e têm as verdades eternas por fábulas, estimulam-se, com a lembrança da morte, a levar vida folgada e a gozarem.
De maneira bem diferente, porém, diz Santo Agostinho, deve proceder o cristão, que pela fé sabe que a alma sobrevive ao corpo, e que depois da morte deste, terá de dar contas rigorosíssimas de tudo quanto tiver feito.
― O cristão, que se lembra que em breve deverá deixar o mundo, cuidará da sua eternidade e procurará aplacar a justiça divina com penitências e orações.
É por isso exatamente que a Igreja, depois de nos ter posto as cinzas sobre a cabeça, ordena a seus ministros que notifiquem aos fiéis o jejum quaresmal: Canite tuba in Sion: sanctificate ieiunium (Joel 2, 15) ― “Fazei soar a trombeta em Sião, santificai o jejum”.
Conformemo-nos, portanto, com as intenções de nossa boa Mãe; e como ela mesma o ordena, sejamos no santo tempo da Quaresma “mais sóbrios em palavras, na comida, na bebida, no sono, nos divertimentos”;
e, o que é mais necessário, afastemo-nos mais de toda a culpa por meio de uma vida recolhida e consagrada à oração, porquanto, no dizer de São Leão:
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Esta matéria publicada nesta Quarta-feira de Cinzas, exige uma meditação criteriosa, face a importância nela
contida. Concordo plenamente com todas as palavras, pois, é a oportunidade exigente para o católico, um
profundo exame em todos os sentidos. As vberdades são claras, de fácil entendimento. Não se pode negar
que pela oração e penitência a alma se eleva. Como diz Santo Agostinho, pela fé a alma sobrevive ao corpo
e o final é a prestação de contas.
Que o senhor nos ajude a viver a nossa quaresma de maneira correta e que a virgem Maria interceda por nós. Amém