Luis Dufaur
Em Hebei, a província que circunda Pequim,
A polícia vem acirrando há várias semanas as hostilidades contra as comunidades católicas ditas “clandestinas”, fiéis ao Papado e insubmissas ao governo comunista.
A perseguição foi denunciada pela agência Églises d’Asie, habitualmente informada por relatórios que chegam discretamente da enorme prisão em que se transformou a China comunista.
Nas últimas semanas foram presos um bispo e um número não informado de sacerdotes. A polícia socialista destruiu um altar público dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e ao Coração Imaculado de Maria.
A província de Hebei registra uma das mais altas proporções de católicos anticomunistas, os quais estão, por esse motivo, na “clandestinidade” ou na “Igreja subterrânea”.
A agência Ucanews informou que D. Julius Jia Zhiguo foi detido pelas forças policiais no dia 12 de maio e liberado no dia 24 do mesmo mês, para celebrar a Missa de Pentecostes. O esquema repressivo temia que sua ausência gerasse protestos e ecoasse internacionalmente.
D. Julius tem 80 anos, é bispo de Zhengding e considerado “clandestino” por recusar-se a ingressar na Associação Patriótica, criada pelo governo para jugular a Igreja Católica e pô-la ao serviço do socialismo.
O número de prisões de simples fiéis já não se conta, de tal maneira se tornaram frequentes.
Os motivos do encarceramento do bispo foram mantidos em segredo. O “crime” teria sido a ordenação de diversos sacerdotes que não se submeteram ao regime anticatólico.
O prelado já havia sido intimado a não participar nas tradicionais romarias de Nossa Senhora que se realizam no mês de maio.
A Verdadeira Igreja Católica vivendo na “cladestinidade”…
Ainda em Hebei, no bastião católico de Baoding, o padre “clandestino” Liu Honggeng desapareceu no dia 7 de maio. Seu celular foi cortado e não responde. As autoridades nada dizem de seu paradeiro, deploram angustiados os fiéis.
O Pe. Liu e mais outros oito sacerdotes “clandestinos” de Baoding haviam sido presos em 27 de dezembro de 2006 e pressionados a aderir a órgãos da igreja “oficial”. Após oito anos de reclusão sem julgamento, foram liberados sem nunca terem aceitado entrar no clero “oficial” ou comunista.
Também na diocese de Baoding, em 22 de maio, pouco antes da festa de Pentecostes, a polícia tomou de assalto um local de culto “clandestino”. Cerca de 40 agentes ocuparam a cidadezinha de Anzhuang, a uns 200 quilômetros ao norte de Baoding, e destruíram um altar construído ao ar livre.
O altar era dedicado ao Sagrado Coração de Jesus e ao Coração Imaculado de Maria. Para destruí-lo, a polícia pretextou a falta de autorizações municipais.
Segundo Ucanews, o povo católico tentou se opor à ação da polícia e duas mulheres foram feridas.
Em Anzhuang reside Mons. Francis An Shuxin, bispo coadjutor de Baoding, que permaneceu confinado numa prisão de 1996 a 2006. Como em 2009 ele fraquejou e aceitou entrar na cismática Associação Patriótica, o governo comunista o empossou à força como bispo ordinário de Baoding.
Mas os fiéis e boa parte do clero não reconhecem sua falsa autoridade, censurando-o vivamente por ter cedido às extorsões do governo.
Por sua vez, o verdadeiro bispo da diocese, Mons. James Su Zhimin, continua preso em local secreto desde 1997.
O bispo ilegal foi contatado por telefone e justificou a depredação sacrílega do altar com palavras próprias de um Pôncio Pilatos: “Trata-se de católicos ‘clandestinos’ que não aceitam minha autoridade. Eu não acho que possa ajudá-los”.
O caso de Hebei não é isolado. As violências anticristãs estão se reproduzindo em todo o país desde que o presidente Xi Jinping, num discurso público em 20 de maio, reafirmou os tirânicos princípios que devem reger a questão religiosa na China.
A saber, que o Partido Comunista só tolera as religiões que aceitam colocar-se a serviço dos planos oficiais e trabalhar pela “realização do sonho chinês de uma grande renovação da nação”. Leia-se a plena implantação do comunismo.
Os atropelos anticristãos revelam, porém, o nervosismo que cresce nas fileiras maoístas diante da onda de prática religiosa na população, inclusive dentro do Partido Comunista.
A todo-poderosa Comissão Central de Inspeção da Disciplina Partidária voltou a proibir qualquer prática religiosa aos 86,7 milhões de membros do Partido Comunista Chinês.
“O fato de um pequeno número de membros do Partido ter abandonado o materialismo dialético (…) e se voltado para a religião é causa de grave preocupação, a ponto desse fenômeno cair, a partir de agora, sob os golpes das ações disciplinares. (…)
O próprio Marx indicou claramente que, na sua essência, o comunismo começa a partir do ateísmo”, ameaçou dita Comissão em artigo para os membros do Partido.
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