Luis Dufaur
Mireille Al Farah, jovem síria que vive na Espanha e que não pode voltar a seu país desde que começou a enganosa Primavera árabe,
Contou seu drama no I Congresso Internacional sobre Liberdade Religiosa realizado em Madri. Ela chora durante a comunhão, rezando pelos católicos perseguidos em seu país.
“Os pais de família nunca saem juntos à rua, para que os filhos não fiquem inteiramente órfãos” em caso de atentado mortal, relatou.
Ela contou que antes da investida islâmica, os católicos sírios “manifestávamos publicamente nossa fé, vivíamos sem medo, até que de um dia para o outro nos deparamos com a atual situação: atentados, sequestros, violações, você está em sua casa e te cai um obus de morteiro…
“Os bombardeios são diários. Com as tecnologias GPS eles sabem localizar os bairros cristãos e selecionar as vítimas. Eu perdi treze parentes, um deles foi meu primo Shami, que morreu quando tiro de morteiro caiu sobre ele um”.
Sobre a situação em Damasco, a capital síria, ela narrou:
”Nas horas que temos exames, aumentam os ataques, porque não querem que a gente vá às faculdades ou às escolas. Passamos muitas horas sem água, sem força… a gente tem de fazer o que pode para sobreviver, e isso é em Damasco, que é a capital síria”.
Outros se viram constrangidos a abandonar tudo o que possuíam, numa fuga forçada
pela perseguição.
Outros ainda optam por ficar:
“A uma amiga casada e mãe de quatro filhos, cuja família está entre a Líbia e a França, foi-lhe oferecido tudo para ir embora e ser recebida como refugiada, mas não quer sair: ‘eu sou daqui, aqui estão meus filhos…’, ela me disse; ela deixou o trabalho e dá formação gratuita aos desempregados para que após o conflito encontrem colocação.
Minha irmã está no Líbano, teve que fugir sem nada. Recentemente chegaram 800 famílias que igualmente tiveram de abandonar tudo…”.
“Nessa situação, as pessoas se perguntam: ‘o que é que eu vou fazer, fico em casa, saio à rua?’ Mas as pessoas decidiram continuar vivendo, os cristãos continuam enchendo as igrejas.
Meus amigos dizem: ‘eu prefiro morrer recebendo o Corpo de Cristo do que ficar em casa no meio do risco’. Os sacerdotes nos ajudam muitíssimo para poder viver essa opção; nos apoiam para manter a esperança”.
E, sublinha Mireille, “quando abraçamos nossa fé a recebemos por completo, nós sabemos que isso implica assumir a perseguição, mas nós aprendemos a lutar. Eu sempre levo a cruz. Ser cristão é algo que nos dá força. Nossos nomes já nos identificam como cristãos”.
E prossegue:
“Para nós, os funerais são uma festa, nós os celebramos como se fossem um casamento, ornamos as igrejas com flores brancas… Os mártires são como noivos e noivas que se entregam ao Céu para se unirem a Cristo”.
Interrogada pelo público sobre o que se pode fazer para aliviar o sofrimento dos cristãos perseguidos na Síria e acabar com o terror que padecem, Mireille respondeu:
“Os jovens cristãos sírios vos pedimos duas coisas: informar os outros e unir-vos à nossa oração. De um lado, devemos insistir em denunciar o que está acontecendo, para apressar uma resposta internacional.
“Mas não podemos deixar tudo nas mãos de homens, que são falíveis; tem de vir uma intervenção divina para mudar os corações. Por isso criamos uma corrente de orações para rezar o terço 24 horas, de modo que sempre tenha uma pessoa rezando pela paz na Síria.
Orações também para sabermos perdoar, e orações pelos nossos agressores. Estou certa de que com isso a situação poderá mudar”.
“O que vos peço é que não vos oculteis, a fé deve nos trazer sempre a alegria, e não a vergonha.
“Fiquei espantada chegando a Barcelona e vendo a situação. Na Síria eu nunca me senti sozinha na igreja, mas aqui em muitas ocasiões senti-me sozinha, ainda que estando no meio de pessoas no mesmo templo.
Temos de pensar no que temos e os outros não têm”, concluiu a corajosa moça católica.
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