Por Patricia Navas (agência Zenit)
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 11 de março de 2010 (ZENIT.org).- No sacramento da Penitência, deve desenvolver-se um “diálogo de salvação”, no qual Deus mostra seu amor e a pessoa reconhece seu pecado e é introduzida em uma dinâmica de conversão.
Assim indicou o Papa Bento XVI hoje, no Vaticano, ao receber em audiência os sacerdotes participantes do curso anual sobre foro interno, promovido pela Penitenciaria Apostólica, que está sendo realizado de 8 a 12 de março.
Bento XVI se referiu à experiência de “diálogo de salvação que, nascendo da certeza de ser amados por Deus, ajuda o homem a reconhecer o próprio pecado e a introduzir-se, progressivamente, nesta estável dinâmica de conversão do coração, que conduz a uma vida segundo Deus à radical renúncia ao mal”.
Destacou que “é tarefa do sacerdote favorecer esta experiência” e explicou o método do Santo Cura de Ars para que se desenvolva esse “diálogo de salvação” na confissão.
“São João Maria Vianney sabia iniciar com os penitentes um verdadeiro e apropriado ‘diálogo de salvação’, mostrando a beleza e a grandeza da bondade do Senhor e suscitando esse desejo de Deus, do qual os santos são os primeiros portadores”, sublinhou.
Para viver o ministério de confessor com a heroicidade e fecundidade próprias de São João Maria Vianney, o Papa indicou, em primeiro lugar, a necessidade de uma “intensa dimensão penitencial pessoal”.
“A consciência do próprio limite e a necessidade de recorrer à misericórdia divina para pedir perdão, para converter o coração e para ser sustentado no caminho de santidade são fundamentais na vida do sacerdote”, explicou.
E acrescentou: “Somente quem experimentou primeiro a grandeza pode ser convincente anunciador e administrador da misericórdia de Deus”.
Por outro lado, continuou, “todo sacerdote se converte em ministro da Penitência pela configuração ontológica com Cristo, sumo e eterno Sacerdote, que reconcilia a humanidade com o Pai”.
Ao mesmo tempo, recordou Bento XVI, “a fidelidade ao administrar o sacramento da Reconciliação é confiada à responsabilidade do presbítero”.
Seguindo o método do Santo Cura de Ars, o Pontífice indicou a importância de viver “com radicalidade o espírito de oração, a relação pessoal e íntima com Cristo, a celebração da Missa, a adoração eucarística e a pobreza evangélica”.
Dessa forma, o sacerdote, como o santo francês, “faz da Igreja a sua casa, para conduzir os homens a Deus” e mostra aos seus contemporâneos “um sinal tão evidente da presença de Deus”, que leva “muitos penitentes a aproximar-se do seu confessionário”.
O Papa destacou também que, “nas condições de liberdade em que hoje é possível exercer o ministério sacerdotal, é necessário que os presbíteros vivam em ‘algo grau’ a própria resposta à vocação”.
E isso “porque só quem se converte cada dia em presença viva e clara do Senhor pode suscitar nos fiéis o sentido do pecado, dar ânimo e despertar o desejo do perdão de Deus”.
Neste ponto, Bento XVI afirmou que “é necessário voltar ao confessionário, como lugar no qual se celebra o sacramento da Reconciliação, mas também como lugar no qual se ‘habita’ com mais frequência”.
A presença do sacerdote no confessionário é uma ajuda “para que o fiel possa encontrar misericórdia, conselho e consolo, sentir-se amado e compreendido por Deus e experimentar a presença da misericórdia divina, junto à presença real na Eucaristia”, indicou.
Em seu discurso, o Pontífice se referiu também à “crise” do sacramento da Penitência, que “interpela em primeiro lugar os sacerdotes e à sua grande responsabilidade de educar o povo de Deus nas radicais exigências do Evangelho”.
Para o Papa, o contexto atual, “marcado pela mentalidade hedonista e relativista, que tende a suprimir Deus do horizonte da vida, (…) torna ainda mais urgente o serviço de administradores da misericórdia divina”.
“Não devemos esquecer, de fato, que existe uma espécie de círculo vicioso entre o ofuscamento da experiência de Deus e a perda do sentido do pecado”, afirmou.
Bento XVI destacou que a crise do sacramento da Penitência exige dos sacerdotes que se dediquem generosamente a escutar confissões sacramentais, “guiar com coragem o rebanho, para que não se conforme com a mentalidade deste mundo”, ter eles mesmos “uma permanente tensão ascética” e atualizar-se constantemente no estudo da teologia moral e das ciências humanas.
“Que extraordinário ministério o Senhor nos confiou!”, disse aos participantes do curso sobre a administração correta da Penitência.
“Como, na Celebração Eucarística, Ele se coloca nas mãos do sacerdote para continuar estando presente no meio do seu povo, analogamente, no sacramento da Reconciliação, Ele se confia ao sacerdote, para que os homens façam a experiência do abraço com que o Pai acolhe seu filho pródigo!”, exclamou.
Finalmente, pediu que “Nossa Senhora e o Santo Cura de Ars nos ajudem a experimentar em nossa vida a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Deus, para ser fiéis e generosos administradores”.
O Papa valorizou a participação dos sacerdotes neste curso (cf. Zenit, 8 de março de 2010), de “temática essencial para o ministério e a vida dos presbíteros”.
E incentivou os sacerdotes a aprenderem do Santo Cura de Ars, além do método do “diálogo de salvação” que deve ser desenvolvido na Confissão, “uma confiança inesgotável no sacramento da Penitência, que nos anima a colocá-lo no centro das nossas preocupações pastorais”.