Sétima Ferida – Sepultura de Jesus
“Ó pedra feliz, que agora encerras
Aquele que tive nove meses no seio,
eu te bendigo e invejo.
Deixo-te guardando este meu Filho
que é todo o meu bem,
todo o meu amor”.
(Boaventura Baduário – retirado do livro: Glórias de Maria-
Sto. Afonso Maria de Ligório)
Depois da Ressurreição, não é lícito falar de outras dores, por a morte ter sido vencida.
Todavia, até ao dia em que não foram vencidos os laços da morte, existia ainda um grande sofrimento que Jesus quisera e que Maria devia aceitar, de maneira a que os que maltratassem as criaturas do Seu amor não ficassem sem esperança e sem consolação.
Também Nosso Senhor mergulha essa espada em Seu próprio Coração, por querer que homem nenhum sofresse castigo (devido ao seu pecado) que Ele próprio não sofresse.
Assim como Jonas esteve três dias no ventre do peixe, assim Ele quis que O deixassem três dias no ventre da Terra.
O Credo dos Apóstolos diz bem, ao afirmar que Ele esteve sepultado.
Nosso Senhor não trespassou a Sua alma com o castigo da sepultura sem, ao mesmo tempo, ter trespassado, com essa dor, o coração de Maria.
Quando isso aconteceu, a Terra estava coberta de trevas, sobre um crime de deicídio. A Terra tremeu… nesse cataclismo da Natureza, Maria prepara para a sepultura o corpo do Seu Divino Filho.
O paraíso terrestre volta de novo, no momento em que Maria planta na Terra a Árvore da Vida, que florirá durante três dias.
As dores de todos aqueles que perderam os seus, e que tão custosas são de suportar pelos corações humanos, caíam, com todo o seu peso, sobre a alma
de Maria.
O mais que um mortal pode ter perdido é uma criatura: Maria, porém, sepultava o Filho de Deus!
É doloroso perder um filho, mas mais doloroso ainda é sepultar a Cristo.
É trágico ficar-se órfão de mãe, mas perder Cristo é o Inferno.
Não é em escravidão – por mais suave que esta seja – que se encontram dois corações que verdadeiramente se amam, mas numa intimidade que desses dois corações faz um só.
Quando a morte chega, não se dá a separação de dois corações; o que, então, se abandona é um coração único.
Tudo isto era particularmente verdadeiro, em relação a Jesus e Maria.
Assim como Adão e Eva tinham cedido ao prazer de comerem o fruto proibido, assim também Jesus e Maria se uniram no prazer de comerem o fruto da Vontade do Pai.
Em tais momentos, não há solidão – mas uma grande desolação. Não a desolação exterior, como a dos três dias em que o Menino Jesus se considerava perdido para os Seus pais, mas a desolação interior, profunda, ao ponto de ultrapassar
as lágrimas.
Certas alegrias são tão intensas que podem nem mesmo provocar um sorriso. Analogamante, certas dores são tais que não fazem correr uma só lágrima. A dor de Maria, no enterramento de Nosso Senhor, foi, porventura, dessa espécie.
Se Lhe tivesse sido possível chorar, talvez experimentasse alívio. Mas as Suas lágrimas eram de sangue, no jardim oculto do Seu Coração. Desolação nenhuma se poderia comparar à Sua.
A Divina espada não poderia trazer novas dores, nem para Jesus, nem para Maria.
Mergulhara em Seus corações, até aos copos, até onde já não são possíveis as consolações do corpo.
Para as outras dores, havia a consolação da presença. Agora, nem mesmo essa. O Calvário estava mergulhado no lúgubre silêncio de uma igreja, em Sexta-feira Santa, quando o Santíssimo Sacramento dela é retirado.
Dentro de poico tempo, será arrancada a Espada porque a Ressurreição cura as feridas. No dia da Páscoa, o Salvador exibirá as cicatrizes da Sua Paixão, de modo a provar que o amor é mais forte que a morte.
Mas não exibirá Maria, também, as cicatrizes das sete feridas da Sua Alma?
A Ressurreição será, para ambos, o embainhar da Espada: a dívida está paga e o homem encontra-se resgatado.
Ninguém poderá dar conta das dores que Eles sofreram.
Ninguém, outrossim, poderá dizer quanta santidade Maria alcançou pela Sua cooperação de criatura humana, no ato da Redenção de Cristo.
A partir desse dia, quando Deus permitir, aos Seus cristãos, dores, penas, provações, elas mais não serão do que leves arranhaduras, se comparadas com aquilo que Ele e Maria sofreram.
A Espada que Cristo mergulhou em Seu próprio Coração e na alma de Maria embotou-se, por virtude das feridas que neles fez.
E, assim, nunca mais ela voltará a ferir tão terrivelmente. Quando ela voltar a tocar-nos, saibamos ver, como Maria, “a sombra da mão de Jesus estender-se sobre nós, num gesto de carícia.”
(Excertos do livro: O primeiro Amor do Mundo – Arcebispo Fulton J. Sheen)