Plínio Correa de Oliveira
Uma flor magnífica nascida de uma árvore feia: o ipê.
É o que se pode pensar de esplendoroso. Eu não sei, caso houvesse ipê na Palestina, se Nosso Senhor não teria utilizado como argumento a flor do ipê, em vez de ter falado do lírio do campo, de tal maneira ela é de um amarelo-dourado éclatant.
Se eu soubesse que as espécies dos ipês desapareceriam e que os últimos ipês seriam os que florescem no cemitério da Consolação [na cidade de São Paulo], eu iria ao cemitério só para ver florescer o último ipê. E desejaria poder dizer que assisti à morte do último ipê.
Por quê? — Porque é uma espécie extraordinariamente apta a refletir algo da glória de Deus
que desaparece.
Assim, eu desejaria estar presente nessa hora histórica e tremenda em que Deus retira da ordem do universo um dos raios de sua glória. Esta seria uma hora eminentemente religiosa, à qual o indivíduo religioso deveria dar um grande valor.
E eu, no dia em que tivesse assistido à morte do último ipê, mandaria celebrar uma missa. Não por causa do ipê em si, mas em relação ao desígnio de Deus extinguindo no universo criado essa beleza, esse reflexo de sua glória.
Nada do que existe me é alheio e, portanto, diante dos grandes êxitos ou das grandes convulsões da História, nossa alma deve ter uma participação intensa, sob o risco de ela tornar-se uma
alma medíocre.
Estou exemplificando com o ipê, mas de quantas outras coisas poderíamos falar!
Se eu visse uma flor de ipê caída de uma árvore e, tocada por um vendaval com o risco de se poluir e estragar, eu pegaria essa flor e a colocaria num vasinho de um oratório com a imagem de
Nossa Senhora.
Seria para oferecer a Ela, mas não só por Ela; seria para recolher essa gota da glória de Deus, a fim de que a flor do ipê não desaparecesse inutilmente e, assim, desse a gloriosa volta rumo ao seu Criador, deitando suas últimas belezas aos pés da Mãe do Criador.
Essa é uma posição altamente religiosa. É um modo religioso de viver.
Certa vez, vi uma fotografia lindíssima, inteiramente do meu gosto, de um magnífico ipê dourado. Em minha ótica, será o símbolo do Brasil no Reino de Maria — conforme este foi anunciado em Fátima.
Porque é uma árvore simplesmente esplendorosa, que representa bem qual será o futuro deste País a serviço de Nossa Senhora.
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