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Deus veio ao mundo para acender em todos a chama de seu divino amor;
Mas nenhum coração ficou tão abrasado como o Coração de sua Mãe, o qual, sendo todo puro de afetos terrenos, estava todo disposto para arder neste santo fogo.
Por isso o Coração de Maria se tornou todo fogo e chamas, como se lê nos Cânticos Sagrados: “As suas lâmpadas são umas lâmpadas de fogo e chamas”.
Fogo, ardendo interiormente, como explica Santo Anselmo, e chamas, resplandecendo para fora com o exercício das virtudes.
Revelou a própria Maria a Santa Brígida, que neste mundo ela não teve outro pensamento, outro desejo, nem outro gosto senão Deus.
Eis porque sua alma bendita, absorta sempre nesta terra na contemplação de Deus, fazia inúmeros atos de amor.
Ou, para melhor dizer, como escreve Bernardino de Bustis, Maria não multiplicava os atos de amor, como fazem os outros santos;
Mas por um privilégio singular, ela amou a Deus atualmente com um contínuo ato de amor.
Qual águia real sempre tinha os olhos fixos no divino Sol, de maneira (diz São Pedro Damião) que nem as ações da vida lhe impediam o amor, nem o amor lhe impedia a ação.
Acrescentam Santo Ambrósio, São Bernardino e outros, que nem mesmo o sono interrompia o ato de amor da Santíssima Virgem;
De modo que podia verdadeiramente dizer com a Sagrada Esposa: Ego dormio, et cor meum vigilat – “Eu durmo e meu coração vela”.
Foi figura de Maria o altar propiciatório, no qual nunca se extinguia o fogo, nem de dia, nem de noite.
Numa palavra, afirma o Bem-aventurado Alberto Magno que Maria foi cheia de tão grande amor, que quase não podia caber mais amor numa pura criatura terrestre.
Os próprios Serafins podiam descer do Céu, para aprenderem no Coração de Maria como se deve amar a Deus.
No reino celeste ela só, entre todos os santos, pode dizer a Deus: Senhor, se não Vos amei o quanto mereceis, ao menos amei-Vos os quando me foi possível.
O Amor exige Amor
Já que Maria ama tanto a seu Deus, não há certamente coisa alguma que ela exija tanto de seus devotos como que o amem igualmente.
É o que a divina Mãe disse à Bem-aventurada Angela de Foligno, num dia em que esta tinha comungado;
É o que ela disse também a Santa Brígida: “Filha, se queres cativar o meu amor, ama o meu Filho”.
Pergunta Novarino, porque a Santa Virgem, à imitação da Esposa dos Cantares;
Rogava aos anjos que fizessem saber ao seu Senhor o grande amor que lhe consagrava, dizendo:
Adiuro-vos… ut nuntietis ei, quia amoré langueo – “Eu vos conjuro… que lhe façais saber que estou enferma de amor?”.
Porventura não sabia Deus quando ela o amava? Com certeza sabia-o, responde o autor sobredito, que a Virgem quis fazer patente a nós o seu amor;
Afim de que, assim como ela estava ferida de amor, nos infligisse a mesma ferida: Ut vulnerata vulneret.
Porque foi toda fogo em amar Deus, por isso, como diz São Boaventura, abrasa e torna seus semelhantes todos os que a amam e a ela se avizinham.
Pelo que Santa Catarina de Sena chamava a Maria Santíssima portatrix ignis: a portadora do fogo do amor divino.
Se queremos arder também nesta beata chama, procuremos sempre avizinhar-nos a nossa Mãe Santíssima com súplicas e afetos.
Ah, Rainha do amor, Maria! Sois vós, no dizer de São Francisco de Sales, a mais amável, a mais amada e a mais amante de todas as criaturas.
Ah, minha Mãe! Vós que ardestes sempre e toda em amor a Deus, dignai-vos dar-me ao menos uma faísca desse amor.
Rogastes a vosso Filho por aqueles esposos aos quais faltava o vinho: Vinum non habent – “Eles não têm vinho”:
Não rogareis por nós a quem falta o amor a Deus, ao qual temos tanta obrigação de amar?
Dizei somente: “Eles não têm amor”, e alcançar-nos-eis o amor. Outra graça não vos pedimos senão esta. Ó minha Mãe! Porquanto amais a Jesus, atendei-nos, rogai por nós.
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Fonte: retirado do livro “Meditações para todos os dias do ano” de Santo Afonso de Ligório.
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