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Numa pequena localidade da Itália a graça faz germinar, em substituição a um velho culto pagão, uma terna devoção a Nossa Senhora sob o título do Bom Conselho.
Séculos mais tarde, um reino valoroso se encontra em triste declínio.
Declínio político e militar, por certo, mas também e principalmente declínio religioso.
Os católicos albaneses oferecem ao Islã a resistência ineficaz de um povo tornado tíbio.
Com isto, a vitória das hostes de Mafoma resulta inevitável.
Dois homens fiéis à Virgem se sentem perplexos, e vão ao santuário nacional da Albânia, em Scútari, a fim de implorar à imagem dEla que ali se venera um bom conselho:
O que fazer, permanecer na nação dominada pelos turcos, a fim de ali servir à Santíssima Virgem;
Ou deixar a pátria rumo a plagas em que possam viver sem grave perigo para a fé?
O bom conselho implorado lhes foi concedido sob a forma mais estupenda e inesperada.
A imagem deixa Scútari, e em pós dela partem os nossos dois albaneses.
A confirmar a autenticidade e o acerto deste conselho;
A sagrada Efígie baixa maravilhosamente no local de Genazzano onde se cultuava a Mãe do Bom Conselho.
Daí para diante, a história da Madona transladada de Scútari não foi senão uma sucessão de triunfos.
Quer em Genazzano, quer em outras cidades onde reproduções do quadro albanês foram expostas à veneração dos fiéis;
As graças de toda ordem se multiplicaram incontáveis.
E entre elas o atendimento freqüente das pessoas que, desejosas de um bom conselho, acorrem à Virgem, implorando a graça de uma luz para sua perplexidade.
Entre essas imagens, importa lembrar a que se encontra na cidade de São Paulo;
Na imponente Capela do Colégio São Luís, dos RR. PP. Jesuítas.
Antes de prosseguir convém salientar uma peculiaridade da devoção a Nossa Senhora de Genazzano.
Não é possível, com efeito, tratar dEla sem pôr em realce uma de suas peculiaridades mais importantes.
Muitas das pessoas que recorrem à Virgem diante da Imagem de Genazzano ou de réplicas desta;
Têm afirmado que o semblante da Senhora lhes “responde” às orações.
Não que o faça falando ou movendo-se, o que constituiria manifesto milagre.
Mas, sem nenhuma alteração propriamente miraculosa;
Algo do olhar e da expressão da Divina Mãe toma caráter particularmente vivo e impregnado de maternal alegria quando o fiel é atendido.
E é à multiplicação deste favor que em boa parte se deve a expansão universal da devoção a Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano.
Qual a atualidade desta devoção?
Sem dúvida, em nossa época tão aflita e conturbada, incontáveis são as almas que precisam, a este ou aquele título, de um bom conselho.
Nada de melhor podem elas fazer do que implorar o auxílio dAquela que a Santa Igreja, na Ladainha lauretana, invoca como Mater Boni Consilii.
Entretanto, cumpre ponderar que um conselho é de tanto maior valia quanto maior for a importância do assunto sobre o qual versa.
Por isto, supremamente importantes são para cada um os conselhos necessários para conhecer a respeito de si mesmo;
Dentro da tempestade de trevas do século XX – os desígnios de Nossa Senhora e os meios aptos para os realizar.
Aqui está um primeiro título para se afirmar a particular atualidade da devoção a Nossa Senhora de Genazzano;
Neste século que poderá passar para a História como o século da confusão.
Todavia, se alargarmos nossos horizontes para além da esfera individual;
E considerarmos numa perspectiva histórica a crise pela qual hoje passa a Igreja de Deus;
Não poderemos deixar de ponderar que ainda aqui a humanidade precisa como nunca de um bom conselho da Virgem das Virgens.
Assim, a opção para o mundo moderno é entre um porvir tenebroso, feito das últimas capitulações ante os extremos do erro e do mal;
E o abraçar entusiástico da plenitude da verdade e do bem.
Como mover a humanidade – de tal maneira atolada no processo histórico que a vem impelindo há tantos séculos;
A empreender a trajetória do filho pródigo rumo à casa paterna?
Sem um possante auxílio da graça, a falar no interior de incontáveis almas, isto não se pode conseguir.
Esse bom conselho a ser proferido no íntimo de cada coração para a salvação da humanidade, que melhor modo há de obtê-lo;
Senão implorando à Mãe do Bom Conselho para que, por uma graça nova, converta o bárbaro super-civilizado do século XX?
Só assim poderá este, à maneira do bárbaro sub-civilizado do século V, “queimar o que adorou e adorar o que queimou”.
E só assim poderá ter origem uma nova e ainda mais esplendorosa era de fé.
Esse é o bom conselho por excelência que os devotos de Maria devem pedir para si e para todos os homens nos dias que correm.
Parecerá talvez excessivo, a alguns leitores, que afirmemos ser este o século mais confuso da História.
No entanto, entre as múltiplas provas que a asserção comporta, é mister sobrelevar uma, a qual por si só justifica nossa afirmação.
Com efeito, seria difícil contestar que em algum tempo a confusão tenha sido maior nos meios católicos, do que no nosso.
Por certo, houve épocas em que a Igreja pareceu afetada por uma confusão mais grave.
Assim, as crises ao longo das quais os antipapas dilaceravam o Corpo Místico de Cristo;
Ou a luta das Investiduras que cindiu durante muito tempo o Ocidente cristão, lançando o Sacro Império contra o Papado.
Mas essas crises, ou eram mais de rivalidades pessoais que de princípios;
Ou punham em jogo apenas alguns princípios, se bem que básicos, da doutrina católica.
Presentemente, pelo contrário, não há erro;
Por mais crasso e rotundo, que não procure revestir-se de uma roupagem mais ou menos nova para obter livre trânsito nos ambientes católicos.
Pode-se dizer que assistimos em nosso próprio meio ao desfile de todos os erros, faceiramente disfarçados com pele de ovelha;
A solicitar a adesão de católicos incautos, superficiais, ou pouco amorosos de nossa Fé.
E, ante essas manobras quantas concessões, quanta falsa prudência, quanto criminoso namoriscar com a heterodoxia!
Nesta atmosfera, que já sugeriu a Paulo VI algumas graves advertências, a confusão é tão grande;
Que em não poucos círculos os católicos zelosos da ortodoxia são mal vistos e suspeitos;
Enquanto a turbamulta das vítimas dos erros embuçados se porta com a desenvoltura de quem fosse dono da casa!
Traçado este quadro, pensamos com afeto e com apreensão nas muitas almas modestas a quem as circunstâncias da vida não permitem maiores estudos religiosos.
Quão necessário lhes é o bom conselho de Nossa Senhora, para vencer a confusão!
A Igreja pode dizer de Si, analogicamente, as palavras de Nosso Senhor:
“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo.14,6).
Se nos ambientes católicos sopra a confusão, é inevitável que esta se estenda por todos os outros domínios da existência.
E na Igreja não pode haver confusão pior do que a dos princípios.
É natural, pois, que afirmemos ser nosso século o século da confusão, e que de nossos lábios se evole para a Mãe de Deus uma súplica:
Nossa Senhora do Bom Conselho, rogai por nós, e ajudai-nos a permanecer fiéis ao Caminho, à Verdade e à Vida;
Em meio a tanto extravio, a tanto embuste e a tanta morte.
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Fonte: Revista Catolicismo
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