[O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.]
Bem, então a pergunta é esta: como é que nós olhamos o sofrimento de nossa vida? como olhamos a dor que nossa santificação causa? Quer dizer, nós combatermos os nossos maus impulsos que, em conseqüência do pecado original e das nossas más ações, vêm fundo de dentro de nós?
Como fazemos não só para reprimir os maus impulsos, mas para praticar as virtudes opostas a esses maus impulsos? Como fazemos para aceitar nossas limitações?
Ora limitações de inteligência, ora limitações físicas de toda ordem, ora limitações sociais, falta de posição, falta de fortuna, falta de graça – a gente fica sem graça – com os quais os outros não gostam de ter relações, todo mundo passa perto e, quando muito, cumprimenta…
Como é que a pessoa aceita o fato de ser sem graça? Tudo isto faz parte da cruz do homem. Como é que aceita aquele que é muito engraçado e que todo mundo procura para se divertir com ele — e que deve resistir a essa solicitação da palhaçada — como é que ele aceita a necessidade de resistir a essa solicitação?
Para tudo isto, cada um tem a sua cruz. E aqui é que nos está ensinado, pelo exemplo do Nosso Senhor Jesus Cristo, o papel fundamental do sofrimento. Se não foi possível ao Padre Eterno atender a oração dEle, uma das razões é porque Ele quis que os homens tivessem esse exemplo.
Os senhores querem ver qual é o resultado? Quando Napoleão estava na fase ascensional de sua carreira, antes ainda de se proclamar imperador, alguém — um bajulador — dirigiu-se a ele e disse o seguinte: “General Bonaparte, por que é que não vos fazeis proclamar Deus?”
Porque os antigos heróis romanos, e os da antiguidade em geral, quando se envaideciam muito, acabavam sendo divinizados. Ele olhou para o sujeito de frente e deu esta resposta esmagadora:
“Depois de Jesus Cristo, só há um jeito de alguém ser tomado a sério como Deus: é subir no alto do Calvário fazendo-se crucificar. Eu não estou disposto a isto”.
E é mesmo! Quer dizer, o exemplo calou tão fundo que nunca mais nenhum candidato à divindade foi tomado a sério; porque só a Cruz é séria; e só são verdadeiramente sérios os homens que querem carregar sua cruz, esta é a coisa.
Aí está o quanto custou a Nosso Senhor esse exemplo! E como, portanto, nós devemos amar a nossa cruz e nós devemos meditar sobre este ponto. Aí está quanto Ele pagou para que, por exemplo, no dia 30 de março de 1972, neste pequeno auditório nós pudéssemos meditar isto juntos e cada um sair daqui mais resolvido a combater o seu bom combate. Quer dizer, a carregar sua cruz.
Continua, então:
“Voltando aos discípulos encontrou-os dormindo, acabrunhados pela tristeza. E disse a Pedro Simão: tu dormes! Assim, não pudeste velar uma hora comigo?! Vigiai e orai para não entrardes em tentação, porque o espírito está pronto, mas a carne é fraca.”
Os senhores estão vendo aqui já o abandono que se torna mais claro. A tristeza é tão grande que eles dormiram.
Alguém poderá dizer: Mas, Dr. Plinio, como o senhor é severo! O senhor não nota que eles estavam tristes? O senhor parece achar que eles estavam indiferentes! O Evangelho diz que eles estavam tristes. Diz que estavam tão tristes que até dormiram!
É uma forma de fugir. Exatamente uma forma de fugir da dor é esta: está tão triste, que eu vou tirar uma soneca, eu vou me anestesiar para esta dor.
O fato de eles terem podido dormir enquanto Nosso Senhor sofria, já indica certo grau de indiferença, o fato de eles terem aceitado o sono para se evadir, quando Ele pediu: Vigiai, ficai acordados! Ele pediu isso, Ele pediu esse consolo. Esse consolo Lhe foi negado. E Ele então compreendeu mais ainda na Sua humanidade a Sua imensa solidão.
Depois, o conselho tão útil para nós: “Vigiai e orai para não entrardes em tentação, porque o espírito está pronto e a carne é fraca!” Belas ideias, belos projetos, é fácil a gente conceber…
Vem depois a carne, quer dizer, a parte ruim nossa que precisa ser vencida; e daí como é que é? É uma beleza, por exemplo, a gente ir para uma Cruzada, não é? A gente se imagina um cruzado medieval, montado… não sei… eu imagino segundo o gosto de qualquer um, num lindo corcel branco, com uma armadura rutilante que brilha ao sol, com um capacete esplêndido, com trombetas que soam e a gente que sai para o combate… É uma verdadeira maravilha, eu compreendo isso bem.
O espírito é pronto. Pouco depois, o sol começa a aquecer a armadura e ela começa a pesar, e a gente começa a sentir a poeira que entra, e a gente começa a sentir cócega no braço ou no peito e não pode coçar porque a armadura está revestindo o peito; e a gente tem que estar pronto para o combate daqui a pouco.
E aí começa o prosaísmo: por debaixo do elmo a gente sente o suor que escorre; e o suor atrapalha; a gente teria a vontade de tirar o elmo e passar um lenço; depois tinha a vontade de não pôr o elmo, o tão lindo elmo que a gente contemplara na noite de vigília de guardas na catedral, achando: “que colosso vou ficar eu com este elmo!” Nós não aguentamos uma coceira! É a fraqueza da carne depois da boa disposição do espírito, não é?
(Acaba a energia elétrica e a reunião é encerrada.)
1 Comentário
muito bom perfeto