Depois que o Espírito Santo desceu em forma de línguas de fogo sobre os Apóstolos, no dia de Pentecostes, São Pedro saiu do Cenáculo e perante uma grande multidão, falou com tanto ardor, unção e sabedoria que cinco mil pessoas, de uma só vez, pediram o santo batismo.
Certa jovem de Jerusalém, filha de pais humildes e pobres, converteu-se entre os primeiros cinco mil fiéis que receberam o Batismo. Aconteceu que pouco depois, esta moça, estando a cuidar dos trabalhos domésticos, ficou doente.
E assim continuou por muitos dias, sem melhorar. Por esta causa, como costuma acontecer a outras almas, foi resfriando o primeiro fervor e descuidando-se, cometeu algumas culpas e perdeu a graça batismal.
Lúcifer, porém, não se descuidava, e sedento de devorar alguma daquelas almas, atacou a esta, com suma crueldade. Permitiu-o Deus para maior glória sua e de Maria Santíssima.
O demônio apareceu à jovem, na forma de outra mulher, para enganá-la. E, entre muitos afagos, aconselhou-a que se afastasse daquela gente que pregava o Crucificado e não lhes desse crédito, porque a enganavam em tudo que diziam.
Se não os deixasse, seria castigada pelos sacerdotes e juízes, assim como tinham crucificado o Mestre daquela nova e falsa lei que lhe haviam ensinado. Com esta atitude ficaria boa, e depois viveria contente e sem perigo.
Respondeu a moça: “Farei o que me dizes, mas com aquela Senhora, que vi com aqueles homens e mulheres, e me pareceu tão linda e boa, como devo proceder? Amo-a muito”.
Replicou-lhe o demônio: Essa é a pior de todas, a primeira que deves desobedecer, e o mais importante para ti é fugir de seus enganos.
Este mortal veneno da antiga serpente infeccionou a alma daquela ingênua moça. E em vez de melhorar, sua saúde foi piorando, aproximando-a da morte do corpo e da alma.
Um dos setenta e dois discípulos que andavam visitando os fiéis, soube da grave enfermidade daquela moça. O discípulo entrou para vê-la e animá-la com santas palavras. A doente, porém, estava tão dominada pelos demônios, que não quis recebê-lo, nem ouvi-lo. E enquanto ele lhe falava, virava-se e cobria-se para não escutar.
Reconheceu o discípulo, por aqueles sinais, a perdição da enferma, ainda que ignorasse a causa. Imediatamente foi comunicar ao apóstolo São João que, sem demora, foi visitar a moça, admoestando-a com palavras de vida eterna. Aconteceu-lhe o mesmo que ao discípulo. A ambos resistiu com obstinação.
O apóstolo viu, ao chegar, muitas legiões de demônios rodeando a enferma. Fugiram, mas não cessavam de forcejar para voltar e lhe insuflar as mentiras de que já estava cheia.
O anjo também não é atendido
Vendo sua obstinação, o apóstolo, muito aflito, foi dar notícia à Maria Santíssima e pedir-lhe auxílio. A grande Rainha dirigiu sua visão interior à enferma e conheceu o infeliz e perigoso estado daquela alma, e como o inimigo a tinha dominado.
Compadeceu-se a piedosa Mãe daquela alma, enganada pelo infernal e sanguinário lobo. E prostrada em terra rezou e pediu a conversão da mísera jovem.
O Senhor, porém, nada respondeu a este pedido de sua Mãe Santíssima, não porque seus rogos não lhe fossem agradáveis, mas por isso mesmo. Fez-se de surdo para continuar ouvindo a seus clamores, e para nos mostrar qual era a caridade e prudência da grande Mestra e Mãe, nas ocasiões em que precisava delas usar.
Nem por isto Ela desistiu, nem esfriou sua caridade ardentíssima, entendendo que o silêncio do Senhor não era motivo para faltar a seu oficio de Mãe, enquanto não sabia expressamente a vontade divina. Com esta prudência orientou-se naquele caso.
Ordenou a um de seus santos anjos fosse ajudar aquela alma; que a defendesse dos demônios e a exortasse com santas inspirações a deixar seus enganos, arrependendo-se de seus pecados e apostasia.
Desempenhou o Anjo esta missão, com a rapidez com que obedecem à vontade do Altíssimo. Não obstante, com todas suas diligências angélicas, foi incapaz de convertê-la.
A semelhante estado pode chegar uma alma que se entrega ao demônio!
Maria Santíssima reza pela pecadora
A piedosa Mãe muito se afligiu com isto. Porém, sendo Mãe do amor, da ciência e da santa esperança, não pôde perder o que para todos nós mereceu e ensinou. Prostrou-se em terra e disse:
“Senhor meu e Deus de misericórdia, aqui estou; castigai-me, afligi-me a mim, mas não veja Eu que esta alma, marcada, pelo batismo, com as primícias de vosso sangue, enganada pela serpente, torne-se despojo da sua maldade e do ódio que tem contra vossos fiéis”.
A Virgem, pessoalmente, socorre a pecadora
Maria Santíssima permaneceu algum tempo nesta oração, mas para provar seu generoso coração e caridade para com o próximo, o Senhor não lhe respondeu. Considerou a prudentíssima Virgem o que sucedeu ao profeta Eliseu para ressuscitar o filho da Sunamita, sua hospedeira.
Não bastou para lhe dar vida, o báculo do profeta aplicado por seu discípulo Giesi. Foi necessário que Eliseu, pessoalmente, tocasse o defunto, se medisse e ajustasse a ele, para assim lhe restituir a vida.
O anjo e o apóstolo não foram capazes de livrar do pecado e do engano de Satanás aquela miserável mulher. Resolveu, pois, a grande Senhora ir pessoalmente socorrê-la. Levantou-se para sair, e ir com São João à casa da doente, que era um pouco longe do Cenáculo.
Chegando à casa da doente, encontraram-na sem fala, abandonada por todos e só os demônios a rodeavam, esperando que expirasse para levar-lhe a alma.
Maria Santíssima afugenta os demônios
No instante em que a Rainha dos Anjos chegou, os espíritos malignos fugiram como relâmpagos, atropelando-se uns aos outros com terríveis rugidos. A grande Senhora lhes ordenou descer ao abismo, até que lhes permitisse dele sair. Sem poderem lhe resistir, assim fizeram.
A Mãe piedosíssima aproximou-se da enferma, chamou-a pelo nome, tomou-lhe a mão e lhe dirigiu confortadoras palavras, que a reanimaram e fizeram voltar a si.
Respondeu à Maria Santíssima: “Minha Senhora, uma mulher que me visitou, persuadiu-me que os discípulos de Jesus me enganavam, e que me separasse deles e de Vós, porque me aconteceria grande mal se abraçasse a lei que me ensinavam”.
Replicou a Santíssima Virgem: Minha filha, essa que te pareceu mulher, era o demônio, teu inimigo. Venho dar-te, da parte do Altíssimo, a vida eterna. Volta, pois, à verdadeira fé que antes recebeste e confessa-o, de todo o coração, por teu verdadeiro Deus e Redentor que, pela tua salvação e de todo o mundo, morreu na cruz. Adora-o, invoca-o e pede-lhe perdão pelos teus pecados”.
Conversão e morte da pecadora
Tudo isso – respondeu a enferma – eu acreditava, antes de me dizerem que Ele é muito mau e que me castigarão se n’Ele crer. Replicou-lhe a divina Mestra: “não temas esse engano, mas considere que o castigo que se deves temer são as penas do inferno, para onde te querem levar os demônios. Estás muito perto da morte e podes alcançar a salvação que te ofereço, se me der crédito, livrando-te do fogo eterno que te ameaça”.
Com esta exortação e a graça que Maria Santíssima lhe obteve, a pobrezinha desatou em pranto de arrependimento, e lhe pediu protegê-la daquele perigo, estando pronta a fazer tudo o que lhe mandasse.
A grande Senhora a fez professar a fé em Cristo, Nosso Senhor, e fazer um ato de contrição para se confessar e receber os Sacramentos, chamando os Apóstolos para os administrar.
A feliz mulher, repetindo atos de contrição e amor, invocando a Jesus e à sua Mãe, que a assistia, expirou nas mãos de sua Protetora, que com ela permanecera duas horas, para que o demônio não voltasse a enganá-la.
Tão eficaz foi este socorro, que não só a converteu ao caminho da vida eterna, mas ainda lhe alcançou tantos auxílios que aquela feliz alma partiu livre de culpa e de pena. Enviou-a ao céu por alguns dos doze anjos, que traziam no peito a divisa da Redenção, com palmas e coroas nas mãos, para socorrer os devotos de sua grande Rainha.
FONTE: Tradução (livre) de America needs Fatima