Por que apenas São Mateus e São Lucas nos contam o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo? O que significa que a Virgem Maria, de Nazaré, é Mãe de Deus? Ainda: Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu mesmo no dia 25 de dezembro?
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Respostas a perguntas como essas foram dadas pelo biblista franciscano da França, Frédéric Manns, num livro sobre os assim chamados “Evangelhos da Infância”. O título original do livro é “Que sait-on de Marie et de la nativité” (O que sabemos de Maria e do Natal – Bayard Presse, Paris 2006).
O texto trata de questões históricas e exegéticas ligadas ao nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. O autor, professor de Bíblia em Jerusalém, teve a brilhante ideia de terminar o livro com um capítulo conclusivo onde resume em 30 perguntas as principais questões sobre o nascimento que celebramos no dia 25 de dezembro. Nesse artigo traduzimos trechos do capítulo conclusivo.
1. A narração sobre o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo aparecem em São Mateus e São Lucas. Por que não estão presentes em São Marcos e São João?
Os evangelhos são sobretudo o anúncio da “boa nova da salvação” que se manifestou na vida, paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não são biografias no sentido moderno do termo.
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São Mateus, que escreve para os judeus, conhecia as narrações da infância de Moisés que a Sinagoga meditava. Já São Lucas prefere seguir o modelo da infância do Profeta Samuel.
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O Evangelho de São Marcos deixa transparecer uma etapa precedente da tradição na qual as palavras e as ações de Nosso Senhor Jesus Cristo ainda não eram transmitidas com uma narração organizada.
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O Evangelho de São João, provavelmente por causa da sua profunda teologia e a linguagem simbólica, não faz referência sobre a infância de Nosso Senhor Jesus Cristo. Apenas São Mateus e São Lucas acrescentaram uma introdução que normalmente se chama “evangelho da infância”.
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A maravilha de um Deus que tinha sofrido transparecia já durante a sua infância, que invoca a rejeição do menino Deus por parte das autoridades orgulhosas e a sua aceitação por parte das pessoas humildes, ricas e pobres.
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Os pintores dos ícones, que têm ideias geniais, representam a manjedoura e o túmulo do mesmo modo. Não é possível sublinhar de modo mais original esta inclusão na história da redenção.
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São Mateus e São Lucas fizeram questão de apresentar o nascimento do Messias, que não nasceu de São José, filho de Davi. Eles vêem na origem de Cristo uma nova criação e a chegada dos tempos anunciados pelos profetas. O Espírito de Deus está presente, desde o início, em Nosso Senhor Jesus Cristo, princípio da criação nova.
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2. Por que há aspectos diferentes do nascimento de Cristo contado por São Mateus daquela descrição feita por São Lucas?
Os dois evangelistas visam destinatários diferentes e tomam em consideração a mentalidade que eles têm. Além disso, essas narrações anunciam os grandes temas que serão tratados durante os dois evangelhos.
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Há muito tempo os exegetas notaram que um refrão aparece 5 vezes no Evangelho de São Mateus: “quando Nosso Senhor Jesus Cristo disse essas palavras” (7,28; 11,1; 13,53; 19,1; 26,1). Esse refrão, considerado um elemento que dá forma ao evangelho, permite dividir o Evangelho em 5 partes.
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Não surpreende que a sua narração da infância seja também dividida em 5 cenas que começam com um genitivo absoluto: a genealogia, a concepção milagrosa, a fuga para o Egito, o massacre do inocentes e a volta do Egito.
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Cinco citações do Antigo Testamento aparecem na narração. Às cinco partes do evangelho foram acrescentadas as narrações da paixão e ressurreição e aquela da infância, de modo que pudessem formar um conjunto harmônico de 7 partes.
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As 5 citações do Antigo Testamento nos dois primeiros capítulos de São Mateus contêm, todas elas, a palavra “filho”. A narração termina dizendo que a Sagrada Família foi morar na Galiléia. Brevemente, o que acontecerá durante todo o Evangelho é já presente nos primeiros capítulos: rejeitado pelos chefes do povo, Nosso Senhor Jesus Cristo vai à Galiléia dos gentios.
Nessas narrações é utilizado o simbolismo dos números.
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Na genealogia de Nosso Senhor Jesus Cristo, São Lucas começa por Adão, enquanto que São Mateus inicia com Abraão. Porém os estudiosos notaram que as iniciais dos 3 nomes citados por São Mateus (Mt 1,1) recordam igualmente a Adão (Abraão, Davi e Messias). É a técnica judaica do notaricon, que São Mateus usa.
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São Mateus divide a sua genealogia em três grupos de 14 gerações e recorre ao valor numérico (ghematria) da palavra Davi, que é igual a 14. O total dos antecedentes de Nosso Senhor Jesus Cristo em 3 séries de 14 obriga São Mateus a omitir 3 reis entre Jorão e Ozias, e a contar Jeconia como se fosse dois, pois a palavra grega pode traduzir ao mesmo tempo as palavras Joiaquim e Joiakim.Clique nos cartões acima e escolha um (ou todos) para enviar a quem você estima e quer desejar um Santo Natal
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São Lucas, que não fala em números, conta de qualquer forma 77 descendentes na genealogia de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois o 7 é o símbolo da perfeição.
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A profetisa Ana alcançou esta perfeição, pois tinha 84 anos (12 x 7). Além do mais, São Lucas sublinha a cronologia da infância em 70 semanas.
Entre a concepção de São João Batista e a apresentação no Templo, é necessário acrescentar os 6 meses da gravidez de Isabel, os 9 meses da gravidez da Santíssima Virgem e os 40 dias depois do nascimento.
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O tema das 70 semanas recorda Daniel (9,24), que prevê a consagração do Messias em Jerusalém. Para os judeus acostumados às técnicas midráchicas, Nosso Senhor Jesus Cristo é o ungido de Deus, o Messias.
Continua…
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Estudo de Luiz da Rosa transcrito de http://curiosidadescatolicas.blogspot.com.br/