Em 5 de janeiro, a Folha de São Paulo publicou, na coluna de Rubem Alves a seguinte texto de Octávio Paz intitulado: Os dois tempos
“Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim; todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dá para outro mundo, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tanto e tão esmagadoramente reais.
Não, isso que estamos vendo pela primeira vez já havíamos visto antes. Em algum lugar, no qual nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim. Parece que nos recordamos e quereríamos voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Um sopro nos golpeia a fronte. Estamos encantados, suspensos no meio da tarde imóvel. Adivinhamos que somos de outro mundo”.
Confesso que ao ler o texto acima me senti consolado. Há gente hoje em dia que capta essa mensagem especial que são os tesouros inestimáveis da tradição.
É ou não é verdade que sem tradição não há vida, não há sonho, não há poesia? Querem a prova mais palpável disso? Basta postar-se, por exemplo, numa mesinha de bar na calçada da Av. Paulista e ficar analisando as pessoas que passam.Que vazio! Que frieza! Que alienação! Corre corre, interesses materiais, aflições, angústias depressões… É comum.
“Graças” à televisão, à internet, ao marketing etc. as pessoas se esqueceram que têm alma. Esquecendo-se que têm alma, desligaram-se da maior fonte de alegria e de felicidade que, paradoxo, levam dentro de si.
O sensual busca a felicidade na exacerbação da sensualidade, o materialista no acúmulo de dinheiro, o esquerdista nas teorias atéias igualitárias, o padre moderno no social abandonando o espiritual e daí para fora. Todos fracassam.
A felicidade está em saber ler a mensagem autêntica que as coisas portadoras de valores nos revelam e viver em consonância com tais valores.
Não é supérfluo lembrar que os valores autênticos são os valores divinos, reflexos da infinitude de Deus, de Sua graça, de Seu poder, de Seu direito de ser conhecido, amado e servido por todos os homens Suas criaturas.
O que não é isso, diz Santa Teresa: “…não passa de ilusão e aflição de espírito”.
Fonte: Resistir, na Fé!