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Em duas pequenas vilas do Nordeste foram escritas com sangue gloriosas páginas da História pátria — páginas hoje censuradas ou pouco referidas nos livros didáticos.
Em meados do século XVII, parte do Nordeste brasileiro sofrera a invasão holandesa de discípulos de Lutero e Calvino.
Estes, além de se aproveitarem das nossas terras para se enriquecerem com o comércio, saqueavam o que encontravam de mais precioso nas regiões que dominavam.
Mais grave: profanavam nossas igrejas, praticavam atos sacrílegos, destroçando o que nelas havia de sagrado: imagens preciosas, sacrários, paramentos, objetos litúrgicos.
Não se contentando com tais profanações, incendiavam templos católicos, torturavam, encarceravam sacerdotes, violentavam mulheres.
Atos praticados para mostrar poder e aterrorizar as populações nordestinas que resistissem em se perverter ao protestantismo;
Cujo fundador, o heresiarca Lutero, por ocasião dos 500 anos de sua revolta, está sendo paradoxalmente comemorado até por altas autoridades da Igreja Católica, instituição que ele tanto odiou e quis inutilmente destruir.
Cerimônia de canonização na Praça de São Pedro
Foram canonizados os chamados “mártires de Cunhaú e Uruaçu” — nomes de duas localidades que hoje correspondem aos municípios de Canguaretama e São Gonçalo do Amarante, no interior do Rio Grande do Norte.
Aproximadamente 20 mil pessoas acompanharam no dia 15 de outubro último a cerimônia de canonização presidida pelo Papa Francisco na Praça de São Pedro, contando entre os assistentes cerca de 400 peregrinos brasileiros, a maioria do Nordeste.
Esses mártires, massacrados por invasores protestantes da Holanda — como narraremos abaixo —, podem ser agora venerados pelos católicos do mundo inteiro.
Na mesma cerimônia foram também canonizados dois meninos martirizados em 1527 no México;
Um sacerdote espanhol, falecido em 1925;
E um frade capuchinho da Itália, morto em 1739.
Martírio: morte violenta, por ódio à fé católica, aceita livremente
Os 30 brasileiros heróis da fé (dois sacerdotes e 28 leigos) haviam sido beatificados no dia 3 de março de 2000 pelo Papa João Paulo II.
Agora, com a canonização, 372 anos depois do martírio, foram elevados oficialmente à glória dos altares.
Eles são considerados mártires porque seus algozes calvinistas queriam que apostatassem — renegando a Religião católica e adotando a seita protestante, para, em seguida, ajudarem os invasores holandeses —, contudo preferiram morrer a renegar o catolicismo.
Três condições são necessárias ao martírio:
Morte violenta, “in odium fidei” (por ódio à fé católica) e livremente aceita.
“A atitude resignada dos fiéis ao suportar tantos suplícios, confissões explícitas de fé, orações e penitências feitas pelos moradores momentos antes do martírio;
São sinais mais do que evidentes de que, do ponto de vista das vítimas, foram preenchidos todos os requisitos teológicos para o martírio” — afirmou o Mons. Francisco de Assis Pereira (1935-2011), postulador da causa dos mártires de Cunhaú e Uruaçu.
Os fatos são comprovados por documentos disponíveis na Torre do Tombo (Portugal), no Museu de Ajax (Holanda) e em arquivos nacionais.
Segundo os documentos, somente nas duas mencionadas vilas, mais de 150 heroicos nordestinos derramaram o sangue em defesa da fé católica, embora apenas 30 deles — fidedignamente identificados e reconhecidos por historiadores — tenham sido canonizados.
“Protomártires do Brasil”
Esses 30 santos são também considerados “protomártires do Brasil”, por terem sido os primeiros brasileiros a alcançarem a palma do martírio em nossas terras.
O que se poderia objetar dizendo que quase um século antes havia ocorrido o martírio dos 40 religiosos da Companhia de Jesus, que viajavam em uma nau proveniente da Europa para esta “Terra de Santa Cruz”.
Conhecidos como os “40 Mártires do Brasil”, eles foram mortos num assalto, ocorrido no dia 15 de julho de 1570 próximo às Ilhas Canárias, perpetrado por navios de calvinistas franceses comandados pelo huguenote Jacques Sourie.
Esses sequazes de Calvino, ao tomarem conhecimento que se tratava de missionários católicos, executaram-nos.
Todos foram lançados ao mar, alguns já mortos, outros feridos.
Respondendo à objeção acima, podemos dizer que esses 40 mártires não eram brasileiros, pois 32 nasceram em Portugal e oito na Espanha.
Eram jovens entre 20 e 30 anos, pertencentes à Companhia de Jesus, que os destinara em 1570 às missões no Brasil.
Lideravam-nos o Pe. Inácio de Azevedo, S.J., e se compunham de dois sacerdotes, um diácono, 14 irmãos e 23 estudantes.
Eles foram beatificados em 11 de maio de 1854 pelo Bem-aventurado Papa Pio IX.
Como foi o martírio dos heróis da fé em Cunhaú e Uruaçu?
O dia 16 de julho de 1645, festividade de Nossa Senhora do Carmo, transcorria normalmente no vilarejo de Cunhaú, até o momento em que um judeu-alemão de nome Jacob Rabbi, atuando a serviço dos hereges holandeses, espalhou a notícia de que, após a Missa, os habitantes seriam informados de assuntos de importância para eles e para o Estado.
Então, a fim de assistirem à Missa de preceito e depois se inteirarem daquilo que seria anunciado, 70 fiéis se reuniram na capela de Nossa Senhora das Candeias, do Engenho de Cunhaú.
No meio da celebração, contudo, soldados e comerciantes holandeses, auxiliados por índios tapuias do Potengi pervertidos à religião de Lutero, trancaram as portas da capela e iniciaram um massacre.
O celebrante, Pe. André de Soveral — paulista de São Vicente e discípulo do Pe. Anchieta —, exortou os fiéis a se arrependerem de seus pecados, numa breve preparação para a morte e salvação das almas.
Os invasores trucidaram o idoso sacerdote e, em seguida, os demais foram passados à espada, com exceção de três homens que fugiram.
Um dos fiéis, Mateus Moreira, foi apunhalado e morreu testemunhando sua fé ao exclamar “Louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Seu coração foi arrancado pelas costas.
Dois meses e meio depois, em 2 de outubro de 1645, aproximadamente 80 católicos nordestinos foram torturados até a morte às margens do Rio Uruaçu, por não renunciarem a fé católica.
A crueldade foi ainda maior do que no massacre de Cunhaú.
Os fiéis foram cortados em pedaços, degolados, muitos tiveram olhos e línguas arrancados.
Os seguidores de Lutero, também contando com ajuda de índios tapuias, não pouparam sequer as crianças nos braços de suas mães, nem mesmo um bebê.
Nesse mesmo massacre foi torturado e morto o Pe. Ambrósio Francisco Ferro.
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Continua…
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Fonte: abim.inf.br
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Acenda uma vela em memória desses heróis!